Centenas de milhares saíram às ruas das cidades francesas para protestar contra uma nova lei de caráter fascista que tornaria ilegal divulgar qualquer imagem com o rosto ou elemento que possa identificar agentes das forças de repressão. Diante dos protestos multitudinários e carregados de combatividade, a reação francesa recuou em sua tentativa.
A lei de “segurança global”, aprovada no dia 25 de novembro e derrubada no dia 30 após intensa mobilização das massas, concedia, ainda, acesso às câmeras de segurança ao redor de lojas ou prédios à polícia, além do direito de utilizar drones equipados com tecnologia de reconhecimento facial para monitorar manifestações públicas. No caso do uso ou compartilhamento das imagens com identificação de policiais, a pena seria de um ano de prisão e pagamento de 45 mil euros.
Além disso, sobre o “Novo Esquema Nacional de Policiamento”, que também foi proposto, o ministro do Interior, Gérald Darmanin disse que, para não serem presos, os jornalistas que cobriam os protestos deveriam obter credenciais da prefeitura local. Isso delegaria à prefeitura a escolha de quais jornalistas poderiam ou não cobrir os protestos. Darmanin mais tarde recuou em um dos aspectos, dizendo que os jornalistas poderiam filmar ou fotografar a polícia, mas outras disposições relativas ao projeto de lei permaneceram.
Povo se rebela contra lei reacionária. Foto: Olivier Corsan / MAXPPP.
Repressão desenfreada
Contra tamanho ataque às liberdades individuais e políticas, que foram o marco de fundação da república francesa, cerca de 500 mil pessoas protestaram em todo o país no dia 28/11, dos quais 200 mil foram na capital, segundo os organizadores do protesto.
Um gigantesco contingente de policiais foi destacado para reprimir as massas rebeladas com bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral, bastões, canhões de água e spray de pimenta. Aproximadamente 81 prisões foram efetuadas pela polícia de Paris na noite do dia 28/11, e ainda não se foi estimado quantos manifestantes ficaram feridos. No outro lado, 91 policiais e gendarmes foram feridos pelo povo, com pedras e coquetéis molotov.
Vários carros, uma banca de jornais e uma fábrica de latas foram incendiados perto da praça da Bastilha. Milhares também participaram de outras marchas em cerca de 70 cidades da França, inclusive em Bordeaux, Lille, Montpellier e Nantes.
No dia 21/11, cerca de 20 mil pessoas já haviam protestado em toda a França. Em Paris, o ato começou no início da tarde no parque Trocadéro, perto da Torre Eiffel, sob a chamada de diversos movimentos de jornalistas e de trabalhadores.
No final da tarde, enquanto saíam do Trocadéro, manifestantes entraram em confronto com a polícia, que tentava reprimi-los. Ainda assim, no início da noite, o protesto prosseguia, com os manifestantes em frente ao Museu do Homem, entoando palavras de ordem em homenagem ao movimento popular espontâneo dos “coletes amarelos”, segundo o monopólio de imprensa Le Monde. Aproximadamente 20 manifestantes foram presos.
Já no primeiro dia de protesto, na noite do dia 17/11 (quando o projeto de lei foi proposto), milhares de pessoas tomaram as ruas de Paris, saindo de frente à Assembleia Nacional. Em dado momento, a polícia começou a reprimir com brutalidade os manifestantes. O povo rebelado respondeu à agressão dos agentes com barricadas em chamas e atirando pedras.
Outros protestos com centenas de manifestantes ocorreram em Toulouse, Bordéus, Lyon e Rennes.