Caveirão utilizado durante a operação na CDD no dia em que a comunidade celebrava os 55 anos de sua existência. Foto: Reprodução
Carros blindados da PM percorrem a comunidade.
Barricadas com fogo foram montadas para impedir o avanço dos militares.
Foi assim que moradores da Cidade de Deus acordaram justamente no dia em que a favela completou 55 anos. A favela, que fica em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, foi alvo de uma operação da Polícia Militar (PM). Os agentes da repressão dispararam tiros durante a incursão de guerra, que iniciou por volta das 06h da manhã do dia 25 de fevereiro.
Em função da operação, a estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes e a rua Edgard Werneck foram interditadas.
Nas redes sociais, moradores criticaram a operação : “Só queria ter o privilégio de acordar em paz”, disse uma moradora. Outros questionaram: “porque não acontece operações deste tipo contra os milicianos [paramilitares] que dominam o bairro vizinho Gardênia Azul?”. E ainda: “porque será que só a CDD preocupa o batalhão?”, denuncia um morador.
A confluência da PM com grupos paramilitares foi constatada pelas massas: “No que depender da Polícia Militar para prender milicianos [paramilitares] estamos lascados, é algo escancarado nem disfarçam mais”, afirmou.
De acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), está proibida em decisão liminar (provisória) a realização de operações policiais em comunidades do Rio durante a pandemia do novo coronavírus. Porém a Polícia Militar do Rio de Janeiro vem burlando tal decisão utilizando-se de uma brecha em tal liminar que permite as operações em caso de “flagrante delito”, argumento banalmente utilizado pelo Estado para justificar essas operações.
Cidade de Deus: uma área difamada
O bairro Cidade de Deus foi planejado durante o governo de Carlos Lacerda (1960 a 1965), o objetivo era retirar os moradores de favelas da zona sul e levá-los para um bairro mais distante, com o objetivo de retirar os "indesejáveis" da região historicamente frequentada pela grande burguesia carioca.
Outro objetivo era que esses trabalhadores servissem de mão de obra barata para as construções dos luxuosos condomínios da Barra da Tijuca, que já estavam sendo planejados para ser um local de moradores de alta renda desde aquela época.
No ano de 1966, um forte temporal atingiu a cidade do Rio de Janeiro, deixando 100 pessoas mortas e mais de 20 mil desabrigadas. Este fato fez com que o governo do então governador, Negrão de Lima, colocasse essas pessoas que perderam suas casas para morar nos barracos das obras inacabadas da Cidade de Deus. Com isso a comunidade recebeu pessoas de todos os cantos da cidade do Rio de Janeiro.
Desde o seu planejamento a população da Cidade de Deus foi privada pelo velho Estado brasileiro de ter os mínimos direitos básicos tais como educação, saúde, saneamento, lazer e paz.