Centenas de palestinos e judeus democráticos protestam contra o despejo de residentes palestinos do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, 16/04/2021. Foto: Aaron Boxerman / The Times of Israel
Semanalmente, o bairro de Sheikh Jarrah, na Jerusalém Oriental, cidade palestina ocupada por Israel, registra protestos contra o despejo de famílias palestinas e a demolição de suas casas. Entretanto, na última semana, desde o dia 13 de abril, as manifestações se multiplicaram e vêm ocorrendo diariamente, reunindo centenas de massas, tanto palestinas, como de israelenses em solidariedade, que resistem à violenta repressão policial.
O crescimento dos protestos em Sheikh Jarrah foi instigado após um deputado do Parlamento isralense (Knesset), Ofer Cassif, ter sido agredido por policiais enquanto participava da manifestação semanal do bairro, no dia 9/04, contra a expansão de um assentamento judeu para colonos. Cassif é judeu, porém integra um partido de maioria árabe da chamada Lista Conjunta.
“Na semana passada, a polícia correu selvagemente, atacando a mim e a outros sem qualquer provocação prévia, e eles deveriam pagar um preço por isso”, disse Cassif ao The Times of Israel na sexta-feira. Mas Cassif disse ao The Times of Israel que estava cético de que a investigação levasse a qualquer lugar, alegando que as Investigações Internas eram "tendenciosas em favor de colonos terroristas”.
Desde então, grupos de israelenses progressistas e democráticos se uniram aos residentes palestinos, de Sheikh Jarrah, onde 58 pessoas receberam ordens de despejo de um tribunal israelense, para resistir à limpeza étnica praticada pelo sionismo. De todos os atingidos pela ameaça de despejo, 17 são crianças.
No dia 17/04, eclodiram confrontos entre os colonos judeus que se mudaram recentemente para casas no bairro, onde anteriormente viviam famílias palestinas, e os manifestantes, que bateram nas portas de algumas das casas, rechaçando a ocupação sionista.
No dia 18/04, vídeos divulgados na internet mostram os agentes da repressão atacando violentamente as massas do protesto, fazendo uso de jatos d’água, gás lacrimogêneo e força bruta – é possível vê-los aplicando golpes de mata-leão e ajoelhando-se sobre o torso e o pescoço de manifestantes. Em resposta, os manifestantes aparecem resistindo com fogos de artifício e atirando pedras e outros objetos disponíveis à mão.
Vários protestos similares têm sido registrados por toda a Palestina, desde o dia 13/04, quando teve início o mês sagrado para o Islã, chamado Ramadã.
LUTA HISTÓRICA CONTRA A OCUPAÇÃO
Os despejos dos residentes palestinos de Sheikh Jarrah, assim como de vários bairros de maioria palestina em Jerusalém, vêm ocorrendo há anos, e fazem parte do projeto colonial de limpeza étnica de Israel, que representa o cerne do sionismo. De acordo com a organização sem fins lucrativos Ir Amim, cerca de 600 arquivos de despejo – dos quais 75 são contra casas de famílias palestinas em Sheikh Jarrah – estão atualmente sendo examinados pelo Ministério da Justiça.
Os palestinos de Jerusalém Oriental e seus aliados denunciam que o confisco arbitrário das suas propriedades em Jerusalém Oriental, que vive sob ocupação de Israel, é feito por meio de um dispositivo judicial baseado em uma lei de 1950 que permite que Israel reclame a propriedade de palestinos considerados “ausentes”.
Várias famílias palestinas de Sheikh Jarrah são refugiados históricos de 1948, quando ocorreu a ofensiva militar em torno da criação de Israel, conhecida pelos árabes como a Nakba (“a tragédia”), responsável pelo êxodo de 700 mil árabes palestinos – cerca de metade da população árabe da Palestina antes da guerra –, expulsos de suas casas e terras.