PM Wesley Goés foi morto após abandonar o serviço e ameaçar atirar contra policiais. Durante os momentos do caso, Wesley ainda lançou ao mar material de trabalho de trabalhadores informais. Caso foi instrumentalizado pela extrema-direita. Foto: Arisson Marinho
No último domingo, 28 de março, o policial militar Wesley Soares Goés abandonou o serviço, na sua cidade de Itacaré, e foi de carro, dirigindo por cerca de 5 horas, até a capital baiana. Em Salvador, por volta das 14h30m, se dirigiu a um dos principais pontos turísticos da cidade, o Farol da Barra. Uniformizado e com o rosto pintado de verde e amarelo, portando um fuzil e uma pistola, o PM colocou terror na população dando tiros para o alto e jogando mercadorias, bicicletas e demais pertences de ambulantes no mar que cerca o Farol.
O policial gritava palavras de ordem como “Comunidade, venham testemunhar a honra ou a desonra do policial militar do estado da Bahia” e “Não vou deixar, não vou permitir que violem a dignidade e honra do trabalhador”. Tudo em meio a tiros que disparava para o alto.
Rapidamente o policial foi cercado por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que tentaram negociar sua rendição. Algo que se encerrou às 18h35m quando o PM iniciou uma contagem regressiva e começou a atirar contra os seus colegas que abriram fogo em seguida. Wesley recebeu 10 tiros e foi levado ainda vivo ao Hospital Geral do Estado, onde ficou entubado e morreu logo em seguida.
Surto ou crime premeditado?
O governo encabeçado por Rui Costa (PT), a PM e a maior parte do monopólio dos meios de comunicação tentam a todo custo colocar o episódio como um mero surto e caso isolado, sem qualquer motivação política. Assim como em outros momentos, as mortes em confrontos com militares são abafadas numa tentativa de preservar a imagem da instituição.
Todavia, alguns indícios indicam o contrário. O militar dirigiu premeditadamente por mais de 249 km, saindo do pouco visível interior para a grande capital, um dia antes da data de fundação da cidade de Salvador e escolheu um dos principais pontos turísticos da cidade, fatores que contradizem a tese do surto repentino. Também há de se questionar como Wesley passou fardado e com um fuzil por dois postos da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Rodoviária Estadual. Fica claro o seu papel como agitador político, ainda mais como todo o acontecido foi rapidamente utilizado pelas forças da extrema-direita.
A deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, numa aberta convocação para um motim, declarou em sua conta no Twitter que o militar “morreu porque se recusou a prender trabalhadores. Disse não às ordens ilegais do governador Rui Costa da Bahia. Esse soldado é um herói. Agora a PM da Bahia parou. Chega de cumprir ordem ilegal!”.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos-RJ) postou um vídeo em que o PM grita palavras de ordem e na descrição das imagens, o deputado escreveu: "Aos vocacionados em combate ao crime, prender trabalhador é a maior punição. Esse sistema ditatorial vai mudar".
O agitador e arquirreacionário, o deputado estadual Soldado Prisco, que já foi noticiado no AND em 2019 por ser o principal mentor de motins na PM-BA, com direito a cenas de sequestros de ônibus e confronto armado entre policiais, publicou nas redes sociais uma convocação para manifestação, onde declara: “Mataram um policial, mataram um trabalhador, porra. Até quando vocês vão aceitar isso? Mataram o policial, mataram. Vamos parar esse caralho, a hora de parar é agora, eu convoco vocês!”, disse.
No dia seguinte, pela manhã, ocorreu manifestação no local onde o policial foi executado. A manifestação reuniu algumas dezenas de pessoas entre policiais e civis bolsonaristas.
Apesar das tentativas da direita militar do Alto Comando das Forças Armadas querer ocultar as pugnas e a crise militar, fica evidente como essas contradições têm se expressado por todo o Brasil, principalmente no Ceará e na Bahia, como já trazidos antes pelo AND.
Este episódio parece ter dado alguma sobrevida na base reacionária do governo que tenta a todo custo explorar contradições no seio do povo, apontando a crise econômica que as massas sofrem como culpa exclusiva dos governadores e suas medidas de isolamento, assim como a mobilização de praças das corporações militares.