O USA determinou, no último mês, diversas sanções econômicas ao Irã, após uma série de episódios em que o país se negou a submeter-se às ordens dos imperialistas ianques. As sanções foram deliberadas como forma de chantagem, pois o Irã havia decidido por deixar um pacto de 2015 firmado com o USA e outros países imperialistas, após os próprios ianques abandonarem o mesmo. O tratado limitava o uso de energia nuclear e urânio enriquecido pelo Irã. O próprio ultrarreacionário Trump abandonou-o em 2018, contrariando as posições de outros cinco países presentes no pacto, na tentativa de isolar o país persa.
A saída do Irã do pacto se deu ao ultrapassar o limite estabelecido de 3,67% de enriquecimento de urânio para a produção de energia elétrica, como uma justa resposta à saída unilateral do USA do Plano Integral de Ação Conjunta (Piac, o nome oficial dado ao pacto), em 2018. Após abandonar o Piac, Trump imediatamente retomou as sanções que haviam sido suspensas em 2015, incluindo aquelas sobre o setor petrolífero, o que levou ao estrangulamento da economia iraniana. Os ianques, porém, continuaram exigindo que o Irã obedecesse ao falido acordo.
Em abril de 2019, o USA proibiu a compra de petróleo iraniano, incluindo os países que ainda estavam livres desse veto, e, em maio, asfixiou o setor de metais industriais, que é a segunda maior fonte de renda por exportações do Irã, depois do petróleo. Mais recentemente, no fim de junho, Trump impôs sanções diretamente ao aiatolá Ali Khamenei, “líder supremo” do Irã, e a oito chefes militares, com foco em comandantes responsáveis pelas operações navais na região do estreito de Ormuz, onde ocorreram os episódios da derrubada do drone e da explosão dos navios petroleiros, em junho de 2019.
Agora, no dia 10 de julho, Trump ameaçou aumentar ainda mais as sanções econômicas e afirmou que pretende expandi-las a mais funcionários do governo iraniano, sob o argumento de que pretende pressionar o país a abandonar supostas “atividades hostis”, como a “produção de armas nucleares”. O argumento de Trump, no entanto, se mostra falho, pois ao exceder o limite de 3,67% – estabelecido no falido pacto de 2015 – e enriquecer urânio a um nível de pureza de 4,5%, o Irã não representa qualquer “ameaça atômica”, uma vez que o nível necessário para se produzir armas nucleares, como uma bomba, é de mais de 90%.
Além de fortalecer o cerco econômico contra o Irã, foram perpetradas, também, ameaças de ataques militares e de avanços bélicos sobre as fronteiras iranianas. Em junho, logo após a derrubada do drone ianque, Trump alegou que havia decidido abortar um ataque de bombardeio aéreo com mísseis contra o Irã, afirmando cinicamente que queria “evitar mortes”. No entanto, no mesmo dia o USA lançou um ataque cibernético que derrubou computadores militares do Irã. Segundo o monopólio de imprensa The Washington Post, o ciberataque teve como alvo o sistema de mísseis da autodenominada “Guarda Revolucionária” iraniana (Exército local).
Posteriormente, o primeiro-ministro de Israel, o genocida Benjamin Netanyahu, fez uma ameaça velada ao afirmar, em frente a um caça F-35, durante uma visita a uma base militar israelense, que seus aviões “podem chegar a todos os lugares do Oriente Médio, incluindo o Irã e, certamente, a Síria”. Israel é o principal aliado do USA e o mais acirrado rival do Irã na região, e possui um enorme aparato bélico que utiliza para sustentar a hegemonia ianque regional. Agora, no dia 10 de julho, o USA anunciou também que está se articulando para formar uma coalizão militar que atuará na costa do Irã e do Iêmen, sob a pretensão de “proteger embarcações comerciais”, mas que significa intensificar sua presença militar na península Arábica e, consequentemente, no Médio Oriente.
Superpotência única
A estratégia do USA é de isolar o Irã política e economicamente, levando-o a renegociar o pacto nuclear e seu programa de mísseis, conjurando qualquer mínima possibilidade desta nação desenvolver capacidades de autodefender-se militarmente de futuras agressões imperialistas. Além disso, e principalmente, os ianques buscam forçar o governo iraniano a diminuir sua presença militar na região, presença que se faz especialmente por meio das milícias xiitas que atuam na Síria. Essas milícias foram forças fundamentais para a vitória militar das forças de Al-Assad e da Rússia no país contra os mercenários da “oposição” pró-USA.
O caso do Irã é, portanto, uma expressão evidente da profunda crise em que o imperialismo se encontra, na qual as potências imperialistas disputam e agridem nações visando dominá-las e brigam entre si, como se dá entre o USA e a Rússia, em que o primeiro luta para se tornar a única superpotência imperialista e é, de fato, hoje, a principal. O imperialismo ianque apresenta uma clara superioridade militar e econômica em comparação com os seus rivais, expressa na predominância do capital financeiro do USA.
As sanções que os ianques aplicam ao Irã, assim como à Venezuela e à Coreia do Norte, afetam economicamente seus rivais, como a China e a Rússia, na disputa interimperialista. Esses países mantiveram suas relações comerciais com o Irã apesar da proibição de compra do petróleo iraniano, mas dificilmente conseguirão manter seu posicionamento frente à hegemonia ianque.