Vinte livros com o melhor da literatura mundial sobre as lutas populares, a construção do socialismo e a guerra contra o nazifascismo. Páginas sensíveis e vivas revelando toda a dimensão humana das batalhas hercúleas das classes trabalhadoras e das classes e povos oprimidos contra toda sorte de inimigos. Aspectos praticamente desconhecidos do esforço dos povos revolucionários e seus partidos comunistas para livrarem a humanidade da exploração.
Esses eram os temas da Coleção Romances do Povo, publicada entre 1954 e 1956 pela Editorial Vitória*, principal editora do Partido Comunista do Brasil entre as décadas de 1940 e 1960.
A cargo da direção da coleção estava Jorge Amado, então um aclamado escritor membro do PCB, autor de importantes obras literárias sobre as lutas dos oprimidos no Brasil e dono de imenso prestígio no Movimento Comunista Internacional.
A coleção reuniu grandes autores soviéticos, além de romances da China, Índia, Brasil, Haiti, Portugal, USA e Alemanha.
A publicação cessou em 1956, com o livro Terra e sangue, do escritor soviético Mikhail Cholokhov, ainda quando já haviam sido anunciados outras cinco obras, incluindo mais uma brasileira, de Dalcídio Jurandir.
Há razões para crer que tal interrupção não foi por acaso, mas fruto da restauração capitalista na URSS após a morte de Stalin e o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). No mesmo ano a Editorial Vitória interrompeu a publicação das Obras Completas de Stalin no sexto volume, bem como reformulou toda linha editorial conforme o revisionismo moderno comandado por Kruschov traidor.
Cada livro da coleção merece um comentário, uma vez que são muito variados os assuntos tratados, a história dos países retratados, a psicologia e as relações humanas descritas. As histórias vão desde um puxador de riquixá na Índia à luta de uma comunidade camponesa por água no Haiti; de uma greve de ferroviários com participação decisiva de mulheres no Brasil à Ucrânia devastada pela blitzkrieg nazista; da luta dos escravos de Roma por liberdade à chegada do poder soviético a minorias nacionais no longínquo leste da União Soviética; da prisão e execução políticas de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti no USA aos percalços e triunfos da construção do socialismo na URSS; da luta contra o nazismo dentro da própria Alemanha à aplicação da linha do Partido Comunista nas áreas libertadas do vasto campo na China.
Como se vê, não há espaço na presente edição para comentar os livros, o que de maneira nenhuma pretende substituir sua leitura. Os livros hoje são raros, o que torna necessário sua digitalização e disponibilização na internet, tarefa ainda em aberto. Mesmo assim, ainda é possível encontrar alguns exemplares em sebos.
A Nova Democracia pretende publicar uma sequência de artigos sobre os principais livros da coleção. Antes, convém repassar o contexto político da época da interrupção de sua publicação.
O revisionismo moderno
Em 1956, a mudança na linha da editora acompanhou a do próprio PCB, que encontrou no conteúdo do XX Congresso do PCUS a justificativa para o revisionismo e o reformismo que já dominava sua direção e abraçou de corpo e alma as orientações de Moscou, particularmente a difamação de Stalin.
Na esteira do Relatório “Secreto” de Kruschov, Jorge Amado tornou-se um renegado. Excluiu de sua coleção a obra O Mundo da Paz (1951), relato de viagem do autor pela União Soviética e pelas democracias populares do Leste Europeu, porque o livro continha elogios às realizações de Stalin na direção da URSS e da guerra contra a besta nazifascista. Posteriormente, Jorge Amado tornou-se um degenerado, sendo seu último livro, Navegação de cabotagem, um grande exemplo de arrivismo contra seus principais apoiadores, a pretexto de revelar episódios de “bastidores”, lançando mais calúnias sobre personalidades do movimento comunista brasileiro e internacional.
Caminho semelhante percorreram autores soviéticos como Cholokhov e Ehremburg, que passaram a também difamar a direção de Stalin e saudar o revisionismo kruchovista.
A luta no movimento comunista brasileiro e internacional, entretanto, estava mais acirrada do que nunca. Crescia a influência da experiência da Revolução Chinesa, que lançava luz sobre o caminho das revoluções nas colônias e semicolônias. O final da década de 1950 e a de 1960 assistiu a uma enorme batalha ideológica entre revolução e contrarrevolução, materializada no debate entre China e URSS, respectivamente, e na luta interna nos partidos comunistas, que não raras vezes se cindiram e deram origem a correntes que se aprofundaram no estudo e aplicação do maoísmo, lutando contra o revisionismo e reconstruindo partidos comunistas revolucionários, mesmo que por breves períodos, caso do PCdoB em 1962, que já no final da década de 1970, com a liquidação da parte mais combativa de sua direção na Guerrilha do Araguaia e na Chacina da Lapa, se entregou à traição e ao reformismo. Entretanto, alguns partidos conduzem hoje os mais importantes processos revolucionários, como as guerras populares no Peru, na Índia e nas Filipinas, mantendo altas as bandeiras da revolução, de uma nova democracia, do socialismo e do comunismo.
Toda a coleção
1 - Um homem de verdade - Boris Polevoi – soviético
2 - Assim foi temperado o aço - Nikolai Ostrovski – soviético
3 - A lã e a neve - Ferreira de Castro – português
4 - O grande norte - Tikhon Siomuchkin – soviético
5 - Os donos do orvalho - Jacques Roumain – haitiano
6 - Tchapaiev - Dimitri Furmanov – soviético
7 - A colheita - Galina Nikolaieva – soviético
8 - A tempestade vol. 1 - Ilya Ehremburg – soviético
9 - A tempestade vol. 2 - Ilya Ehremburg – soviético
10 - Espártaco - Howard Fast – estadunidense
11 - A hora próxima - Alina Paim – brasileiro
12 - A felicidade - Piotr Pavlenko – soviético
13 - A estrada de Volokolamsk - Aleksander Bek – soviético
14 - A tragédia de Sacco e Vanzetti - Howard Fast – estadunidense
15 - Primeiras alegrias - Konstantin Fedin – soviético
16 - A torrente de ferro - Alexandr Serafimovitch – soviético
17 - Sol sobre o rio Sangkan - Ting Ling – chinês
18 - Coolie - Mulk Raj Anand – indiano
19 - Os mortos permanecem jovens - Anna Seghers – alemão
20 - Terra e sangue - Mikhail Cholokhov – soviético
_______________
Notas