Quando pretendem deslegitimar uma manifestação massiva por reivindicações justas, os interessados normalmente apelam para esgrimir o uso de violência por parte dos manifestantes. E se tiverem um policial ferido como troféu, consideram que o triunfo é garantido.
Contando com isso, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, acudiu rapidamente ao Hospital Churruca, em Buenos Aires, onde se encontra internado um agente da repressão, o oficial Maximiliano Russo, ferido nas manifestações contra a reforma da previdência. Macri estava tão entusiasmado com a situação que se atreveu a fazer uma piada de gosto duvidoso. O policial, que corre o risco de perder a visão de um dos olhos, ouviu do presidente que a esposa dele é tão bonita que pode ser vista com um só olho.
Mas não foi por isso que o governo e seus apoiadores se sentiram em uma situação fortemente constrangedora.
O programa “jornalístico” Buenos Dias América, do canal 24 da televisão argentina, quis reforçar nos dias seguintes às manifestações a “selvageria” dos manifestantes.
Para criar um clima fortemente emotivo, entrevistou ao vivo por telefone a mãe do policial ferido. Ela estava chorando, revoltada. O que parecia um prato cheio para a bancada, composta por sete jornalistas, foi um fiasco.
Um deles comentou que o policial, além da lesão do olho, tinha outras feridas, como se tivesse sido apunhalado.
A mãe do policial, entre soluços, contou que seu filho trabalha no departamento de roubos e furtos. E que no fim do expediente, no dia da manifestação, recebeu uma ordem superior de que tinha que ir à manifestação.