Concepção de mundo
É o sistema de opiniões, de noções e de representações sobre o mundo objetivo, que nos rodeia, em seu conjunto. No sentido lato, é o conjunto de conceitos sobre o mundo, sobre os fenômenos e coisas da natureza e a sociedade: ideias filosóficas, sociais e políticas, éticas, morais, psicológico-sociais, estéticas, científicas etc.
As opiniões filosóficas constituem o núcleo principal de toda concepção do mundo, ou seja, a concepção do mundo no sentido próprio do termo. O principal problema em uma concepção do mundo é também o principal problema da filosofia: o das relações do pensamento com o ser, da consciência com a matéria. Conforme se considere como dado primário a matéria ou a consciência, existem duas categorias fundamentais de concepções do mundo, dois grandes campos filosóficos: o campo materialista e o campo idealista. O materialismo dialético e o materialismo histórico formam a concepção do mundo do partido revolucionário do proletariado, a vanguarda marxista-leninista-maoista, concepção cientificamente consequente. A doutrina marxista-leninista-maoista é diametralmente oposta ao idealismo filosófico e às concepções religiosas estreitamente aparentadas com aquele. O idealismo filosófico e a religião explicam o universo, todos os fenômenos da natureza e da sociedade por intermédio da atividade do espírito, da consciência, das forças espirituais, sobrenaturais, das divindades. O idealismo e a religião são incompatíveis com a ciência, se opõem e se negam mutuamente. O materialismo dialético, como concepção do mundo, formou-se na luta implacável contra a religião e o idealismo.
A concepção do mundo é o reflexo do ser material e social do homem, e está em função direta do nível de conhecimentos humanos alcançados em uma etapa histórica dada, assim como também do regime social nela dominante. A concepção do mundo adquire assim um caráter histórico. A medida que a sociedade evolui, a concepção do mundo se modifica. Não pode existir uma concepção do mundo única em uma sociedade dividida em classes antagônicas. A concepção do mundo se reveste, então, com um caráter de classe: as ideias da classe detentora do poder dominam nessa sociedade. Assim, no regime feudal, reinava a concepção do mundo religiosa e idealista dos grandes senhores proprietários de terra, eclesiásticos e leigos, cuja hegemonia do cristianismo se expressava na onipresença da Igreja Católica Apostólica Romana. No regime capitalista, domina a concepção burguesa do mundo, propagada por meio da filosofia, da escola e da Igreja, pela imprensa, a arte, etc.
Nos primórdios da sociedade capitalista, a burguesia era uma classe progressista. Na sua luta contra o regime feudal obsoleto, apoiava-se nas ideias avançadas de seu tempo e, quanto ao conteúdo, sua concepção do mundo era progressista, encorajava o materialismo, o ateísmo e a luta contra o cristianismo e o poder papal. Uma vez no poder, renunciou a essas ideias avançadas, e sua concepção do mundo se fez reacionária. As velhas ideias reacionárias unem-se, então, às ideologias de última moda do capitalismo contemporâneo, defendendo o idealismo através de formas renovadas do mesmo. Sob o capitalismo nasceu a concepção do mundo marxista, que expressa os interesses do proletariado revolucionário e de todos os trabalhadores em luta para livrar-se de toda forma de exploração e opressão.
A concepção do mundo não tem unicamente alcance teórico e cognoscitivo. Possui também uma grande importância prática: ao traduzir as opiniões de conjunto sobre o universo, determina a atitude dos homens em relação ao mundo que nos rodeia e serve-lhes de guia para a ação. Ao revelar as leis objetivas da natureza, da sociedade e do pensamento, a concepção do mundo científica e revolucionária orienta a atividade humana de acordo com o progresso da sociedade, acelerando-o deste modo. A concepção do mundo reacionária e anticientífica serve às classes obsoletas em vias de desaparecimento, e freia o desenvolvimento da sociedade. As concepções idealistas e religiosas assumem a defesa dos interesses das classes exploradoras e desviam os trabalhadores de sua luta pela emancipação.
O materialismo dialético e o materialismo histórico formam uma concepção monista e consequente do mundo, que se aplica não só aos fenômenos da natureza, mas também aos fatos sociais e do terreno do pensamento abstrato.
