Norte de Minas: Camponês é encontrado morto em área de conflito agrário; LCP e advogados exigem investigação

Norte de Minas: Camponês é encontrado morto em área de conflito agrário; LCP e advogados exigem investigação

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Segundo denunciou a Associação Brasileira dos Advogados do Povo Gabriel Pimenta (Abrapo), na madrugada do dia 3 de fevereiro, na cidade de São Francisco, norte de Minas Gerais (MG), o jovem camponês Raimundo Adalton Mendes Rodrigues, de 34 anos, foi encontrado morto com sinais de afogamento no Rio do Cais. O camponês fazia parte da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) do Norte de Minas e Sul da Bahia e deixou dois filhos. A Abrapo questiona a versão dada pelas autoridades de “acidente”.

De acordo com a Abrapo, o jovem, que não sabia nadar, estava acompanhado de desconhecidos em um barco. A associação também afirma que vídeos de câmeras de segurança mostram que o camponês, após cair na água, “afunda por duas ou três vezes e volta à superfície, até afundar definitivamente”, sem socorro.

Adalton trabalhava em terras arrendadas e irrigadas, além de trabalhar como operador de máquinas. A Abrapo afirma que, por ser membro da LCP e ter apoiado diversas tomadas de terra na região desde 2017, a morte de Adalton poderia ser encomendada pelo latifúndio.

Abrapo denuncia negligência do velho Estado

Segundo a Abrapo, que esteve no local e acompanhou os desdobramentos, a notícia do desaparecimento se espalhou pela cidade no dia 02/02, mobilizando moradores e pescadores profissionais para procurar o corpo do jovem camponês, no entanto, a Polícia Militar (PM) de São Francisco barrou as buscas.

Os camponeses denunciam que tiveram que esperar por uma unidade socorrista do corpo de bombeiros, deslocada da cidade de Montes Claros (à 163,2 km de São Francisco), porque não existe unidade dos bombeiros na cidade de São Francisco, assim como na maioria dos municípios ribeirinhos do Norte de Minas, denuncia a Abrapo. Quando da chegada dos bombeiros, após três horas, já adentrando a noite, as buscas foram suspensas, de acordo com o “protocolo oficial”.

A Abrapo relata que, durante a madrugada do dia 03/02, “sofrendo de uma agonia e aflição indescritível”, a família da vítima não dormiu e se deslocou para a margem do rio, acompanhada de ativistas de movimentos populares, dos quais o jovem Dalton era membro. No mesmo dia, comunicados de interesse públicos foram feitos na rádio São Francisco FM, a pedido da LCP, convocando os ribeirinhos e os pescadores para apoiarem nas buscas. Esse apelo foi respondido por centenas de pessoas que se prontificaram e se solidarizaram com a situação.

Somente 24 horas após a morte do camponês, o corpo pôde ser encontrado após boiar por processo natural e ser visto no cais por uma criança, populares e familiares que, mesmo sem autorização, participavam das buscas em solidariedade à família do camponês. Segundo a Abrapo, a família foi comunicada e compareceu na delegacia para buscar informações sobre a ocorrência, tendo recebido da unidade policial os objetos pessoais da vítima, como carteira, chinelo, roupas e outros, encontrados na margem do Rio no Cais. Uma mochila não foi encontrada.

Corpo é encontrado, mas fica retido sob sol escaldante por mais 3 horas

O corpo de Adalton ficou retido sob sol escaldante por mais de 3 horas, à espera de um perito da cidade de Januária, visto que não há perito em São Francisco, denuncia a Abrapo. Após isso, foi negado o direito de velar o corpo do camponês, sendo aplicado ao corpo e à família um protocolo de tempos de pandemia: caixão lacrado e sem velório. Homenagens foram prestadas em seu funeral.

Movimentos populares e população de São Francisco exigem apuração imediata sobre a morte de Adalton

A Abrapo, em nota, exige apuração imediata e eficiente sobre a morte do camponês. A associação também exige que o Ministério Público (MP) fiscalize e reveja a política de perícias na cidade de São Francisco e região, e denuncia a proibição da participação popular nas buscas de desaparecidos. A LCP afirma que não irá descansar até que tudo seja esclarecido.

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