Xondaro e Xondaria queimkam barracos de invasores e retomam tekoha. Foto: Alass Derivas
No dia 30 de abril, o povo Mbya Guarani em uma ação planejada, destruindo barracos e cercas provindas de invasões criminosas, retomou parte de seu território, a tekoha Pindó Poty, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A retomada realizada por Xondaro e Xondaria (guerreiros e guerreiras), ocorreu às cinco horas da manhã, logo após um novo loteamento ser realizado pelos invasores enquanto os indígenas se reuniam com o Ministério Público Federal (MPF) no dia 29/04.
A tekoha Pindó Poty está localizada no Bairro Lami e há pelo menos mais de quatro décadas diversas famílias vivem no local, já reconhecido, porém com o processo de demarcação iniciado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 2012, nunca concluído. As invasões ao território indígena têm se intensificado nas últimas duas semanas e como fruto destas, houve também o aumento do desmatamento e loteamento da área.
Parentes se reunem em atos para apoiar a luta pelo território e demarcação dos Mbya Guarani, em Porto Alegre. Foto: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
Nos dias 21 e 21/04, ocorreram atos que contaram com a presença de Mbya Guarani vindos de Itapuã, Cantagalo, Maquiné, Campo Molhado, Varzinha, Riozinho e Morro dos Cavalos (SC) e movimentos populares, com o objetivo de fortalecer a luta pelo território, exigindo expulsão dos invasores e demarcação imediata.
Em entrevista realizada pelo portal Deriva Jornalismo, Marcelo Mbya Guarani, cacique da Terra Indígena de Canelinha, em Santa Catarina, afirma: “O que vemos são os invasores avançando sobre o território tradicional. Por isso, nos levantamos com a força da reza, do canto e também com a proteção de bordunas, arco e flecha. Fomos até o local da invasão e derrubamos as cercas, as casas e decidimos acampar no local”. E concluiu: “Porque a terra é nossa e nós dependemos da terra, sem a terra não tem a nossa cultura prevalecida dentro de uma comunidade: demarcação já!”.
Os indígenas suspeitam que os invasores sejam laranjas colocados pelos donos dos empreendimentos instalados em frente a tekoha, chamados Bom Lami, que conta com supermercado, agropecuária, madeireira e lojas comerciais. Segundo denúncias anteriores, roupas eram estendidas para fazer parecer que ali habitavam pessoas, porém os barracos sempre estavam vazios.
Mesmo sendo alertadas, as instituições do velho Estado como a Funai e até mesmo a Polícia Federal, nada fizeram contra as invasões. Porém, ao contrário da inércia demonstrada em meio às estas inúmeras denúncias, os órgãos de repressão agiram de forma imediata diante da retomada.
Muitos indígenas de outras aldeias foram até a tekoha em apoio e solidariedade aos Mbya Guarani. A decisão dos indígenas é manter uma vigília por tempo indeterminado e com a iminência de um retorno violento dos invasores afirmam que vão manter a resistência.
Em nota de denúncia sobre a invasão da Terra Indígena Lami (Tekoha Pindo Poty) emitida no dia 22/04 pela Comissão Guarani Yvyrupa, os indígenas declaram: "Reafirmamos nosso posicionamento de que lutaremos pela defesa de nosso povo e nossos territórios até quando e onde for necessário e que só nos realizaremos quando tivermos todas as nossas terras demarcadas e todos os nossos direitos garantidos".