No dia 11 de maio, cerca de dez pistoleiros invadiram a comunidade Lote 96 da Gleba Bacajá, em Anapu, no estado do Pará, onde vivem 54 famílias, e incendiaram duas residências de camponeses. Este ataque soma-se a pelo menos quatro outros incêndios criminosos perpetrados pelo latifúndio contra os camponeses nos últimos dois meses.
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Casas destruídas pelo latifúndio em Anapu
O ataque à Gleba Bacajá
Por volta das 11h, em duas picapes de cor prata, modelos Triton e Hilux, um bando encapuzado e fortemente armado após cortar as cercas que circundavam as terras camponesas, invadiu a comunidade do Lote 96. Identificando-se como policiais, os pistoleiros disseram portar uma ordem de despejo e deram 20 minutos para que as famílias saíssem das casas.
As famílias ficaram cerca de uma hora e meia sob a mira das armas do bando paramilitar que afirmava cumprir a ordem de despejo inexistente. Crianças que filmavam a ação foram também atacadas. Os camponeses denunciaram, ainda, que duas viaturas adentraram a área durante o ataque e cruzaram com os invasores, mas nada fizeram.
A área em questão está localizada no sudoeste do Pará, às margens da rodovia Transamazônica e é terra pública. De acordo com denúncias dos camponeses, o local havia sido grilado durante o regime militar de 1964 pelo latifundiário Antônio Borges Peixoto, morto em abril deste ano. O mesmo teve o título de propriedade cancelado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2016.
Fogo se alastra
Este ataque ocorrido no Pará soma-se a ao menos quatro outras ações perpetradas pelo latifúndio contra os camponeses por todo o Brasil nos últimos dois meses. Os incêndios criminosos, velha arma de guerra manejada pelos bandos paramilitares que agem a serviço do latifúndio, têm municiado as campanhas de terror contra as famílias que lutam pelo justo direito à terra.
No ano de 2021, mais de 167 mil famílias camponesas foram alvos de ataques contra ocupação e posse, segundo o relatório produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Entre os ataques, a destruição de casas, pertences e roçados em 2021 afetou 18,4 mil famílias, um aumento de mais de 102% com relação aos registrados no ano anterior.
No dia 11/04, pistoleiros invadiram um assentamento na comunidade Gado Bravinho, no município Balsas, no Maranhão. A casa de Raimundo de Assis Pereira, liderança camponesa, foi incendiada e sua esposa foi agredida.
No dia 19/04 a aldeia Pagoa Hagoia do povo Suruí, situada em Rondolândia (Mato Grosso), foi invadida e três casas foram incendiadas. Entre elas estava a casa do cacique Matera Suruí.
Em 23/04 pistoleiros em dois carros invadiram a área Ramal da Parabrilho, em Cutias do Araguari, município de Macapá. Após ameaçar os camponeses, um bando paramilitar à serviço do latifúndio ateou fogo em uma das casas. Os pistoleiros naquela mesma semana haviam queimado mais quatro casas.
No dia 03/05 latifundiários montaram um cerco à Ocupação Ana Primavesi, localizada no Distrito Federal. Os reacionários atearam fogo às redondezas e contra as famílias, deixando alguns camponeses feridos.
Em todos os casos acima relatados, não foi constatado que as tentativas de intimidação surtiram o efeito de expulsão. O que se gesta é uma situação explosiva, onde o fogo inimigo só tende a acender chamas incontroláveis pelos mesmos, onde no lugar de devastação, a luta camponesa fará nascer o novo.