A cidade de Bamako, capital do Mali, no dia 10 de julho, foi tomada por milhares de massas pela terceira vez no período de um mês, que exigiam, entre diversas reivindicações, que todas as tropas do imperialismo, principalmente o francês, e da “Organização das Nações Unidas” (ONU) deixem o país, com a palavra de ordem: Expulsar a França! No total, 14 manifestantes foram mortos e outras centenas ficaram feridas.
Os manifestantes tiveram como principais alvos prédios governamentais, incluindo a Assembleia Nacional, as emissoras de televisão e de rádio, e duas importantes pontes da capital, além de bloquearem as estradas e vias que conectam a cidade com barricadas em chamas. Os dois canais de televisão pública do país foram forçados a sair do ar, após os manifestantes entrarem nas sedes da rádio e da TV nacionais, onde ocuparam a antena.
Tentando conter a revolta popular, a polícia atirou contra a multidão e disparou gás lacrimogêneo, porém não bastou para conter a fúria do povo, dado que a rebelião se prolongou pelo resto do dia, com incêndios alastrados por toda a capital, bem como confisco de produtos de lojas, mal chamados de “saques”.
A indignação do povo malinês também se volta contra o governo, atualmente gerenciado pelo presidente Ibrahim Boubacar Keita, exigindo que Keita e seu governo renunciem. Os milhares reunidos na praça da Independência denunciavam a situação de miséria do povo, a corrupção do Estado e os conflitos militares que ocorrem no Norte do país provocados pelas tropas intervencionistas contra grupos locais que resistem.
Os protestos também demandam que os recursos nacionais do país, rico em ouro e urânio e com poços de petróleo recém descobertos, sejam dispostos a serviço do povo, e não mais saqueados por multinacionais imperialistas, como ocorre secularmente.
O levante espontâneo, devido à falta de um movimento proletário que atue para dirigi-lo, tem sido influenciado pelas forças políticas “oposicionistas” burguesas-latifundiárias. Por consequência disso, algumas das reivindicações são ideias reformistas, como a dissolução do Parlamento, a formação de um governo de transição que nomeie um primeiro-ministro e a substituição de nove membros do Tribunal Constitucional, acusados de corrupção.
A atual situação do Mali e o imperialismo
A revolta no Mali traz à tona frustrações de longa data do seu povo, especialmente contra a intervenção imperialista liderada pela França, que submete a nação malinesa ao controle colonial em quase todo o país, e semicolonial na sua região Norte.
A operação francesa “Barkhane” teve início após a deposição do presidente malinês em 2012, que abriu caminho para que os independentistas tuaregues tomassem controle sobre as cidades do Norte do Mali, ao que parte deles acabou por se alinhar com grupos muçulmanos jihadistas, como a Al-Qaeda. A França, então, interveio com sua arrogância colonial sob a pretensa justificativa de “combate ao terrorismo”, apesar de, até então, ter apoiado os tuaregues separatistas.
Milhares de soldados da coalizão militar imperialista encabeçada pela França começaram a ocupar o país, somando-se às tropas de “paz” da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (Minusma) da ONU, que hoje possui 13 mil soldados no país. Os grupos que controlam frações do Norte do Mali, apesar de estarem atrelados a uma ideologia feudal ligada ao salafismo (movimento dentro do Islã), atuam objetivamente no campo da Resistência Nacional quando posicionam-se pela expulsão do invasor.
Recentemente, no dia 14 de julho, por exemplo, dois soldados da Minusma foram mortos em um ataque das forças da Resistência contra um comboio militar da ONU na aldeia de Tarkint, no Norte do Mali.
A região Norte, controlada pelos combatentes, é de extremo valor estratégico para que a França consiga acessar suas minas de urânio no Níger, que fornecem um terço do suprimento de urânio para as usinas termonucleares francesas, que por sua vez garantem mais de 70% da energia elétrica do país. Além disso, essa região do Sahel é também essencial para o transporte de gás natural e petróleo, recurso que a França recebeu total concessão para explorar na bacia de Taoudeni, no Norte do Mali e na Mauritânia.