Criada em 2008 com a finalidade de fazer música independente, autoral e com mensagem crítica, a banda pernambucana Palafita busca proporcionar às massas reflexões acerca dos acontecimentos que fazem parte da realidade do Brasil e do mundo. Misturando a sonoridade do rock com o rap, a banda se utiliza da rima para passar a sua mensagem.
— Nós temos uma influência muito forte do rock e também do rap, e a banda carrega isso consigo. Fazemos uma mistura desses dois tipos de música, a sonoridade do rock e aquela coisa falada do rap, letras rimadas. Se tirarmos o som da nossa aparece claramente a forma de escrever utilizada pelas pessoas que fazem rap – conta Thiago Melo.
— As letras refletem a nossa experiência, a forma de enxergar a sociedade com lentes da periferia, de perceber as desigualdades e criticar, expor essas condições contraditórias, que são muito desiguais. Falamos da condição do trabalhador, do ser humano que é explorado pelo capitalismo, etc. O mais importante para a Palafita é a mensagem – declara.
A banda, segundo Thiago, se propõe a questionar o modelo de sociedade vigente.
— Queremos saber qual modelo está realmente funcionando ou não está funcionando, o que é isso que está acontecendo e por que acontece. Por exemplo, questionamos por qual motivo um playboy vai aprimorar o seu inglês no Estados Unidos enquanto um periférico da mesma idade, negro, é morto pela polícia. São essas coisas que a Palafita quer saber. E, na verdade, nós já sabemos a resposta, e por isso mesmo questionamos – fala.
— Nós expomos essas feridas, mazelas que já estão aí há centenas de anos. Na verdade, nós estamos falando o óbvio, faz doze anos que falamos a mesma coisa, questionamos essas desigualdades geradas pelo capitalismo, ainda mais em um país onde o imperialismo realmente impera. Nós falamos de uma elite podre, que é a elite burguesa, porque não podemos assistir a tudo isso e simplesmente nos calar, nos silenciar – expõe.
— A Palafita é essa voz que nós não queremos abafar, não nos propomos a isso, muito pelo contrário, vamos caminhando dentro de uma condição muitas vezes precária, porque é muito difícil fazer música independente, e mais ainda música independente e crítica. Mas vamos batalhando, trabalhando duro, porque sabemos que o povo, as massas entendem o que estamos falando e é isso que nos interessa, é o que faz valer a pena a nossa caminhada – declara.
— Como estamos fazendo arte, claro que não nos restringimos a falar somente sobre desigualdades, também temos músicas que falam de amor, por exemplo, porque faz parte da necessidade que o artista tem de explorar outros tipos de experiências. O trabalho da banda é totalmente autoral, desde o princípio da nossa caminhada, nosso primeiro disco, Punhos no Tumulto, lançado em 2016, é cem por cento autoral – relata.
Resistência e desigualdade cantadas
— O nome Palafita foi dado para a banda porque vivemos em um bairro cercado de palafitas. Eu cresci nesse bairro, que é o Afogados, em Recife (PE) e na minha infância era muito comum ir ao manguezal e sempre ver essas palafitas e, naquele tempo, é claro que eu não sabia por qual motivo elas existiam, não sabia que se tratava de um problema urbano e de desigualdade social – conta Thiago.
— Esse nome significa duas coisas para nós: resistência e desigualdade, o que geralmente a banda se propõe a falar. A resistência se refere à luta daquelas pessoas que vivem, muitas vezes, em condições completamente precárias e desumanas, firmam as estacas ali e vão sobrevivendo – continua.
A banda é formada por Thiago Melo, no vocal, Diogo Matheus e Ananias Lima, nas guitarras.
— A nossa formação original, em 2008, foi: Eu (vocal), Jó (vocal), Diogo Matheus (guitarra), Ananias Lima (guitarra), Juninho (bateria) e Danúbio Santos (baixo). Com o tempo fomos trocando de músicos, mas mantivemos um núcleo da banda e hoje somos nós três. Outros músicos também tocam conosco, porém como apoiadores – explica Thiago.
–– Participamos recentemente de um projeto de verso autoral, organizado pela banda Mardita, que visa aumentar a visibilidade das bandas de rock independentes. Nesse projeto, uma banda regrava o trabalho da outra, de outro estado, e assim vamos propagando, nos inteirando e os públicos vão se conhecendo – relata.
— Foi um trabalho muito bacana, nós regravamos a música Silêncio, da banda Unabomber, do Rio de Janeiro, e a Mariana Camelo, de Brasília, regravou a nossa música Água Viva. E nós estávamos no estúdio gravando um novo EP quando a pandemia começou, assim estamos resolvendo algumas questões internas na banda e vamos retomar as gravações tão logo seja possível – continua.
A fã número zero
Em abril deste ano a banda lançou a música “Remís Vive”, uma homenagem à Remís Carla, estudante de pedagogia e militante revolucionária, vítima de feminicídio. Remís foi assassinada por seu ex-namorado, Paulo César, em dezembro de 2017.
— Ela era minha amiga e fã número zero da banda, a pessoa que mais foi nos nossos shows, indiscutivelmente, e conversávamos antes e depois dos eventos, inclusive na capa do nosso disco, Punhos no Tumulto, o primeiro nome que aparece nos agradecimentos é o dela. Depois do acontecido eu fiz a letra e a música e a banda melhorou no estúdio. Falo na letra sobre as duas coisas que observei convivendo com a Remís, que foram a sua doçura e a sua bravura revolucionária – conta Thiago.
— Infelizmente ela foi assassinada de forma brutal, mas deixou um legado muito grande, tanto como pessoa, e quem a conheceu pessoalmente sabe da sua doçura, quanto de luta. Ela militou no Movimento Feminino Popular (MFP), e no Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR), todo mundo sabia como ela era forte e revolucionária – continua.
— Ela participou também do Coletivo Bagaço, um movimento cultural artístico e político muito importante aqui em Pernambuco, fundado pelo Sílvio Ribeiro, conhecido como Omega, grafiteiro e artista plástico. Eu tive contato com a Remís uns dois ou três dias antes do acontecido, nós éramos muito próximos. Ela me encorajou a fazer uma especialização na universidade, enfim, ela é um ser humano realmente inesquecível, uma pessoa que vive dentro do meu peito e vou levar para sempre na minha vida – finaliza.
O contato da banda é (81) 99638-0654.