No dia 5 de maio, o Coletivo Fala Akari, que denuncia a ação covarde da polícia no local, realizou uma audiência comunitária com moradores de favelas que tiveram seus parentes assassinados pelo velho Estado, lideranças de outras favelas, intelectuais e integrantes de organizações que lutam pelos direitos do povo.
Audiência comunitária do Acari, 05/05/2017
Em 16 de junho de 2010, foi criado o 41º Batalhão de Polícia Militar (BPM) no Rio de Janeiro. Responsável pelas áreas dos Complexos de Acari, da Pedreira e do Chapadão, o 41º BPM não demorou para se tornar o batalhão que mais mata nas favelas do Rio.
Somente nos últimos quatro anos, o crescimento no número de assassinatos praticados pelo 41º é assustador. Em 2013, foram 51 casos em 12 meses, numa média de pouco mais de quatro mortes por mês. No ano seguinte, 2014, foram 69 pessoas mortas; 71 vítimas em 2015 e 117 em 2016, quando a média mensal chegou a quase dez civis mortos por mês.
Na audiência do dia 5, o Coletivo mostrou números que demonstram o terror vivido por moradores nas mãos do 41º batalhão, uma representação maximizada do extermínio da juventude levado a cabo por esse Estado podre, corrupto e falido nas favelas do Rio de Janeiro e de todo o Brasil.
Mãe de Maria Eduarda, jovem assassinada no Acari
— Vai fazer sete anos que o 41º batalhão existe e ele já é o batalhão mais letal do Rio de Janeiro. A favela de Acari é, sem dúvidas, a favela que mais sofre com isso. Em 2014 a taxa de homicídios por 100 mil habitantes em todo o estado de São Paulo foi de 10,2. Somente o 41º BPM em sua área de atuação conseguiu superar essa taxa com um registro de 12,8 homicídios para cada 100 mil habitantes. De acordo com os aplicativos “Fogo Cruzado” e “Nós por Nós”, a favela de Acari ocupa a terceira colocação dentre as favelas com o maior número de tiroteios — apontou a integrante do Coletivo Fala Akari, Buba Aguiar.
No local estiveram presentes vários familiares de vítimas da violência do velho Estado, entre eles, a dona de casa Rosilene Ferreira, mãe da menina Maria Eduarda, de 13 anos, assassinada pela polícia no início de abril dentro da Escola Estadual Daniel Pizza, onde ela estudava.
— Os policiais mataram a minha filha com apenas 13 aninhos. Uma criança que só tinha tamanho. Eu acordava e já ia para a cozinha preparar o mingau dela. Ela dormia e acordava comigo todos os dias. Os policiais também executaram dois rapazes nesse mesmo dia em que mataram a minha filha. Todos vocês viram as imagens na televisão. Eram duas vidas e a PM não tinha direito de fazer o que fez. Era gente. Era humano. Dentro do colégio, com a minha filha já caída no chão, os professores disseram que os policiais continuaram atirando. Eles não podem entrar na favela dando tiro, tirando as vidas das pessoas, matando as crianças — disse Rosilene Ferreira.
— Eu indo trabalhar, passei em casa para pegar uma conta e pagar. Quando cheguei em casa, meu dinheiro não estava lá. Os policiais entraram na minha casa e roubaram o meu dinheiro. A gente já não aguenta mais isso. Nossos filhos têm que ficar trancados dentro de casa. Quando começa o tiroteio as crianças se escondem e ficam me perguntando se vai ter aula, se elas vão poder ir para a escola. Isso tem que parar — protestou a moradora de Acari, Elizabeth Dantas.