Casas são destruídas por PMs e paramilitares na Gleba Nova Axioma Redenção, em Boca do Acre (AM). Foto: CPT
No dia 15 de fevereiro, 14 famílias que vivem desde 1970 na área chamada Gleba Nova Axioma Redenção, localizada no município de Boca do Acre, estado do Amazonas, foram covardemente despejadas pela Polícia Militar (PM) e um bando paramilitar, que destruíram casas, cercas e plantações dos camponeses durante o ataque.
Segundo relatos dos camponeses, a PM chegou por volta das 8 horas da manhã junto com 15 paramilitares que se diziam “funcionários” do latifundiário que pleiteia a posse da área e a advogada do mesmo. O grupo contava também com um oficial de justiça. Junto ao despejo o bando destruiu as plantações, cortou cercas para que as criações fugissem e incendiaram quatro casas. O seringueiro Edmilson Agostinho de Paula, sua esposa Maria Antonia e o filho de cinco anos, que não estavam diretamente envolvidos neste conflito agrário em âmbito judicial, também foram despejados, Maria foi ameaçada de prisão ao tentar demonstrar o erro grotesco.
“Eles amassaram parte do meu carro, destruíram meus armários, danificaram a geladeira. Colocaram parte das minhas coisas de qualquer jeito para fora e começaram a destruir tudo. Meu filho só chorava. [...] O que fica é a sensação de injustiça e a dor da humilhação”, denuncia Maria Antônia.
Os camponeses despejados foram abrigados por outro moradores da Gleba. Em entrevista à Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cosme Capistano Silva disse: “Agora, as famílias vão aguardar uma nova decisão judicial. Mas todos estão com medo da pandemia. Estavam tudo nas suas casinhas, e agora vão lidar com outras pessoas, morando em outras casas. Isso é muito preocupante”.
O pedido de despejo foi feito pelo latifundiário Alysson Pereira de Lima, que diz ter uma fazenda (“Fazenda Monte Horeb”) dentro da Gleba. Porém, a área pertence à União e configura como assentamento definido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A Gleba Nova Axioma Redenção, com cerca de 76 mil hectares, comporta mais de 200 famílias desde 1970. Contudo, essas nunca receberam o título definitivo das suas terras.
A ordem de despejo em favor do latifundiário foi emitida pelo Juiz Otávio Augusto Ferraro, da Comarca de Boca do Acre, mesmo sem este ter documentos de posse das terras fazenda. Há relatos sobre a existência de cerca de 6 registros de propriedade sobrepostos em Boca do Acre.