
Operários da Supervia trabalham na remoção do trem ao lado da pilastra destruída
No dia 25 de setembro, uma composição do sistema ferroviário do Rio de Janeiro — administrado pela famigerada concessionária espanhola Supervia — perdeu o controle e se chocou com uma plataforma de embarque e desembarque deixando vários trabalhadores feridos. Ao menos 16 pessoas foram atendidas nos hospitais da região, uma delas em estado grave. O acidente aconteceu na estação de Madureira, no coração do subúrbio carioca.
Uma das pessoas feridas foi a empregada doméstica Maria Carolina, de 58 anos. Ela viaja de segunda a sábado de Japeri até o Centro do Rio, onde pega o metrô até Copacabana. No total, são três horas de viagem para ir e três horas para voltar do trabalho quase todos os dias. Pelo telefone, nossa reportagem conversou com a trabalhadora, que torceu o pé no acidente.
— Quando teve a batida, todo mundo caiu no chão um por cima do outro. Foi um desespero e uma correria. As pessoas tentavam abrir as portas e as janelas, mas não conseguiam. Ficou todo mundo sufocado. Os homens começaram a quebrar as janelas e o pessoal conseguiu sair. O susto foi grande. Não foi a primeira vez que passei por isso. No ano passado, o trem saiu do trilho comigo dentro em Queimados [Baixada Fluminense], mas eu não me machuquei. Falaram que morreram só quatro pessoas, mas morreram muito mais. A gente que anda nesses trens todo dia tem que contar com a sorte — lamenta.
— O trem nunca melhorou no Rio. Essa época de política, a gente vê candidato falando que o transporte melhorou, que o povo agora tem conforto, mas eu pego trem há mais de 30 anos e nada mudou nesse tempo. É sempre o mesmo problema: trem andando de porta aberta, barulho, os vagões sempre lotados, ar-condicionado não funciona. Sem contar com os defeitos que dão no trem. Hoje em dia, o povo anda mais pelos trilhos do que os próprios trens. Às vezes passa na televisão, quando o pessoal se revolta e quebra tudo, mas eu vou e volto de Japeri para o Centro todo dia e quase sempre vejo trem de outro ramal parado e o povo descendo e andando no meio dos trilhos. Um perigo. Fazer o quê? Esse é o transporte que dão para o povo — protesta.
Perguntada sobre os novos trens comprados pelo gerenciamento estadual, dona Maria Carolina foi enfática:
— Esses trens que eles disseram que compraram na China nunca circularam no ramal de Japeri. Nunca vi, nunca entrei. Não faço a mínima idéia de como é — denuncia.