Errata: A matéria continha um erro de cálculo. Corrigido em 17/11, às 10h25.
Os números do primeiro turno das eleições municipais, realizado no dia 15 de novembro, dão mostras do grau de desmoralização do sistema político de velha democracia. O número de abstenções, votos nulos e brancos (eleitores registrados que decidiram boicotar as eleições reacionárias) foi recorde.
A média nacional de abstenções – sem contar votos nulos/brancos e as pessoas com idade para votar que não regularizaram seu título – atingiu 23,14%. Nas últimas municipais, de 2016, tal média havia marcado já 17,58%.
Nas principais capitais, o índice de boicote eleitoral foi surpreendente. Através de uma manobra contábil, a justiça eleitoral camufla o tamanho do boicote eleitoral ao divulgar a porcentagem de votos dos candidatos em comparação aos votos válidos, excluindo desse cálculo os nulos, brancos e a quantidade de eleitores aptos que se abstiveram. Para realizar o correto cálculo, é preciso tomar o total de eleitores e tirar a porcentagem de votos dos candidatos sobre esse número total. Confira a seguir. Os dados brutos são do Superior Tribunal Eleitoral.
No Rio de Janeiro, a capital com maior índice de nulos, brancos e abstenções, o boicote eleitoral sobrepassou 45,7% daqueles registrados a votar (2.217.976 de um total de 4.851.298 de eleitores aptos). Crivella e Eduardo Paes receberam, respectivamente, 17,68% e 29,89% dos votos do eleitorado apto (974.804 e 576.825, respectivamente). A vitória acachapante do boicote eleitoral é sintomático nessa capital, vitrine dos problemas nacionais.
Em São Paulo, enquanto Bruno Covas e Guilherme Boulos alcançaram a marca de 27,6% e 17% dos votos do eleitorado total (respectivamente: 1.754.013 e 1.080.736 de votos), os nulos, brancos e abstenções somaram impressionantes 40,5% do eleitorado paulistano (3.647.901 para um total de 8.986.057 eleitores). Apenas unificando os votos dos dois politiqueiros são eles capazes de ultrapassar a marca do boicote eleitoral.
Em Porto Alegre, o boicote eleitoral foi a opção de 40,3% do eleitorado total (436.971 pessoas dentre as 1.082.584 de pessoas aptas a votar), enquanto Sebastião Melo e a revisionista Manuela D’Ávila tiveram, respectivamente, 27,6% (200.280) e 25,8% (187.262) dos votos.
Em Manaus, enquanto Amazonino Mendes alcançou 21,4% de votos do eleitorado total (234.088 pessoas) e seu concorrente, David Almeida, não ultrapassou 20,1% (218.929), os nulos, brancos e abstenções sobrepujaram os 26,4% do eleitorado total (352.605 de um total de 1.331.613 de eleitores).
Em Goiânia, o boicote eleitoral atingiu 38,5% do eleitorado total (368.297 de pessoas para um total de 955.854 eleitores aptos), enquanto o Maguito Vilela atingiu apenas 32,2% e Vanderlan 22,1% dos votos do eleitorado total (217.194 e 148.739, respectivamente).
Em Curitiba (38%), Salvador (36%), Belo Horizonte (36,3%) e Fortaleza (29,6%) são outras capitais onde o boicote à farsa eleitoral foi expressiva.
Tal como fundamentou AND por ocasião das últimas eleições, em 2018, quando 56 milhões de pessoas deixaram de votar mesmo com toda a chantagem, multas e ameaças: O repúdio às eleições não é fruto de ignorância, como dizem alguns, mas de sabedoria: significa que as massas entenderam que a cada dois anos os agentes políticos da grande burguesia e do latifúndio, serviçais do imperialismo lhes vendem ilusões enquanto, ao fim, pisoteiam seus direitos e reprimem violentamente suas exigências; e mais: significa que essas massas, em geral, chegaram à conclusão de que não é possível alcançar suas aspirações por essa via, mas, ao contrário: somente é possível negando-a”.