Duas migrantes aguardam em bancos na área de detenção onde centenas de crianças migrantes são detidas enquanto têm suas entradas processadas.
Na segunda metade do mês de maio surgiram diversos relatos de imigrantes nos centros de detenção do Serviço de Imigração e Controle Alfandegário do USA (ICE, sigla em inglês) na Flórida e na Califórnia, que, sob o pretexto do coronavírus, utilizava substâncias químicas de higienização intoxicantes e perigosas que estavam causando diversos efeitos colaterais aos abrigados, como queimaduras, sangramento e dor.
Em 23 de maio, uma organização chamada Friends of Miami-Dade Detainees fez uma queixa ao Escritório de Direitos Civis e Liberdades Civis sobre o uso de um produto chamado “Desinfetante de Menta” em Glades, na Flórida. O produto causa dano severo aos olhos, irritação aos olhos e não deve ser exposto à pele. Desde do dia 14 de maio, detentos em Glades se queixaram à organização sobre o uso do produto num ambiente não ventilado e sem cuidado quanto ao contato do produto com os imigrantes.
Em 21 de maio, o grupo de Coalizão Interna de Justiça aos Imigrantes e o grupo de advocacia Liberdade aos Imigrantes enviaram uma queixa expondo as condições do centro de detenção de Adelanto, na Califórnia, uma das maiores unidades da ICE.
O centro de Adelanto é operado pelo Grupo GEO, uma empresa privada de prisões que têm contratos com a ICE para comandar várias unidades. O Grupo GEO tem centros de detenção e instalações correcionais pelo USA, Austrália, África do Sul, Canadá e Reino Unido.
Rebekah Entralgo, do grupo Liberdade aos Imigrantes, declarou que o uso agressivo de desinfetantes tóxicos pelo Grupo GEO era um "ato aparente de retaliação" por antes, no mês de abril, ter sofrido denúncias sobre a falta de cuidados sanitários diante da pandemia, usando apenas água para limpar os ambientes.
Segundo o relato de um detento, "os guardas começaram a usar sprays químicos por toda parte, em tudo, o tempo todo. Isso causa uma reação terrível na nossa pele. Quando eu sopro meu nariz, sai sangue. Estão nos tratando como animais. Uma pessoa desmaiou e foi levada [pelos agentes], não sei o que aconteceu a ela. Não há ar puro”.
Alguns detentos que ligaram aos grupos identificaram o agente químico usado em Adelanto pelo nome de HDQ Neutral, escrito nas garrafas que viram. O guia de segurança do HDQ Neutral feito pelo seu fabricante, Spartan Chemical, avisa que o desinfetante é perigoso se inalado e que causa queimaduras severas na pele e sério danos aos olhos. O guia especifica que o produto só pode ser usado em ambientes abertos ou bem ventilados e que equipamentos de proteção devem ser utilizados ao manejar o produto.
Os relatos falam que a equipe do centro de detenção está aplicando o produto a cada 15 minutos, mais de 50 vezes por dia, em lugares sem ventilação. A queixa disse que "ao menos nove" detentos sofreram de sintomas intensos desde o dia 11 de maio, incluindo bolhas, erupções cutâneas, sangramento, desmaios, dificuldades respiratórias, dores de cabeça, dor de estômago e náusea. Diversos detentos reclamaram de não receber tratamento para esses sintomas. Em contrapartida, os guardas usam equipamentos de proteção ao aplicar os produtos.
A ICE reportou que até o dia 23 de maio haviam 25.911 detentos, e que havia feito testes de coronavírus em 2.670. No total, foram identificados 1.392 casos confirmados nos presos, um número muito alto quando comparado ao número de testes.