O Haiti tem um histórico de desastres naturais na sua vida de colônia e de nação independente e outro, tão bárbaro quanto, de desastres antinaturais: embargos econômicos, golpes de Estado, invasões, provocados pelos seus inimigos "naturais": os impérios econômicos que jamais aceitaram e continuam não aceitando o ímpeto libertador de um povo a quem a América deve, de fato, a sua libertação.

Homem morto pela polícia haitiana no dia 17 de janeiro
Terremoto e suas Conseqüências
Na última terça-feira, dia 12 de janeiro de 2010, às 19:38 (horário de Brasília), portanto 16:53 , no Haiti (considerando o horário de verão), este pequeno país sofreu seu maior abalo natural neste século. Em meados do século XVIII , o Haiti havia já sofrido um terremoto de grandes proporções. Naquele período a população era menor, o país não era totalmente habitado e a grande maioria era feita de escravos, que pouco ou nada importavam. Hoje é diferente. Temos em uma área de 27.400 km², uma população de aproximadamente 9 milhões de pessoas e um terço dela foi atingida irremediavelmente, segundo cálculos atuais (que prometem alteração) e os haitianos estão no centro do olhar do mundo, seja pelas tragédias, seja pelas suas reações e manifestações contra a invasão do seu país por tropas estrangeiras, sob o pretexto de possível guerra civil, desorganização e por aí afora.
O terremoto atingiu principalmente as regiões oeste, sul e sudeste do país. A grande concentração, de fato, está na capital — Porto Príncipe — , como acontece em qualquer outra capital nas Américas, onde não houve reforma agrária. As pessoas não têm recebido comida e água suficientemente. As ajudas não estão coordenadas. O perigo de doença cresce a cada momento. Já não havia hospitais suficientes; agora, poucos são os que estão em pé.
Mas sabemos que o USA tomou conta do aeroporto e querem comandar o país a partir daí. Não falam em distribuição de provisões para a população faminta e sedenta. mas Hillary Clinton veio em um avião ao Haiti com 140t de alimentos e água para serem consumidos pela embaixada americana. Entraram os marines, que são tropa de choque e não de resgate. E não enviaram equipamentos modernos para ajudar na tarefa de busca de sobreviventes.
Em todo o país, o cálculo de desabrigados está por volta de 3,5 milhões de pessoas. Se a capital está ao léu, que dizer das pequenas cidades atingidas!
Reconstrução
Fala-se em 560 milhões de dólares americanos para a reconstrução do país. Se os países, presentes no Haiti, através de suas organizações, já estão brigando entre si para a entrega de alimentos e água, imagine-se então quando se tratar de dinheiro. Quem não quer ser o controlador de tal quantia?
Mas podemos perguntar que reconstrução será essa, porque este país já nada tinha: não há ruas quase, calçadas menos ainda; energia elétrica que cai a cada momento em bairros de classe média alta; favela... nem pensar, além de não ter energia, também não há saneamento básico e daí afora. Ninguém está falando em reflorestamento, reforma agrária e reforma habitacional, crédito a pequenos agricultores...
O embaixador do Haiti no Brasil, Idalbert Pierre-Jean, já se encarregou de explicar que há três etapas, conforme o texto de Graziela Sirtoli que diz que, primeiro, é preciso retirar os mortos e os entulhos da cidade; depois, dar assistência aos vivos e reconstruir as casas; e, por último, um encontro que está previsto para março: a Conferência dos Líderes Mundiais, que decidirão o que fazer com o montante das doações em dinheiro.
Este é o momento de os grandes grupos entrarem no país para propor uma "reconstrução" à sua maneira - tal como fizeram na Cidade do México, na década de 80: sempre com o aval do Estado, compraram terrenos a preço de banana, construíram em outros e venderam minúsculos apartamentos a preço "razoáveis" para a classe média, que ainda devem estar pagando-os a perder de vista ou até que o próximo terremoto venha a revelar o que pagaram caro por essas construções frágeis. No Haiti, as grandes construtoras já devem estar negociando participação na aplicação desse dinheiro. E o povo haitiano pobre reconstruirá as suas favelas e continuará defecando no mato.
Repressão
Um povo já faminto, numa hora dessas reclama da lentidão dos que comandam a ajuda e busca a sua sobrevivência.
