Cantor e compositor mineiro de Fronteira dos Vales, Tau Brasil tem forte influência das tradições e lendas do seu lugar. Com canções que retratam a vida simples do povo interiorano, Tau faz questão de cantar suas raízes em composições próprias e também interpretar obras de artistas que o inspiram, entre eles, Elomar Figueira. E se apresenta em três diferentes shows pelo país.
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Tau e Augusto no projeto “Tau pai, Tal Filho” que resultou na gravação de seu último CD
— Nasci na divisa do Vale do Mucuri com o Jequitinhonha, e durante a infância bebi muito de uma fonte que até hoje me inspira, que é a dos festejos populares, das festas juninas, do reisado e das folias de reis, que eu acompanhava ainda menino, com 9/10 anos. Tudo isso me marcou muito, e teve também a influência familiar: aprendi a tocar e cantar ouvindo meus primos e tios da parte da minha mãe — conta.
— E meu tio bisavô, que se chamava Miguel Gato, era um repentista conhecido na região, nasceu em Água Quente, ali perto, e saía naquelas feiras tocando sua viola, cantando seus versos. Uma curiosidade é que ele escrevia muito e nunca foi na escola, dava aulas e tudo, e só andava com um dicionário debaixo do braço, estudando o dicionário — continua.
— Ele compôs muita coisa bacana, inclusive minha avó guardou algumas coisas e passou para mim, a letra da música Raridade, por exemplo, que deu nome a um dos meus CDs, é dele, coloquei apenas a melodia. A mesma coisa se passou com a música Brasileirinha, que está no meu CD Pelas Ruas de Lisboa — diz.
Aos 13 anos de idade Tau foi morar em Águas Formosas, uma cidade maior, próxima da Fronteira dos Vales, e ali aumentou seu estreitamento com a música.
— Entrei para um grupo de jovens e passei a cantar em coral, e o pessoal falava que eu tinha uma voz bonita. Com 14 anos participei do primeiro show de calouros que teve em Águas Formosas e ganhei, isso em 1976/77, o que foi uma grande emoção para mim, meu primeiro prêmio na música — lembra.
— Com o dinheiro do prêmio pude comprar uma camisa de manga comprida, que eu era doido para ter, um Kichute (calçado que se usava muito na época) e também uma bola de capotão, enfim, foi uma festa. A partir daí comecei a participar de festivais, já com músicas de minha autoria, e fiquei conhecido na cidade, que teve uns nove festivais de música — conta.
— Participei dos festivais que aconteceram pela região do nordeste mineiro naquela época, e ganhei 16 deles. Em 1979 fui estudar técnica agrícola em Barbacena e me formei. Foi muito bom, mas, eu estava sempre com o violão debaixo do braço e cantando. A música já estava impregnada em mim, inclusive lá em Barbacena ganhei dois festivais de canção — continua.
— Trabalhei em Goiás e na cidade de Porto Seguro (BA), e gravei uma fita K7 com minhas músicas e vendia nas apresentações em bares e restaurantes da cidade. Com o movimento de festivais fui conhecendo muitos músicos e obras de Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Zé Ramalho, Xangai, e sendo influenciado por tudo isso — fala.
Cantar sua aldeia e retratar a realidade
— Uma obra que me marcou muito foi a do Elomar Figueira. Conheci o disco “Das Barrancas do Rio Gavião” e a partir daí comecei a ouvi-lo demais, e veio um convite para cantar sua obra em Almenara, no Festivale, o festival de cultura do Vale do Jequitinhonha. A obra de Elomar é fantástica, de Guimarães Rosa, sua música, aquela mistura da música erudita com as linguagens do sertão profundo — diz.