Da esquerda para a direita: comandante do Exército (general Paulo Sérgio Nogueira),Ministro da Defesa (Braga Neto), Jair Bolsonaro, comandante da Marinha (almirante de esquadra Almir Garnier Santos) e comandante da Aeronáutica (brigadeiro Carlos Alberto Batista Júnior). Os três militares assumiram como comandantes logo após crise militar ser escancarada. Foto: Reprodução
O general Paulo Sérgio Nogueira foi colocado no Comando do Exército em meio à crise militar desatada após Bolsonaro demitir Fernando Azevedo. O pretendido pelo governo, segundo os boatos dos monopólios de imprensa, seria o general Freire Gomes (comandante militar do nordeste) - que não foi escolhido. Paulo Sérgio, porém, foi pedra cantada pelo Alto Comando das Forças Armadas que previa o agravamento da crise institucional.
No último domingo, que precedeu à crise, o general concedeu entrevista ao Correio Braziliense na condição de responsável do setor de recursos humanos do Exército (a principal das três forças militares). Nela, o atual comandante do exército falou que as forças armadas já se preparavam para a terceira onda da Covid-19, e que a rotina da caserna foi alterada pelas exigências sanitárias: “Todo dia, nosso comandante, o general Leal Pujol, faz videoconferência conosco e recomenda para que a ponta da linha use máscara, álcool em gel, distanciamento. Não tem mais formatura militar. Quando vai fazer algum evento são 10, 20, no máximo”.
Paulo Sérgio Nogueira, em sua entrevista e após ela, escala nos ombros de Edson Pujol, agora ex-comandante do exército. Com a saída de Fernando Azevedo do ministério da Defesa, Pujol foi o primeiro a entregar o cargo, sendo acompanhado pelos comandantes das outras duas forças, marinha e aeronáutica. Em seu posto de comandante de força, Pujol aferrou-se na posição de que as forças armadas reacionárias não deveriam misturar-se na “vida política nacional”, irritando, assim, Bolsonaro que busca todo o tempo cindir o Alto Comando, tentando ganhar generais para seu projeto golpista.
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“Em caso de incêndios, quebre o vidro”
A estratégia de “estabilidade, legitimidade e legalidade”, cunhada por Vilas Bôas quando do início do golpe militar institucional de 2015, desatado de maneira preventiva ao inevitável levantamento de massas, (Lava Jato) e repetida por Mourão em meio à atual crise militar, diz muito sobre a pedra cantada do Alto Comando das Forças Armadas no contexto da atual escolha do novo comandante do exército. O cerne da agitação do presidente fascista, e de toda a extrema-direita já estruturada no país, é a oposição aos governadores. Foi em torno desse tema que remexeu-se todo o primeiro escalão, além do descarte dos ministros da chamada “ala ideológica” (extrema-direita) após pressão do Congresso, STF e monopólios de imprensa.
Sabendo que novas turbulências entravam na rota do país, os militares buscaram, ao longo dos últimos 2 meses, postar-se como soberanos naturais. Quem ler a entrevista de Paulo Sérgio, espanta-se com a aparência, adrede fabricada, de detentores de sabedoria ímpar na questão de como lidar com a pandemia. Distanciamento, testagem em massa, álcool gel (quem diria!), tudo isso apareceu na boca de um general da ativa responsável, até então, pelos “recursos humanos” do exército.
A atuação quase teatral protagonizada por Paulo Sérgio em dita entrevista busca modificar a imagem deixada por Pazuello de um gorila inútil. Afinal de contas, o responsável em logística (que antes de assumir o cargo de ministro da Saúde geria de fato o serviço da ativa do exército) confundiu o Amapá com o Amazonas, em apenas um dos episódios da tragédia, que prolongou a dor dos familiares de mortos e doentes do estado do Amazonas e de todo o país.
só se engana quem quiser
A expectativa criada em torno de quem seria o futuro comandante do exército partiu da intenção de Bolsonaro em aproximar algum general alinhado a seu projeto golpista de extrema-direita. Nesse cargo entra, pelo contrário, um general que postou-se como sabichão do “combate à pandemia”.
Somente ignorando a realidade do genocídio premeditado ao qual efetuou o governo Bolsonaro/generais e lançando-se à total insanidade, pode-se enxergar qualquer coisa que não o agravamento da pugna no seio das classes dominantes - nessa briga, que perdura, pela direção do golpe militar, em curso desde 2015.
De nosso lado, todo o episódio serve tão somente para ver de que trapos são feitos a farda verde-oliva brasileira. Todos os cálculos lógicos e certeiros dos empenhados em fazer a contrarrevolução em nosso país ao custo de centenas de milhares de corpos provarão-se inúteis tão logo a “convulsão social” organize-se e tome os céus de assalto em fenômeno que tem nome: Revolução de Nova Democracia.