Entrevista com liderança indígena
Em 2016, a equipe de reportagem do AND esteve no Mato Grosso do Sul em visita à retomada Tekoha Guaiviry, entre outras, onde centenas de indígenas Guarani e Kaiowá trabalham e tentam sobreviver às covardes investidas de latifundiários e do velho Estado. Ainda no gerenciamento Dilma/PT, tendo Kátia Abreu à frente do ministério da Agricultura, diversas denúncias foram registradas de covardes ataques à população Guarani e Kaiowá.
Genito Gomes, liderança indígena
Agora, pouco mais de um ano depois, no gerenciamento vende-pátria de Michel Temer/PMDB, voltamos a conversar com Genito Gomes, liderança Guarani e Kaiowá do Tekoha Guaiviry para acompanhar o prosseguimento da brava luta desse povo determinado a defender seus direitos e sua terra. Genito é filho do cacique Nísio Gomes, assassinado por pistoleiros a mando do latifúndio após a retomada do território em 2011, no município de Aral Moreira, a 402 quilômetros da capital do estado – conforme denunciado nas edições de nº 92 e 98 de AND.
Em entrevista concedida ao AND em 15 de abril de 2017, Genito denunciou a difícil situação da retomada Guaiviry onde vivem mais de trezentas pessoas em cerca de cem famílias. Os Guarani e Kaiowá têm enfrentado, de um lado, a total falta de assistência do velho Estado que por lei deveria garantir condições dignas de vida a este povo originário, e de outro, os crimes do latifúndio que querem usurpar as terras de direito dos indígenas.
Jovens indígenas em Tekoha após ataque
Genito Gomes esclarece que, frente aos criminosos ataques, os Guarani e Kaiowá têm empreendido uma brava jornada de lutas e respondido com uma tenaz resistência à repressão. E nos relatou brevemente o histórico de lutas de seu povo nos últimos anos:
Em 2004 a tribo foi atacada por latifundiários e pistoleiros da região e foi obrigada a deixar o Tekoha Guaiviry, passando a ocupar uma área à beira da estrada. Dois anos mais tarde, em julho de 2006, conseguiram retornar para a área retomada. Porém, logo depois de seu retorno foram novamente expulsos. Desta vez não só pela ação do latifúndio, mas também pela Fundação Nacional do Índio (Funai), sendo obrigados a voltar para beira da estrada, onde permaneceram até 2010.
A saga de luta dos Guarani e Kaiowá por sua terra prossegue em 2011, quando conseguem enfim retornar ao Tekoha no final do referido ano. Foi também em 2011 que o cacique Nísio Gomes sofreu uma criminosa emboscada que resultou no assassinato e desaparecimento do seu corpo por pistoleiros a mando do latifúndio. Crime este, cometido após sucessivos ataques contra o Tekoha Guaiviry. Até hoje o corpo do cacique Nísio Gomes permanece desaparecido.
Na entrevista concedida ao AND, Genito Gomes afirma ainda que a luta de seu povo prossegue em 2017. A liderança Guarani e Kaiowá denunciou ainda o gerenciamento Temer que não só aumentou o abandono, mas intensificou os massacres e perseguições aos Guarani e Kaiowá pelo latifúndio com o apoio do gerenciamento estadual.
Entrada do Tekoha Guaiviry
Segundo seus relatos, a intensificação das perseguições na região do Tekoha tem resultado em que os índios não podem mais ir à cidade sozinhos, tem sempre de andar acompanhados de no mínimo mais três companheiros como forma de garantir sua segurança. Pois, ao serem vistos circulando pela cidade, logo latifundiários e seus capangas comunicam-se para novas possíveis emboscadas. E sua denúncia prossegue, declarando que os indígenas que moram em retomadas estão tendo seu acesso negado aos hospitais públicos e que quando chegam para se tratar nestes órgãos são reconhecidos e discriminados. Os latifundiários têm promovido também uma verdadeira matança do solo com a monocultura da soja e o uso de agrotóxicos. Quando chove, os venenos usados nas plantações escorrem para os rios distribuindo-os por entre a terra, animais, peixes e os Guarani e Kaiowá que se alimentam da terra e consome m esse veneno. Outra situação denunciada à nossa equipe é o assustador índice de suicídio e depressão que cresce cada vez mais em meio ao povo indígena.
Os Guarani e Kaiowá exigem a demarcação de sua terra com extrema urgência, disso depende sua sobrevivência. Para que tenham garantido o direito de transitar, fazer compras básicas, utilizar hospitais, trabalhar a terra e plantar seus alimentos: arroz, milho, feijão, abóbora, banana sem venenos.
As retomadas de suas terras são o único caminho para esse bravo povo originário. Sem estas ações, os Guarani e Kaiowá serão jogados nos acostamentos das estradas para morrerem, sem nenhuma condição de plantio, de caça, pesca e até mesmo pela quantidade de atropelamentos propositais. Os fatos têm demonstrado cada vez mais que no que depender da Funai e do velho Estado, os povos indígenas não terão lugar e nem condição de sobrevivência. Mas este povo que resisti a séculos, continuará trilhando o caminho da luta e da retomada de suas terras tradicionais.