De 2009 a 2011, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) teve a composição mais pia de sua história. Além de Ives Gandra Martins Filho, faziam parte dela os também catolicíssimos Milton Nobre (representante dos tribunais estaduais) e Cezar Peluso, que presidia o Supremo Tribunal Federal (STF) e, por consequência, o conselho. Morgana Richa, que representava os tribunais do trabalho, é menos afeita a hóstias, mas seu cunhado e já então governador do Paraná, Beto Richa/PSDB, tinha, à época, membros importantes do Opus Dei em seu staff.
No mesmo período, registraram-se algumas iniciativas para tirar crucifixos das paredes de tribunais e outros órgãos do Estado. Peluso, então, designou Gandra Filho para organizar, em nome e com verba do CNJ, um seminário intitulado “O Estado laico e a liberdade religiosa”, realizado em junho de 2011.
Entre os seis conferencistas, havia dois membros notórios do Opus Dei: Gandra Filho e o padre Rafael Stanziona de Moraes. Um terceiro, o jurista português Jorge Miranda é, no mínimo, próximo à organização.
Outro palestrante, Massimo Introvigne, foi apresentado no material de divulgação do evento como “representante da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) para a luta contra o racismo, a xenofobia, a intolerância e a discriminação religiosa”. À época, era o principal dirigente da Aliança Católica, braço italiano da TFP (Tradição, Família e Propriedade), política e teologicamente situada à direita do Opus e de qualquer outra coisa dentro ou fora da Igreja Católica.
Introvigne é autor de livros em que apresenta a secularização da vida social e cultural como fonte dos males da Europa e atribui o volume e a repercussão das denúncias de violência sexual de padres contra crianças a um complô contra a igreja. É também dirigente do Centro de Estudos Sobre Novas Religiões (Cesnur), sediado em Turim e dedicado a defender seitas como a Moon e a Cientologia, em cujo favor depôs num tribunal italiano. Introvigne considera todas elas (inclusive o Opus Dei) vítimas de falsas acusações e nega, contra milhares de testemunhos de ex-membros, que façam lavagem cerebral. Em defesa do Opus, publicou vários artigos e dois livros: Gli Illuminati e il Priorato di Sion (2005) e Il simbolo ritrovato (2010), pretensas refutações aos romances O código Da Vinci e O símbolo perdido, de Dan Brown.