Em 2017 completam-se 115 anos do nascimento do escritor Carlos Drummond de Andrade. Como forma de prestar uma singela homenagem a essa personalidade democrática recordaremos alguns dos seus escritos.
(Divulgação/ Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade)
Poeta do tempo presente
“Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida / Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins / O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes / a vida presente”. É assim que o escritor “mineiro carioca” se define e se posiciona no campo artístico no poema Mãos dadas, do livro Sentimento do Mundo (1940). Um poeta do tempo e espaço presentes, que não busca se refugiar no “mundo das ideias” e que se posiciona frente aos problemas sociais do seu espaço-tempo.
Aliando humor e política
No livro póstumo O avesso das coisas (1988), o escritor utiliza-se do humor para construir uma espécie de dicionário, atribuindo significados diferentes para certas palavras, explorando os seus diferentes lados: “O capital expande-se à medida que se restringe a capacidade de usufruí-lo”; “Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave”; “Na religião do Estado a penitência chama-se multa, e não há indulgência”; “Todos são iguais perante a lei, mas alguns são superiores a ela”; “O trabalho constitui ao mesmo tempo mais-valia e não-valia, conforme o ângulo de que o consideramos”.
Horror à guerra imperialista
O escritor — nascido em 31 de outubro de 1902, em Itabira (MG), e falecido em 17 de agosto de 1987 no Rio de Janeiro — foi funcionário público por grande parte de sua vida e expressou em sua obra o humanismo e o pacifismo comuns à pequena burguesia.
O autor se horrorizou com as notícias da guerra imperialista que se desenvolvia entre os anos de 1939 e 1945, principalmente na Europa e na Ásia. No poema Visão 1944, em A Rosa do Povo (1945), os olhos do poeta “são pequenos para ver o general com seu capote cinza escolhendo no mapa uma cidade que amanhã será pó e pus no arame”.
Apoio à Guerra pela Pátria
Em Carta a Stalingrado, contido no mesmo A Rosa do Povo, o horror da guerra entre as potências imperialistas contrasta com a heroica resistência do povo soviético, dirigido pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS), declarada em sua comoção e emoção.
Entre o poeta e os mortos há o oceano e os telegramas. Telegramas que eram frios, duros e sem conforto até o propagar pelos sete mares das notícias sobre a heroica resistência do povo soviético e, em especial, os comunistas, que protagonizavam prodigiosa luta contra o avanço das hordas nazistas. O poeta vibra com a resistência indômita em Stalingrado, onde mulheres e homens, crianças e idosos, combatiam entre as ruínas, lutavam por cada metro quadrado de espaço, com as faces cobertas de pó e pólvora, com um hálito selvagem de liberdade em suas bocas. Stalingrado, cidade-símbolo da resistência ao fascismo, onde o arquejo de vida era mais forte que o estouro das bombas e o medo da morte.
O poeta se entristece por não poder estar com os soviéticos na ofensiva contra os nazistas rumo a Berlim, então coração da besta fascista. “Como lutar, sem armas, penetrando com o russo em Berlim”, se pergunta o escritor em Com o russo em Berlim. Berlim, “cidade poderosa”, que “não cairá tão cedo. Colar de chamas forma-se a enlaçá-la, com o russo em Berlim”. Berlim, “uma cidade oculta em mil cidades, trabalhadores do mundo, reuni-vos para esmagá-la, vós que penetrais com o russo em Berlim”.
Repúdio à Guerra do Vietnã
Em Miní-miní, do livro Versiprosa (1967), a guerra de agressão ianque contra a nação e o povo vietnamitas é denunciada: “[...] o resíduo de Napalm / mais o grãozinho de arroz / Brotado no Vietnã / entre pedaços de corpos / E princípios em pedaços [...] Tua bomba vira pílula /Que é muito mais baratinha / E dispensa de matar / dispensando de nascer / mas sem dispensar a bomba / seja limpa, seja suja / que ao desperdício de chuva / causa a chuva radioativa”.