Uma investigação da Polícia Federal (PF), iniciada após a prisão do sargento da Força Aérea Brasileira (FAB), Manoel Silva Rodrigues, preso em um aeroporto na Espanha por transportar 39 quilos de cocaína em um avião da Força, revelou existir uma verdadeira organização de narcotraficantes dentro da Aeronáutica.
A operação cumpriu, no dia 2 de fevereiro, 15 mandados de busca e apreensão contra 13 alvos suspeitos (dez pessoas físicas e três empresas). Segundo a PF, os investigados se associaram “de forma estável e permanente, para a prática do crime de tráfico ilícito de drogas”.
As investigações – que seguem a passos lentos –, trouxeram novidades na última semana. A operação, nomeada Quinta Coluna, mostrou que além do piloto Rodrigues, estão entre os suspeitos de integrar a organização a sua esposa, Wilkelane Nonato, o sargento da FAB, Jorge Luiz Cruz da Silva e o tenente-coronel do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Alexandre Piovesan.
Os alvos foram indicados através de uma denúncia anônima, e a PF ainda tenta estabelecer as relações entre os transportadores da droga e os fornecedores. Para isso, os investigadores separaram os suspeitos em três núcleos: aqueles que seriam os transportadores de drogas, ou seja, familiares de Rodrigues e militares da Aeronáutica, e os fornecedores de drogas, os donos das empresas investigadas.
O tenente-coronel Alexandre Piovesan, que foi exonerado após ter seu nome divulgado como suspeito no caso, encontrou Wilkelane, esposa de Rodrigues, no mesmo dia em que o sargento foi preso na Espanha. Piovesan ainda era tido como amigo próximo de Rodrigues, e, segundo outros militares ouvidos na investigação, dava benefícios a esse durante o serviço, bem como informações privilegiadas para efetuar as operações ilegais.
Outros militares do GSI que também estão diretamente ligados à operação que transportou a droga estão depondo como testemunhas. São eles: major Benini, o escolhido para acompanhar a situação no instante que a polícia espanhola encontrou a droga; tenente-coronel Luis Rosal, militar de alta patente a acompanhar a apreensão da droga, também do GSI; e Alexandre de Carvalho Ribeiro também membro do GSI e comandante da aeronave.
Todos esses militares de alta patente envolvidos no caso são subordinados ao coronel Eduardo Alexandre Bacelar, diretor do departamento de coordenação de eventos, viagens e cerimonial do GSI.
Outro investigado como membro da organização criminosa é Jorge Luiz Cruz da Silva, sargento da FAB, que é apontado como o “recrutador” de militares para a atividade de tráfico internacional de drogas. Segundo a PF, Silva “atuou como recrutador e intermediário dos verdadeiros donos da droga”. Silva se tornou suspeito, após quebras de sigilo telefônicos mostrarem que ele e Rodrigues se encontraram nas vésperas das duas viagens que o piloto tinha feito transportando drogas para a Espanha. Dois meses antes de ser preso em Sevilha, Rodrigues fez uma viagem para uma missão oficial em Madri, na qual suspeita-se de que o sargento também tenha transportado drogas.
Silva também trocou de telefone logo após a prisão do piloto. Outro fato, no mínimo curioso, é que Silva trabalhava como assessor especial do vice-governador do Distrito Federal, Paco Britto. O militar tinha o salário bruto de R$ 8.246 no gabinete. Silva também foi por duas vezes candidato a deputado distrital em Brasília pelo Partido da Mulher Brasileira (PMB). Na ocasião, o militar declarou não ter bens. Contudo, testemunhas disseram que Jorge “melhorou bastante de vida” nos últimos anos, e de forma “muito rápida”. Jorge teve o pedido de prisão expedido, porém esse foi negado pelo Ministério Público.
Por fim, de acordo com a PF, Wilkelane participava do esquema desde as tratativas iniciais para o transporte da droga. Após a prisão do militar, ela sumiu com R$ 40 mil e um celular que o sargento usava para se comunicar com os comparsas.
A polícia também descobriu que, após a viagem do piloto a Madri, o casal fez várias aquisições materiais como veículos e imóveis. Em uma mensagem Wilkelane diz “No meu controle saiu isso aqui já” postando foto de uma calculadora com os dígitos R$ 76 mil. Rodrigues respondeu “Não fala disso aqui”. Além disso, após chegar de Madri, o sargento enviou a seguinte mensagem para a esposa: “Vou deixar logo as malas do coronel”. Wilkelane também teve o seu pedido de prisão negado pela justiça.