Rua Bela, próximo à Avenida Brasil, São Cristóvão, Rio de Janeiro.
O ano de 2021 se iniciou com um salto no número de brasileiros miseráveis. O número cresceu, chegando a quase 30 milhões de pessoas – números que não se via há uma década.
Pelo menos 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 8,20 por dia. Esta é a linha de pobreza extrema (miséria) que foi divulgada pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua e Covid-19.
O menor nível de miséria em toda a série histórica do acompanhamento desses tipos de dados foi visto durante a pandemia, no mês de agosto – pelo fato de que 55 milhões de brasileiros estavam recebendo o auxílio.
Surgido em março, após um acordo feito pelo Congresso e o Planalto, o auxílio inicialmente seria de R$ 200 por vontade do presidente fascista e sua equipe econômica. Porém, percebendo que isso agravaria a crise do capitalismo burocrático e a miséria, instabilidade social e política, os representantes do chamado “centrão” e da direita militar coagiram para que o valor aumentasse para R$600.
Segundo pesquisa do Observatório das Metrópoles e do Observatório da Dívida Social na América Latina (da PUC-RS), o auxílio impediu que 23 milhões de brasileiros de grandes metrópoles caíssem na pobreza. Outra pesquisa, dessa vez do Datafolha, publicada no dia 21 de dezembro, mostrou que 36% das famílias que receberam o auxílio não têm outra renda.
No mês de agosto começaram a ser pagos R$ 300 (a metade do valor, já insuficiente). Por consequência, 75% das famílias já reduziram a compra de alimentos, e 65% diminuíram a compra de remédios. A inflação intensificou este cenário. No ano passado, ela chegou a 6,3% para famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos.
O benefício não representou nenhuma mudança na questão do desemprego, e, por consequência, tão logo foi suspenso houve um aumento que superou até mesmo o patamar que estava antes do início da pandemia.
A realidade é que o auxílio estava mascarando a situação de que milhões de brasileiros ficaram desalentados, sem nenhuma fonte de renda – reflexo no país da crise geral de superprodução do imperialismo, impulsionando a crise geral do capitalismo burocrático.
Auxílio serviu para mascarar crise
A necessidade de criar conta digital na Caixa foi um fator que, na prática, excluiu parcelas gigantescas da massa de pobres e miseráveis espalhados nos rincões do país, a qual não possui acesso à internet. Com toda burocracia, atraso e humilhação nas filas de bancos, a grande maioria dos informais teve que lutar para ter como única renda, durante longos meses, os R$ 600. Ainda assim, tiveram uma queda na renda absoluta.
O ano de 2021 marcou também um crescimento no endividamento: a cada 100 famílias, 66 têm dívidas de algum tipo. Na tentativa de manter o padrão de consumo com a perda de renda na pandemia, as pessoas tomaram empréstimos, sobretudo consignados a aposentados. Tal fato fez com que as famílias mais pobres passassem a contar com a renda dos aposentados na composição da renda. Por consequência, 14% das famílias pobres endividadas não têm condições de pagar. É a festa dos bancos promovida pela sangria do povo.
Frente a esta desgraça social, os cínicos das classes dominantes se unem, sem distinção, em torno da posição de que a “crise do orçamento público” impede o governo de prolongar o auxílio. Esta posição é difundida pelo governo de Bolsonaro/generais.
Guedes, o ministro da economia, disse que um novo auxílio só seria implementado em um cenário de falha no processo de vacinação e, chantageando o povo, disse que geraria o congelamento de verbas para Saúde, Educação e salários de servidores públicos.