Os combates nos dias que antecederam e durante a cúpula do G20 (ou “Grupo dos 20”), ocorrida entre os dias 7 e 8 de julho, na cidade de Hamburgo, Alemanha, deixaram, segundo dados oficiais, 476 policiais feridos e mais de 400 manifestantes presos. A onda de repressão que se abateu sobre a cidade se estendeu a 37 mandados de prisão, invasões de casas e sedes de organizações em bairros populares e todo tipo de arbitrariedade cometida pelas forças do Estado imperialista alemão. Não se sabe o número de feridos entre os manifestantes.
Massivo protesto contra o G20 enfrenta a repressão em Hamburgo | foto: Stefanie Loos /AFP
Cerca de 50 manifestantes, entre alemães, franceses, italianos, espanhóis, holandeses, suíços e austríacos, ainda estavam presos no dia 13 de julho, data de fechamento desta matéria.
Os protestos literalmente incendiaram as ruas da cidade por pelo menos três dias e duas noites e se espalharam por vários bairros.
O imenso aparato de repressão, que reuniu oficialmente 21 mil homens com o mais moderno aparato antimotim, não foi capaz de deter a massividade e combatividade dos manifestantes, estimados em cerca de cem mil. As imagens aéreas deram uma ideia de dezenas de pontos de confronto pelas colunas de fumaça que se elevavam das barricadas levantadas pelos combatentes populares, das centenas de carros incendiados e dos coquetéis molotov atirados contra as forças de repressão. Grandes redes de lojas de departamento e mercados foram saqueados.
A brutalidade costumeira da polícia, contida em inúmeros relatos de manifestantes, como sempre, em vez de intimidar os que protestavam, fez redobrar o sentimento anti-imperialista, o que resultou em mais combatividade nas ruas de Hamburgo.
Os chefes de Estado e de governo que participaram do G20 foram recebidos por um dístico que se tornou o lema dos protestos: “Bem-vindos ao inferno!”, frase estampada na faixa que marchava à frente das maiores manifestações. Melania Trump, primeira-dama do USA, e o gerente de turno Michel Temer, chegaram a ficar presos no trânsito, estrangulado pelos bloqueios de ruas realizados pelos manifestantes. A cerimônia de recepção aos convidados teve de ser atrasada porque o presidente da comissão do G20, Jean Claude Juncker, e o marido de Angela Merkel também ficaram retidos no trânsito.
Protesto maior que o G20
O monopólio da imprensa mundial deu grande destaque aos protestos, algo que há muitos anos não ocorria.
Policiais lançam spray de pimenta contra milhares de manifestantes | foto: Thomas Lohnes
Ao observador menos atento, os combates nas ruas de Hamburgo se devem ao elemento que sempre está presente em reuniões desse tipo na Europa, ou seja, as organizações chamadas de “anticapitalistas” (termo difuso que camufla um conteúdo eclético de anarquismo e outras correntes pequeno burguesas). Ademais, não se pode esquecer do contexto de crise econômica mundial, as agressões imperialistas aos povos das semicolônias e as próprias tensões interimperialistas.
Sem dúvida, a repercussão dos confrontos se deve à massividade e combatividade das manifestações, mas também a um conteúdo mais proletário e revolucionário, vanguardeado por organizações e frentes anti-imperialistas, resultado de intensa luta ideológica no seio do Movimento Comunista Internacional.
Desculpas envergonhadas
No dia 11 de julho, o prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, ameaçado de impeachment pela câmara dos representantes da cidade (equivalente à câmara de vereadores) e contrito ante a pressão da grande burguesia alemã, declarou: “Não foi possível garantir a segurança em todos os lugares nem em todos os momentos, por isso peço perdão aos cidadãos de Hamburgo”.
Nem os 21 mil policiais que já tinham sido mobilizados deram conta do recado, nem os outros milhares de militares enviados às pressas pelos outros estados da federação alemã resolveram o “problema”.
O próprio prefeito de Hamburgo declarou, na mesma ocasião, que “nem tudo saiu como planejamos. Devemos esclarecer o que ocorreu e deter os delinquentes”.
Cruzada de repressão
Um dos exemplos da ação da repressão posterior aos protestos foi dado ainda no dia 8 de julho, quando um ataque bem preparado aconteceu contra o Centro Internacional B5 e alguns vizinhos do local.
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Segundo informações do Centro Internacional B5, buscas agressivas foram realizadas por uma unidade da BFE da Baixa Saxônia com mais de cem policiais das forças especiais, que receberam apoio de um operativo com um veículo do esquadrão antibombas.
Os funcionários do Centro foram algemados por mais de uma hora e foi negada a assistência de um advogado. Além disso, um médico foi proibido de tratar os feridos.
Não havia mandado judicial para a busca da polícia e, depois de 30 minutos, apareceram funcionários da LKA (órgão da polícia de investigação criminal em Hamburgo) que disseram aos presentes de uma forma geral que estavam ali devido a evidências dos serviços secretos de que existiam armazéns subterrâneos com material inflamável e explosivo. A ação aconteceu sob a justificativa de “perigo iminente” no marco da cúpula do G20.
Somente após algum tempo chegaram os advogados aos estabelecimentos atacados. Os policiais já haviam arrombado todas as portas sem que nenhuma testemunha estivesse presente e, por isso, ainda não se sabe se algo foi roubado, ou mesmo se foi forjado algum flagrante com a colocação de “provas” falsas pela polícia.
Os vizinhos que não pertencem ao Centro, como uma cooperativa de alimentos e o cinema B-Movie, também foram arrombados, danificando portas e, possivelmente também revistados. Equipamentos caros também foram danificados.
A busca e apreensão durou um total de duas horas nas instalações do Centro e não encontraram nem levaram nada. O monopólio dos meios de comunicação noticiou a apreensão de fogos de artifício, o que se verificou também uma fraude. O Centro admite que ali “se reúnem grupos anti-imperialistas, antifascistas e outras organizações, cujo o objetivo político é varrer da terra eventos como o G20 e todo os sistema imperialista mundial”.
O ataque aconteceu porque um ato anti-imperialista contra a cúpula do G20 estava sendo organizado ali, e estava previsto para realizar-se no mesmo dia. Os manifestantes foram atacados violentamente. A oposição massiva e multitudinária contra a cúpula do G20 tem obrigado os serviços secretos alemães e outros órgãos de repressão a tal ação.