Grandes quantidades de veneno têm sido pulverizadas com uso de aviões sobre as terras da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, no município de Chupinguaia (Rondônia), próximo ao Acampamento Manoel Ribeiro, causando intoxicação dos camponeses que nele vivem, e sérios riscos ambientais à região. Registros feitos pelos camponeses mostram a ação devastadora do veneno, que deixou grandes extensões de terra expostas com a morte da vegetação.
Por dias seguidos o veneno vem sendo lançado sobre a área que, além de cursos de água, conta com a instalação da barragem da Usina Cachoeira Chupinguaia.
Fazendo uso de pistas de pouso situadas nas próprias terras do latifúndio Nossa Senhora Aparecida, algumas das quais às margens da represa da Usina Chupinguaia, os aviões são abastecidos com auxílio de um caminhão adaptado conhecido como uniporte (grilo).
As consequências do crime do latifúndio já são sentidas. Crianças e adultos do Acampamento Manoel Ribeiro e áreas vizinhas passaram a apresentar sintomas de coceiras e alergias desde o início da pulverização do veneno, além de terem encontrado insetos, pássaros e peixes mortos nas proximidades.
O uso indiscriminado dos pesticidas, aplicado na eliminação de parte do pasto e insetos para o plantio da soja, ocorre no momento em que se inicia o período das chuvas, fato este que agrava ainda mais a contaminação dos mananciais, solo e lençóis freáticos com a infiltração do veneno na terra.
O contraste entre a devastação da área envenenada e a mata verde. Foto: Resistência Camponesa.
Assembleia Popular anuncia: Resistiremos!
No dia 28 de outubro, o Comitê de Defesa da Revolução Agrária emitiu nota em defesa da luta pela terra, denunciando e repudiando a campanha de criminalização e repressão contra os camponeses pobres em Rondônia, promovida pelo velho Estado reacionário.
Em nota, as famílias do Acampamento Manoel Ribeiro, que desde agosto de 2020 ocupam as terras da última parte da antiga fazenda Santa Elina a ser retomada, denunciam que os assassinatos de policiais militares no distrito de Nova Mutum-Paraná, norte de Rondônia, ocorridos em outubro foram “uma ação claramente executada por bandos armados do latifundiário Galo Velho na intenção de incriminar os camponeses do Acampamento Tiago dos Santos e lançar contra eles a sanha sanguinária de policiais matadores e seus chefes, guardiães do latifúndio”.
Denunciam ainda que a polícia civil e militar, assim como bandos armados dos latifundiários, tem intensificado a repressão com perseguição, prisão e assassinatos de vários camponeses. E, que se aproveitando da histeria fabricada contra a luta pela terra, assim como o Acampamento Tiago dos Santos, o Acampamento Manoel Ribeiro vem sofrendo sucessivas perseguições e intimidações com incursões em torno da área, blitz, sobrevoo de drones e helicópteros e, recentemente, até mesmo tentativas de infiltração de policiais dentro do Acampamento.
Reafirmando o compromisso com a luta pela terra, os camponeses declaram que não têm nenhuma ilusão com o velho Estado apodrecido que defende o interesse dos ricos e poderosos e dizem: “Basta! Não abaixaremos mais nossas cabeças! Queremos o que é nosso por direito! Aqui queremos apenas um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade, mas nossa luta vai além, queremos justiça, um poder de nova democracia e um Brasil novo para nossos filhos e netos”.
As famílias afirmam também que, “se a ferro e fogo nos despejar das nossas terras, voltaremos amanhã de novo, tendo aprendido como enfrentá-los, pois a lei do povo, confirmada pela história em todo o mundo, é lutar e fracassar, voltar a lutar e fracassar de novo, tornar a lutar até obter a vitória completa e definitiva contra seus carrascos, exploradores e opressores!”.
Por fim, anunciam: “Essas terras estão regadas com sangue dos camponeses que heroicamente resistiram e lutaram por elas em 1995 e dos povos indígenas chacinados por latifundiários e seu velho Estado. E se for necessário, juntaremos nosso sangue ao desses heróis. Assim como os combatentes de Santa Elina em 1995, hoje 25 anos depois gritamos com firmeza: Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!”