Desde o dia 4 de fevereiro, cerca de 380 famílias camponesas que vivem no Projeto de Assentamento (PA) Nova Floresta, localizado nos municípios de Governador Jorge Teixeira e Campo Novo, no estado de Rondônia, seguem sendo despejadas de maneira irregular por dezenas de militares depois do ex-senador, latifundiário e grileiro de terras, Ernandes Santos Amorim, reivindicar ser o proprietário da área.
O despejo ocorre mesmo com o seu adiamento em 30 dias após uma reunião realizada no dia 02/02 junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A encarregada de tirar as terras dos camponeses para destiná-las ao latifúndio foi a Polícia Militar de Rondônia, acompanhada de oficiais de Justiça da comarca de Buritis e Jaru. Na manhã do dia 04/02, um helicóptero da polícia sobrevoava a área, enquanto várias tropas fortemente armadas cumpriam o papel de expulsar os camponeses de suas casas.
Segundo denúncias enviadas à redação de AND, militares passaram a noite no local para que, pela manhã do dia seguinte, continuassem a empreitada contra os camponeses. Ainda de acordo com as denúncias, os pistoleiros aguardavam em carros pretos na estrada. Um vídeo gravado pelos trabalhadores mostra também tratores dos reacionários derrubando casas.
Caminhões de mudança levaram famílias camponesas e seus pertences para colégios em cidades vizinhas. Há relatos de que muitos desses caminhões que transportavam objetos pessoais ainda não foram localizados. Outro camponês denuncia: “Eles levaram nós lá para Buriti e botaram dentro de um colégio lá, agora o senhor imagina, botaram mulher, moleque pequeno, bicho, cabrito, cachorro, galinha, tudo dentro de um colégio. Se tem esse tal de coronavírus, por que que vai tirar, vai desapropriar as pessoas e colocar dentro do colégio, aglomerar? Falei pra eles: Cadê o tal do coronavírus? Eles falaram: Não quero nem saber, o lugar de vocês é lá!”.
Os camponeses denunciam ainda que os militares, além de promoverem aglomerações, não usavam máscaras e espirravam em meio aos trabalhadores.
Em outro vídeo um camponês afirma: “O pessoal vai tentar produzir”, se referindo aos camponeses que vivem há quase 30 anos nas terras, e prossegue denunciando: “Uma área com quase 20 mil hectares de terra para um só dono só explorando minério ilegal e a exploração da madeira”.
Histórico da área e a grilagem
A chamada “Fazenda Amorim” é apenas outro nome dado às terras da Gleba Rio Alto de propriedade da União Federal, cuja área está estimada em 22,7 mil hectares. Essa Gleba abrange também parte do PA Nova Floresta, projeto criado pelo governo federal em 1990 para assentar 408 famílias em parcelas de 50 hectares, em que para os camponeses sem ou com pouca terra apenas 88 lotes foram oficialmente criados.
Quem nomeou a área posteriormente de Fazenda Amorim foi o ex-senador da república pelo estado de Rondônia, Ernandes Santos Amorim, que diante da incompetência do Incra no processo de repassar as terras para as famílias que necessitavam, grilou toda a área.
Ainda como parte do modus operandi dos grileiros, tal área não se encontra apenas no nome do ex-senador, mas no de sua ex-esposa, Adriana Ferreira da Silva, irmão e outros moradores de Teixeira de Freitas, cidade da Bahia. No local funciona um garimpo de cassiterita como também a extração de madeiras nobres, empreendimentos ilegais administrados no período mais recente pela ex-esposa de Amorim.
O pedido de “reintegração de posse”, por sua vez, foi feito por Cláudia Rosana Gonçalves Pereira que mora na cidade de Teixeira de Freitas, há mais de 3 mil quilômetros de distância da área.
Outros processos visando a expulsão dos camponeses são movidos ainda pelo irmão do ex-senador, Olisvaldo Santos Amorim e pela advogada Josimara Ferreira da Silva Ponce.