Nos dias 17 e 18 de agosto os povos indígenas Kayapó e Suruí fecharam duas importantes estradas localizadas no estado do Pará, a BR-163 e a BR-153, em protesto contra as invasões de terras de grileiros e madeireiros e em denúncia ao abandono do velho Estado.
No primeiro dia, cerca de 200 indígenas kayapó, com pinturas de guerra, interditaram por mais de um dia a BR-163 mesmo sob ameaças da repressão. O bloqueio da via ocorreu perto do município de Novo Progresso, no sudoeste do estado do Pará, a cerca de 1,8 quilômetros de Belém.
Jovens são mortos por operação punitiva da polícia.
Banco de Dados/AND
Barricadas de pneus e pedaços de madeira foram construídas na ponte sobre o rio Disparada. Em frente às barricadas havia uma faixa com os seguintes dizeres: Em defesa da Amazônia! Sem ouvir indígenas, não terá concessão e Ferrogrão! Não aceitaremos! Apenas ambulâncias estavam sendo autorizadas a passar pelos manifestantes.
Segundo as lideranças, a ação foi em protesto contra a falta de recursos para o combate ao desmatamento ilegal,a invasão de grandes madeireiros e garimpeiros em suas terras e a falta de apoio no enfrentamento à pandemia de Covid-19 nas Terras Indígenas (TIs) Baú e Mekragnotire, onde vive o povo Kayapó Mekragnotire. Mais de 400 casos confirmados e quatro óbitos (todos de idosos) foram registrados nas duas TIs.
Eles protestam ainda contra a construção de mais um grande projeto na Amazônia sem consulta prévia aos povos indígenas no processo de concessão: a Ferrovia EF-170, um projeto previsto em R$ 12,6 bilhões com extensão total de 1.142 quilômetros, cujo traçado projetado passa a 50 quilômetros da TI Baú. Os latifundiários a chamam de Ferrogrão, devido seu objetivo principal: aumentar a exportação de soja e milho e a importação de agrotóxicos pelos portos da Amazônia. A proposta é de, inicialmente, serem construídos 933 quilômetros no trecho que vai de Sinop, no Mato Grosso, até o porto de Miritituba, em Itaituba, no Pará.
Na tentativa de intimidar os indígenas, a juíza federal Sandra Maria Correia da Silva, da comarca de Itaituba, determinou a retirada do bloqueio pela Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal (PRF) e estipulou multa diária de R$ 10 mil para os Kayapó em caso de descumprimento. Apesar disso, eles se mantiveram firmes na luta e até as 11 horas da manhã do dia 18/08 mantiveram a estrada bloqueada.
Já no dia 18/08, indígenas do povo Suruí interditaram por cerca de 10 horas a BR-153, localizada no município de São Geraldo do Araguaia, no sudeste do estado do Pará.
O protesto ocorreu devido ao não cumprimento de um acordo firmado pela prefeitura do município, no qual estabeleceram a realização de obras nas aldeias da TI Sororó. A prefeitura deveria construir, segundo o acordo, postos de saúde, caixa d´água, serviço de iluminação, pavimentar estradas e instalar um viveiro de peixes. A ação resultou no reagendamento do início da obra, adiado para 25/08.