Camponeses indígenas são covardemente assassinados por policiais durante protesto contra petrolífera. Foto: Otto Manuyama
Três camponeses indígenas morreram e 17 pessoas ficaram feridas (entre eles seis policiais) em um confronto entre policiais e nativos, no dia 9 de agosto. O confronto ocorreu após os camponeses ocuparem as instalações do Lote de Petróleo 95, administrado pela empresa PetroTal. Os camponeses exigem o fim das operações que contaminaram os solos da região de Loreto, além de denunciar o abandono do povo na região pelo velho Estado, gerando um grande número de mortos pela Covid-19. Diante do assassinato dos camponeses, a empresa anunciou que as atividades no local seriam interrompidas.
Desde o dia 05/08, cerca de 70 camponeses deixaram a comunidade de Bretaña, província de Requena, rumo às instalações do Lote de Petróleo 95. James Rodriguez, ex-presidente da Associação de Comunidades Nativas Kukama Kukamiria (Aconakku), contou ao jornal Mongabay Latam o que aconteceu: "Eu estava no grupo que veio ontem à noite para conversar com os representantes da empresa petrolífera. Eles nos disseram que não podiam falar, que não tinham nenhuma autorização, então os irmãos decidiram tomar conta das instalações. Preparamos-nos com as lanças, não com as armas de fogo. Foi quando estávamos unidos que eles apagaram as luzes e iniciaram uma enxurrada de balas de arma de fogo. Eles não atiraram no ar, mas para matar", disse o dirigente indígena.
As comunidades indígenas exigem que a empresa PetroTal e o velho Estado instalem serviços básicos em suas áreas, pois até o momento carecem de eletricidade permanente e de uma rede de água potável. Eles também exigem que as condições de serviço de saúde sejam melhoradas, especialmente com a situação atual na Amazônia peruana devido à pandemia da Covid-19, com o Peru sendo o segundo país latino com maior número de indígenas infectados pela doença (sendo o primeiro o Brasil).
Jorge Perez, presidente da Organização Regional dos Povos Indígenas do Leste (Orpio), expõe o não cumprimento dos acordos sobre o fundo a ser investido nas comunidades. "O que os irmãos da bacia de Puinahua estão alegando é que nem a empresa PetroTal nem o Estado se manifestaram, nem no contexto da pandemia e nem antes deste período. Eles tinham uma agenda local com o Estado na qual parte da produção de petróleo sob controle entraria em um fundo a ser utilizado para investir nas comunidades, mas isto não foi cumprido", afirmou.
Camponeses indígenas resistem bravamente à matança da polícia
Os feridos foram levados por via fluvial para centros de atendimento em Requena, sendo os mais graves levados para Iquitos. Foto: Agnita Saboya
O coronel José Antonio Franco, chefe da Quarta Macrorregião da Polícia de Loreto, disse ao Mongabay Latam que os indígenas estavam "armados de lanças e espingardas" e que "eles começaram a atirar". Isto foi negado pelos líderes das organizações indígenas, que afirmam que eles só carregavam lanças.
O ministro do Interior, Jorge Montoya, confirmou a morte dos três indígenas e as justificou, dizendo que vários membros da polícia foram feridos com balas de arma de fogo. Diante de tal acusação, os camponeses respondem que não dispunham de armas de fogo, e que os ferimentos à bala dos policiais foram infligidos por eles mesmos, que atiraram ao léu no escuro.
Após os eventos, a PetroTal anunciou que suas atividades seriam interrompidas. "Em vista das medidas graves registradas em nossas instalações, a PetroTal é obrigada a anunciar a suspensão total de suas atividades no Lote 95", diz o documento.
15 anos de saque do petróleo
A empresa PetroTal está a cargo do Lote 95 há 15 anos e tenta esmagar a resistência camponesa e indígena contra a atividade monopolista desde então. Ugkum Jempetf, que representa as comunidades Kukama de Bajo Puinahua, onde está localizada a comunidade Bretaña, lembra que em 2019 o povo realizou vários protestos para exigir da companhia petrolífera que instalasse água e eletricidade em sua comunidade, bem como para melhorar as condições básicas de seu centro de saúde.
Em 24 de março de 2019, membros da comunidade indígena Bretaña ocuparam a estação no Lote 95 e, após pressão dos indígenas, o presidente do Conselho dos Ministros, Salvador Del Solar, prometeu analisar a proposta de declaração de emergência do oleoduto do Norte do Peru (ONP) e a revisão da lei de canhões de petróleo, bem como a criação de um fundo de investimento de 10 bilhões de soles peruanos (quase 3 bilhões de dólares) para atender os 25 distritos petrolíferos da região de Loreto, acordo que não foi cumprido, e que se cumprido, visaria apenas um aprofundamento da exploração de petróleo nas regiões.
São retirados os feridos e mortos após o covarde ataque da polícia aos camponeses. Foto: Al Rojo Vivo