Psicologia social (de classe)
Compreende o conjunto de sentimentos, estados de ânimo, emoções, hábitos, ideias, ilusões, etc. de caráter social que se formam espontaneamente nos homens e se desenvolvem ligados e sob influxo de suas condições cotidianas de existência (sua prática social). É um dos aspectos particulares – um dos mais íntimos e, portanto, um dos mais difíceis de remodelar – e espontâneos da concepção de mundo, da ideologia de uma dada classe. São percepções que não se expressam ainda em forma generalizada nos indivíduos e nas classes como abstrações conscientes, mas como percepções espontâneas, relativamente independentes da consciência, embora determinadas, em última instância, por esta. Se expressam nas simpatias ou antipatias de classe, no ódio a determinados grupos sociais e na confiança em outros, no tipo de reação emocional despertada por determinados problemas, etc.
Os sentimentos e ideias não sistematizadas dos homens (sua psicologia social), assim como todas as ideias, são geradas pela prática social. Um indivíduo está agrupado, em sua prática social, por uma infinitude de grupos, no qual, a forma primeira de prática social do homem – a produção – divide os homens em classes, cindindo, indeclinavelmente, a psicologia social em psicologia de diferentes classes. Cada classe, portanto, tem sua própria dinâmica sentimental, estado de ânimo, gatilhos emocionais e as próprias emoções, hábitos etc. São os instintos de classe – não no sentido natural, mas social, de inclinações surgidas da prática social.
Da psicologia das classes, há que distinguir as peculiaridades de tipo psíquico comuns a todas as classes que formam uma nação ou região, já que, no sentido geográfico e social, as classes comungam uma relativa identidade na sua prática social, sobre a qual se erigem alguns traços psicológicos nacionais, secundários aos de classe. Todavia, na condição da divisão de classes de uma nação, tais traços psicológicos comuns não podem conduzir a uma união nacional, a não ser em momentos excepcionais (como diante de uma invasão e ocupação estrangeiras etc.).
A psicologia social, sendo uma fração relativamente espontânea da concepção do mundo e da ideologia de uma classe, pode encontrar expressão generalizada e consciente nas teorias sociais forjadas pelos intelectuais engajados na luta da classe em questão. As teorias dos intelectuais dos partidos pequeno-burgueses refletem a natureza contraditória da pequena burguesia, sua psicologia particular, suas vacilações entre a burguesia e o proletariado. As classes ascendentes no curso da história (hoje, a única classe nesta condição é o proletariado) se caracterizam pelo seu entusiasmo, pelo seu otimismo e fé no futuro, pela sua disposição ao sacrifício heroico e ao trabalho duro, pela sua resiliência, pela dimensão emocional inferior que dá aos problemas particulares individuais em relação aos históricos da humanidade etc. Pelo contrário, nas classes que abandonam o palco da História (caso da burguesia e da pequena-burguesia, no sentido histórico-universal) domina outra psicologia: pessimismo com relação ao mundo e à própria vida individual, desespero, fuga da vida, individualismo exacerbado em suas diversas manifestações, hedonismo e busca animalesca por prazeres, etc.
O caráter espontâneo da psicologia de uma classe, erigida com base na prática social de tal classe, todavia, não atua de modo mecânico sobre os indivíduos pertencentes a ela do ponto de vista econômico, embora, em última instância, seja ela determinada pela prática social, especialmente a produtiva, dos humanos. Primeiro porque a prática social destes não se limita à sua atividade produtiva, mas se estende à atividade na luta de classes e à sistematização científica que delas fazem – atividades que são dinâmicas em relação à condição econômica dos humanos. Um operário, sendo-o, pode, através de sua prática social na sociedade, identificar-se de tal sorte com a psicologia da pequena burguesia e encarná-la muito mais do que um pequeno burguês médio; assim como um jovem da pequena burguesia, tendo uma prática social determinada na qual se funde com os operários na sua luta de classe – sem, contudo, virar assalariado – e estudando vivamente a concepção de mundo integral do proletariado, pode vir a assimilar como poucos operários a ideologia do proletariado e, consequentemente, a psicologia proletária.