Há doze anos, cinco músicos da região de Campinas-SP, de formações erudita e popular, apaixonados por choro e dispostos a lutar em favor do mesmo, reuniram-se e formaram o Choro Bandido, que hoje anima o interior paulistas em rodas de choro, shows e eventos, contagiando muita gente. Daniel Romanetto, cavaquinista autodidata, além de tocar no grupo, apresenta dois programas de música brasileira em rádio local, sobre choro e também samba, divulgando a cultura do povo.
— O choro aqui em Campinas é muito querido. Desde as comemorações do centenário do Pixinguinha que iniciou uma onda forte de chorões pela cidade, tanto que a Unicamp já tem matéria sobre choro, o que é uma grande vitória para nós, que amamos o gênero e a música brasileira em geral. E tem um pessoal muito dedicado ao choro lá estudando, dá até gosto de ver — afirma Daniel, acrescentando que o nome do grupo nada tem a ver com a música Choro bandido, de Edu Lobo.
— É um nome forte que decidimos usar por gostarmos de tocar um choro mais ousado. Posso dizer que temos nosso próprio estilo, que é uma mistura dos vários estilos com o nosso jeito pessoal — explica.
Além de Daniel, o grupo tem: Anderson Alves no clarinete, Chiquinho no Pandeiro, Toninho Máximo no bandolim e André Ribeiro no Violão de sete cordas.
— Apesar de mal divulgado, tivemos o privilégio de conhecer choro desde criança. Meu pai era seresteiro, e isso facilitou o meu acesso à boa música: além do choro, ouvia muito samba canção. Os outros companheiros de grupo também têm formação no choro desde moleques. Só o nosso clarinetista é que veio do erudito e começou tocando choro conosco — conta.
Daniel parece até carioca quando declara que seus gêneros do coração são o choro e o samba, já que ambos são referências da cultura popular do Rio de Janeiro.
— Mas aqui também tem, e muito. É claro que não é igual ao Rio. Contudo, um pouco de choro veio para cá, e como na essência somos todos brasileiros, contaminou o povo daqui. Na verdade, o choro sempre existiu em campinas com o pessoal da velha guarda, que fazia rodas na casa dos amigos, alguns saraus. No entanto, fomos o primeiro grupo a trabalhar o choro profissionalmente nos bares da região — conta.
— Nas noites tocamos também sambas. É Noel Rosa, Paulinho da Viola, Adoniran Barbosa, Cartola, e muitos outros, que têm tudo a ver conosco, porque samba e choro andam paralelamente. O samba autêntico, é claro. Podemos observar, por exemplo, que até pouco tempo atrás, todos os instrumentistas de samba eram chorões — constata.
O grupo já conseguiu gravar dois discos. O primeiro por uma pequena gravadora de São Paulo e o segundo independente. No repertório estão clássicos e composições próprias.
— No primeiro disco mesclamos nossas músicas com algumas regravações, mas que foram pouco regravadas, e o segundo é exclusivamente de composições nossas. Vendemos nos locais que nos apresentamos, que são as festas daqui da região e shows, além do Empório do Nono, o bar que nos apresentamos há dez anos aqui em Campinas — conta, acrescentando que o bar já recebeu nomes conhecidos como Zé da Velha.
Tocando e irradiando
Apesar de existir bastante choro no interior do estado, Daniel diz que são poucos os locais que oferecem espaços para os músicos do gênero trabalhar.
— Temos uma resistência por aqui, mas existem os lugares que só gostam de tocar modismos. Contudo, batalhando muito dá para conseguir um 'espacinho'. Mas rodas de choro espontâneas temos muitas. A molecada da Unicamp, que está fazendo choro, vira e mexe, promove algumas em suas casas, e sempre frequentam o bar onde nos apresentamos, nos dando canja — comenta.
— Somos conscientes de que a nossa luta está dando frutos. Lógico que estamos sendo heróis da resistência mesmo, por trabalhar com algo cultural, que não tem espaço na mídia e em lugar nenhum. É como lutar contra a maré, torcendo para que apareçam novos adeptos, e gente para dar continuidade ao nosso trabalho. E isso está acontecendo aqui em Campinas, quando vemos muita gente nova tocando choro e bem — revela.
— Mas não diria que já dá para viver da música instrumental no Brasil, e sim sobreviver, logicamente trabalhando com várias vertentes. Todos os componentes do grupo atuam em outras áreas: eu toco em mais dois grupos de samba e faço gravações, o clarinetista toca em duas orquestras, enfim, o pessoal faz vários tipos de coisas paralelas ao trabalho do grupo. Claro, todos com música brasileira. Somos ligados exclusivamente à ela — declara.
Além de trabalhar em prol do choro tocando, Daniel há um ano e meio está a frente de um espaço para divulgação de companheiros chorões na Radio Valinhos FM, 105.9, em Valinhos, cidade vizinha de Campinas, apresentando o programa Chorando pelos dedos.
— Divulgo trabalhos do pessoal daqui da região e toco clássicos. Também gosto do bate-papo com os chorões ao vivo. É uma rádio comunitária que não tem tão longo alcance, mas o interessante é que de qualquer parte do país, através da internet, a pessoa também pode ouvir o programa ao vivo, bastando acessar o site www.valinhosfm.com.br, as quintas-feiras, das 13 as 14:00 horas — convida.
Daniel conseguiu o espaço na rádio de forma inesperada e aproveitou a oportunidade imediatamente.
— Estava dando uma entrevista na rádio e questionei o motivo pelo qual o choro não tem espaço na mídia, mesmo merecendo. Então a programadora me perguntou se eu aceitaria fazer um programa de choro, caso conseguisse um espaço para isso. Aceitei na hora. Mas é um trabalho beneficente, no qual não tenho lucro. Estou fazendo somente em prol da divulgação do choro — revela.
— E a resposta do público tem sido muito boa. Por exemplo, recebo bastante telefonemas de gente pedindo para ouvir um determinado choro. Isso porque durante a programação, peço para as pessoas ligarem e pedirem a música que não escutam em nenhum lugar. Gosto de interagir para saber se está tendo um retorno. E não tem jabá no meu programa, a pessoa pede a música que quiser, sem interferência minha, e eu toco no último bloco — declara.
— O programa deu tão certo que agora já estou começando um outro, nos mesmos moldes, desta vez de samba (risos). É o Na Passarela do Samba, às sextas-feiras, também das 13 as 14 hs. E da mesma forma pode ser ouvido pelo site da rádio. O programa estreou há um mês, e já tem muita gente do samba na lista dos próximos participantes — conta entusiasmado.