Ator, fotógrafo e professor de artes, o carioca Ellan Lustosa mostra a realidade dos pobres e denuncia as injustiças sociais através do seu olhar. Insatisfeito com o sofrimento popular, ele cobriu as jornadas de protesto popular em junho de 2013, colocando seu trabalho ao serviço do povo. Neste momento passou a contribuir com o jornal A Nova Democracia, retratando a repressão ao povo e, com isso, se aprofundando no fotojornalismo.
Ellan Lustosa vê no fotojornalismo um meio de registrar as injustiças cometidas contra o povo
— Para mim a fotografia é um instrumento que serve para denunciar as diferenças sociais que vivemos, e por meio dessa denúncia fazer com que se possa refletir e modificar a sociedade. Jamais uma sociedade chegará a viver em paz ou em evolução se nela existirem essas diferenças sociais enormes que estão aí — afirma Ellan.
— São questões como o processo da corrupção, a falta de educação ou a falta de saúde... Acredito que antes de mais nada o povo brasileiro precisa se conscientizar disso, e assim entender que somente a derrubada do poder da minoria que constrói essa diferença social é que dará para o país uma condição de vida melhor — continua.
Além da fotografia que tomou um espaço muito grande em sua vida, Ellan fez teatro na extinta Faculdade da Cidade; cinema, bacharelado, pela Estácio de Sá; e Artes, licenciatura, pela Cândido Mendes, todas no Rio de Janeiro.
— Não pude finalizar a faculdade de teatro. Precisei interromper por falta de recursos financeiros e, como já tinha o registro profissional e estava atuando em teatro e televisão, parti para o trabalho. Depois iniciei e consegui finalizar as outras duas, e hoje não vejo distinção entre a fotografia, o teatro, o cinema e meu trabalho como professor. Tudo está interligado — expõe.
— O que sai nas minhas fotos é fruto do trabalho e da história da minha vida, acredito que todo fotógrafo reflete si mesmo em seu material. Quando fotografa, ele congela o seu olhar pela sua experiência de vida. Minha história com a arte é antiga, meu avô era músico, ele tocava piano dentro dos cinemas quando o cinema tinha música ao vivo, e eu desde pequeno sempre fui muito ligado em filmes, via todos — recorda.
— Também era vidrado em revistas em quadrinhos, essas eram as duas paixões da minha vida, acho que a minha relação com o audiovisual surgiu daí. E na escola era bastante contestador de regras e posições, não aceitando injustiças, tanto que fui expulso de três escolas, “convidado a me retirar” como chamavam, simplesmente a direção da escola não deixava renovar a matrícula — continua.
E foi em uma escola que estava prestes a ser expulso, ou convidado a se retirar, que Ellan teve seu primeiro contato com o palco.
— A diretora me chamou no canto e falou “sua barra está suja e você está sabendo, ano que vem não se matriculará. Mas vamos ter um espetáculo de fim de ano e eu limpo a sua barra se você fizer o papel que estou precisando”, e foi dessa forma que comecei a fazer teatro (risos). Quando subi no palco me identifiquei e não parei mais — conta.
— Depois disso fui morar em São Paulo, fiz cursos, trabalhei bastante por lá, fiz mais ou menos umas vinte peças, e de volta ao Rio dei continuidade. Mas minha postura como ator sempre foi de não olhar somente para a interpretação e sim para todo o quadro, o enquadramento, o roteiro etc. Já o estudo do cinema aguçou em mim o processo da fotografia, tudo aquilo que pensava em termos de enquadramento, leitura — diz.