As organizações humanitárias brigam entre si para controlar as doações , mas não sabem nem o que fazer com os cadáveres, o que leva os parentes das vítimas — quando há um reconhecimento — a enterrá-los por conta própria. Há caso de pessoas que estão enterrando seus mortos no quintal da casa. E dizem que gangues armadas estão roubando as pessoas que estão recebendo comida. Há 800 soldados do Brabatt (Comando do Batalhão Brasileiro) patrulhando as ruas para "controlar a violência" usando armas letais. A resposta sempre é a repressão armada, para esconder a desorganização dessas instituições que se nunca aprenderam lições de democracia e civilidade, quanto mais de humanidade!
Resultado: Nada nos autoriza pensar que do ponto de vista da natureza, do meio ambiente e mesmo do ponto de vista político, a situação pode mudar no curto prazo. O terremoto não é senão uma desgraça a mais para um povo que está entre a desaparição e a morte.
Proposta
O Comitê Pró-Haiti está propondo a criação de uma frente ampla com o objetivo de construir uma coordenação nacional para a retirada das tropas, disseminar esta idéia em outros países e trabalhar em frente ampla com as coordenações já existentes em países cujas tropas se encontram no Haiti. Além disto, entende este Comitê que é preciso abrir uma Conta Solidária, cujo sentido é ajudar a reconstrução dos movimentos sociais autônomos e centrais de trabalhadores, únicas opções sérias para o futuro deste país.
USA descarta intermediários
e ocupa diretamente o Haiti
Tão logo ocorreu o terremoto que
arrasou o Haiti os ianques tomaram a decisão de afastar os intermediários
e assumir diretamente o controle da situação, começando
pela tomada do aeroporto e do porto. Esta medida serviu para mostrar aos
que estavam se achando os donos do circo, como Luiz Inácio, quem realmente
manda.
A tomada do aeroporto estabelecia que a prioridade não era
salvar os haitianos, e sim os seus concidadãos que lá estavam
e precisavam ser resgatados. Em seguida tomar todas as medidas de segurança,
para evitar uma corrente de refugiados para a Flórida, ocupando o
porto e estendendo com barcos-patrulha um cordão de isolamento por
mar para prender e mandar de volta qualquer barco de refugiados.
Aviões
de vários países e da Cruz Vermelha, com alimentos
e medicamentos, tiveram que retornar pois não receberam autorização
para pouso, aumentando assim o sofrimento do povo sob os escombros. No dia
20 de janeiro já era de 13 mil soldados o efetivo despejado no Haiti,
quase o dobro do mobilizado pela ONU.
Do Brasil, para dar prosseguimento ao
seu papel de reprimir o povo haitiano, partiram aviões carregados de
armamentos como bomba de gás, spray
de pimenta, balas de borracha e cassetetes, além de mais homens para
fazer o devido uso deste material.
Por mais que o monopólio de comunicação
se esforce para passar a idéia de que o USA vanguardeia as operações
humanitárias, tanto o povo haitiano como o resto do mundo sabem que
o complexo industrial-militar ianque não tem em seu dicionário
o termo humanitário, muito pelo contrário, ele usará todo
o seu potencial bélico para reivindicar para si a condução
do chamado processo de reconstrução do Haiti, aproveitando-se
da solidariedade do mundo inteiro que destinou doações ao país
arrasado.
Obama recoloca Bush na cena política, entregando a ele e a
Clinton a direção do Fundo para Reconstrução do
Haiti. Essa é a demonstração inequívoca de que
o imperialismo ianque sob qualquer administração, democrata ou
republicana, não se desvia um só milímetro de sua vocação
exploradora e genocida sempre justificada através de slogans
humanitários.
A verdadeira solidariedade
No mundo inteiro estão sendo
formados comitês de solidariedade
ao povo haitiano cujo objetivo é prestar apoio direto às organizações
populares, por fora dos governos e exigir a imediata desocupação
militar do país com o respeito à sua soberania.
No Brasil, também
foram formados comitês que de tão amplos
correm o risco de não funcionarem devido a presença dos oportunistas
que aparecem nestas oportunidades para tirar proveito eleitoreiro ou sabotar
o movimento, como ocorreu em São Paulo quando um representante do MST
propôs que doações fossem realizadas através da
logística do gerenciamento brasileiro, o mesmo que manda homens e armas
para reprimir o povo haitiano.