
Após a violência do Estado, resta a dor das famílias das vítimas e a luta por justiça
Na noite do dia 9 de março, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro, assassinaram o menino Caio Daniel da Silva Lima, de 14 anos. Caio brincava no Campo da Esperança, na localidade Vila Turismo, ao lado de sua casa, quando foi atingido por tiros disparados por PMs do outro lado do rio que corta a comunidade. Ele foi socorrido pela própria mãe com a ajuda de moradores, mas morreu a caminho do hospital.
O primo de Caio, Erik Cardoso de Aquino, 19, foi ferido na mesma ocasião, quando teve sua mão dilacerada por um dos disparos de fuzil. O jovem também foi levado para o Hospital Salgado Filho, onde foi submetido a uma cirurgia. Depois do crime, policiais fugiram e deixaram os dois jovens agonizando à espera do socorro, que ficou a cargo dos próprios moradores que testemunharam a ação covarde dos PMs. Para a surpresa da mãe de Erik, a dona de casa Rosana Cardoso de Aquino, seu filho foi algemado à maca do hospital e enquadrado nos crimes de associação ao tráfico, porte de arma e resistência à prisão.
Acompanhada da ativista e pedagoga Ana Paula Oliveira — uma reconhecida Mãe de Manguinhos que também teve seu filho assassinado por PMs da UPP em 2014 —, a equipe de reportagem de AND foi até lá e conversou com as mães de Erik e Caio. Muito abaladas, elas descreveram os momentos de pânico que viveram quando receberam a notícia de que seus filhos haviam sido baleados.
— Eu estava dentro de casa quando ouvi os tiros. Eu coloquei a mão no coração e pensei: ‘Meu filho!’. Não demorou um minuto e uma menina entrou na minha casa dizendo que o Daniel tinha sido baleado e um outro menino estava com a mão pendurada. Esse menino era o meu sobrinho. Quando eu saí pelo beco na Beira-Rio e cheguei no local, eles [PMs] ainda deram mais três tiros na minha direção. Eu gritei ‘continua atirando! Já mataram o meu filho. Podem me matar também’. Foi nesse momento que eles pararam de disparar. Eles fugiram e eu fiquei sozinha gritando por socorro. Um senhor abençoado veio com o seu Fusca e levou meu filho e meu sobrinho para o hospital, mas para o meu filho não havia mais salvação — conta a dona de casa Kelly Cristina Pereira, conhecida por moradores pelo apelido de “Fofa”.