O desenhista e pintor Igor Totti dedica suas obras à luta do povo brasileiro e seus heróis. O artista, que retrata também as lutas dos povos oprimidos no mundo contra o imperialismo, concedeu entrevista ao AND. Ele contou como foi seu primeiro contato com a arte e seu processo de desenvolvê-la e colocá-la a serviço do povo.
— Adolescente, eu desenhava. As pessoas próximas diziam que eu desenhava bem, então pensei em formas de ganhar dinheiro com isso e a tatuagem se apresentou como essa possibilidade. Eu tatuei um tempo, comecei com 17 anos; algo que me chateava era que eu era uma impressora, não conseguia colocar conteúdo nas coisas. Isso era também pela minha condição na época, da minha ideologia, dos conhecimentos que não tinha e que hoje tenho, principalmente da prática que eu não tinha. Naquela época não tinha capacidade de colocar um conteúdo que me desse energia para continuar a fazer o que estava fazendo. Foi tendo contato com o jornal A Nova Democracia e fazendo parte das atividades do Comitê de Apoio que isso mudou.
Ele conta que foi no fim de 2019 que, referenciando-se por outros artistas populares, pôde fundir o ideal que acredita com a produção de arte.
— Foi aí que voltei a desenhar. Eu voltei seguindo a correnteza de outras pessoas que eu acompanhei na luta, não foi de maneira isolada que eu tive essa ideia, mas vendo outros companheiros, como o [Antônio] Kuschnir, se aproximando da linha do jornal, outros artistas como o Vini [Vinoli], o Castellucci, a Gabriela Baldo e outros.
Ele prossegue contando um pouco da sua história com o AND.
— Eu conheci o jornal nas manifestações contra a Copa em 2014, que foi quando comecei a atuar no grêmio estudantil da minha escola. Em 2017, quando fiquei sabendo pelas redes sociais que ocorreria a estréia do documentário Terra e Sangue, sobre o massacre de Pau D’Arco, fui presenciar e esse foi o meu contato realmente direto com o jornal. Lá eu tive a minha primeira grande aula do que o jornal realmente representa.
— Na época esse evento foi apresentado pelo professor Fausto [Arruda] e Patrick Granja, que dirigiu o documentário. Foi aí que eu consegui ver com os meus próprios olhos, tanto em razão do documentário, quanto em razão da palestra do professor Fausto, a situação da luta camponesa no Brasil e a condição de exploração e opressão dos camponeses que estão num regime de servidão. Dessa maneira, consegui enxergar também a resposta que essa massa conseguia dar e, para mim, aquela situação foi um divisor de águas, porque eu vinha passando desde 2014 por espaços diferentes de militância partidária e estava iludido com as eleições. Aquele momento ali foi um divisor de águas com essas ilusões. Assim foi o meu primeiro contato com o jornal. Pouco tempo depois eu comecei a participar do Comitê de Apoio e passei um bom tempo realizando a venda e distribuição do jornal. Foi daí que tive o pontapé para me aprofundar na linha do jornal e estou até hoje aqui, contribuindo, inclusive, com alguns desenhos.
Quando questionado sobre suas referências, ele responde:
— Sempre fui muito apaixonado pelas pinturas clássicas da história do socialismo. Era algo que sempre prendeu minha atenção. Eu parava e olhava, tentando entender como aquilo havia sido feito. Tentava imaginar a produção da obra, daqueles quadros do realismo socialista, da União Soviética e da China Popular. Os quadros retratando sempre muita massa, trabalho dos camponeses, dos operários e dos dirigentes revolucionários. Nas condições materiais que a gente vive, só conseguimos ter contato com essas coisas pela internet; a gente vê as fotos pela internet e a resolução acaba retirando bastante da qualidade da obra. Eu ficava imaginando como eram aqueles quadros presencialmente, com cinco ou seis metros, pintados a óleo com massas e massas. Eu ficava impressionado e isso sempre foi algo que quis fazer. Ainda me desafio a conseguir fazer coisas assim. E, sobre a questão política, os artistas que produziram esses quadros são as massas, então tem uma grande diferença.
— Uma coisa é o realismo totalmente baseado na ascensão da burguesia, no período do renascimento. Os academicistas barrocos que representam a burguesia em ascensão. Rembrandt, por exemplo, é um dos nomes dentre vários que a gente acaba lembrando. Agora, outra coisa são as obras realizadas pelo realismo socialista: foram realizadas pelas massas. Existem quadros que foram feitos por dezenas de pessoas, não uma só; então não temos conhecimento do artista em específico. Isso aconteceu muito na Revolução Cultural na China Popular. Não se sabe o nome do indivíduo, mas sim, que foi feito pelas massas e o que isso representava: o trabalho duro, a vida simples do povo. É impressionante, essa sempre foi minha maior referência.