Professor na Escola Portátil de Música e integrante de grupos que seguem a linguagem do choro, o português de alma carioca Rui Alvim é um chorão convicto que se preocupa em manter viva este aspecto da cultura brasileira. Clarinetista e saxofonista, Rui já enfrentou todas as dificuldades impostas pelo mercado ao profissional e apresenta uma carreira sólida de amor à música.

Rui é instrumentista e professor
da Escola Portátil de Música
— O choro é uma grande escola de música instrumental, é a escola do músico brasileiro. Nasceu como música instrumental urbana brasileira, e foi matriz para muitas outras músicas. Foi, ainda que não sozinha, uma das matrizes, por exemplo, para o samba, o xote e uma série de outras músicas cantadas - conta Rui.
— E ainda que eu não tenha me originado nesta escola, a adotei para mim. Mas não sei se posso me considerar um chorão mesmo, porque não sou nato e vendo chorões nativos, como Altamiro Carrilho, Maurício Carrilho, Ronaldo do Bandolim etc.. Penso assim. Inclusive, costumo dizer que quando olhava para o seu Álvaro [o flautista Álvaro Carrilho, falecido em agosto passado] pensava ‘quando eu crescer vou ser um chorão’ - brinca.
Rui cursou bacharelado em clarinete, na Unirio, uma escola de música formal, e foi na faculdade que de alguma forma passou a ter contato com o choro.
— Tínhamos uma matéria chamada “música de câmara” com o professor Roberto Gnattali, e eu já trabalhava com ele na Orquestra de música brasileira. Foi essa matéria que originou o grupo de choro Água de moringa. Pude entender e trabalhar a linguagem do choro pela minha atividade no grupo.
— O Água de moringa é uma reunião de chorões, e existe há quase 30 anos, com vários discos gravados, alguns prêmios e apresentações pelo Brasil, além de outros países da América Latina, Europa e até no Japão. É o meu principal trabalho, e todas as minhas atividades de alguma maneira fazem parte da linguagem do choro.
Com Rui Alvim no clarinete e clarone, Marcílio Lopes no bandolim e violão tenor, Jayme Vignoli no cavaquinho, Luiz Flavio Alcofra no violão, Josimar Carneiro no violão de sete cordas e André Boxexa na bateria e percussão, o Água de moringa se destaca por sua versatilidade, revisitando compositores tradicionais e experimentando novos autores.
— Outro trabalho que tenho é a banda Luzeiro de paquetá, só de sopros e percussão, que surgiu do convívio de alunos e professores da Escola Portátil de Música. É um grupo muito ligado à pesquisa da linguagem de banda no Brasil - apresenta.
— As bandas participaram ativamente dos registros dos choros produzidos no início do século XX e nossa pesquisa tem inspiração muito grande no Anacleto de Medeiros, quem implantou essa linguagem de banda no Brasil. Anacleto fundou diversas banda, entre elas, a do corpo de bombeiros. O grupo existe há 9 anos, e nós estamos concluindo a gravação de um CD, que deve ser lançado em breve - avisa.
— Também tenho um outro grupo que considero muito importante que é o grupo Los quatro, que faz um trabalho com a música popular instrumental da América Latina toda. Estamos concluindo agora o segundo CD e devemos lançar esse ano ainda. Fora isso, toco no projeto Candombaile, que mistura músicas de vários países latino-americanos: candombes, músicas cubanas, choros, boleros etc. - relata.