Operação "Paz no campo" despeja dezenas de pessoas em plena pandemia. Foto: Banco de dados AND
No dia 11 de junho, ocorreu mais um covarde despejo contra famílias camponesas, desta vez contra o Acampamento Valdiro Chagas, em Machadinho do Oeste, Rondônia (RO). A decisão tomada pela juíza Luciane Sanches, favorável a latifundiários que alegam serem donos da antiga Fazenda Jatobá, determinou a expulsão de trabalhadores, entre estes, mulheres, idosos e crianças. A ação é parte da Operação “Paz no Campo”, já inúmeras vezes denunciada pelos camponeses por expulsar trabalhadores de terras comprovadamente griladas pelo latifúndio.
Aproximadamente, 60 policiais civis e militares participaram da operação. Em meio ao despejo, as casas do Acampamento foram derrubadas. Os camponeses foram levados à delegacia e “qualificados”, mesmo não havendo embate entre as famílias e os policiais. Foram tiradas fotos dos camponeses, de seus documentos e dos registros profissionais da advogada que os acompanhava.
Policiais fortemente armados invadem Acampamento para expulsar camponeses após decisão do judiciário em favor do latifúndio. Foto: Banco de dados AND
Famílias são despejadas do Acampamento Valdiro Chagas, localizado na antiga Fazenda Jatobá em plena pandemia. Foto: Banco de dados AND
Os trabalhadores são levados à delegacia, fotografados e qualificados. Foto: Banco de dados AND
Os trabalhadores são levados à delegacia, fotografados e qualificados. Foto: Banco de dados AND
Famílias ficam desalentadas em plena pandemia
Após esta ação, as famílias foram deixadas em um ginásio de esportes da cidade, onde o secretário de assistência social informou que realizaria um cadastro das famílias a fim de garantirem acomodações e disse também que somente na noite anterior foi informado que aconteceria o despejo contra os camponeses. Uma idosa passou mal durante a covarde ação e ainda não há notícias de seu estado de saúde.
As famílias seguem desabrigadas sem um local para onde ir e sem condições de retornar para suas cidades de origem. O motivo da ocupação, segundo os trabalhadores, foi a falta de emprego nas cidades e a pandemia do Covid-19.
Fator desconsiderado pela juíza que mesmo após a determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e a recomendação 90 do (CNJ) que visa a preservação de vidas em tempos de pandemia e se opõe aos despejos.
Segundo denúncia realizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), famílias foram contaminadas pela Covid-19, após terem sido despejadas de um acampamento em Vilhena (RO).
Idosa passa mal em meio ao covarde despejo. Foto: Banco de dados AND
Famílias camponesas, sem ter para onde ir, foram alojadas em ginásio de esporte. Foto: Banco de dados AND
Velho Estado segue servindo a latifundiários em Machadinho D’oeste
Os beneficiados pela decisão foram os latifundiários grileiros da família Lopes Moura com longo histórico de crimes contra os camponeses.
Em 2015, André Lopes Moura, foi preso por organizar pistoleiros para atacar, torturar e intimidar camponeses que viviam no local. Pouco tempo depois da prisão foi solto e assassinado. Tiago Lopes Moura, irmão de André, assumiu então seu lugar. De acordo com denúncias, ambos estavam ligados com pistoleiros na região de Jaru (RO). Em 2019 outros bandos paramilitares se formaram sob as ordens de Tiago Lopes em Ariquemes e Machadinho d’Oeste (RO) contando com a participação de policiais militares 5º BEC e do Grupamento de Operações Especiais (GOE).
Em fevereiro de 2020, os latifundiários novamente tiveram suas vontades realizadas pelos aparatos do velho Estado, quando estes montaram uma operação de guerra para realizar o despejo dos camponeses da antiga Fazenda Jatobá.
Conforme denunciado pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), na ocasião o governo de Rondônia mobilizou batalhões de Choque, Patrulhamento Tático Móvel (Patamo), Força Tática, Companhia Ambiental da Polícia Militar (PM), além da Polícia Civil e Corpo de Bombeiros de Porto Velho, Jaru, Machadinho e Vale do Anari, totalizando mais de 100 policiais, várias viaturas e dois helicópteros. Casas dos camponeses também foram derrubadas durante a operação.
Leia também: RO: Aparato de guerra é mobilizado a serviço de latifundiários criminosos
Em janeiro de 2020, a PM fez uma escolta para o grileiro Tiago retirar seu gado, e seguiram posteriormente fazendo segurança para o grileiro para tentar impedir a retomada das terras pelos camponeses.
O atual pedido de reintegração da antiga Fazenda Jatobá consta no nome de Helem Lopes Moura, a mãe dos latifundiários. As terras da antiga Fazenda Jatobá, são terras públicas griladas pelo latifúndio que possui cerca de 800 alqueires, localizada no km 10 da Linha T15 no Distrito de Oriente Novo, zona rural de Machadinho d’Oeste.
Outras operações em RO tentam frear ocupações de terra que seguem cada vez maiores
Além da Operação “Paz no Campo”, que promoveu o despejo relatado acima, pelo menos mais duas operações policiais seguem em vigor contra os que lutam pela terra. Entre elas estão a Operação “Canaã” e a Operação “Illusio” (Fase 2). O nome de ambas remetem à ideia de retirada das terras aos que lutam por uma parcela para sobreviver.
De acordo com informações dos reacionários, as operações tem como objetivo impedir a crescente entrada dos camponeses nas terras ociosas em Rondônia e promover buscas e apreensões, prisões, além de visar identificar dirigentes camponeses e até advogados.
O chamado “carniceiro de Santa Elina”, José Hélio Cysneiros Pachá, o secretário estadual de segurança, deu declarações aos monopólios de imprensa no dia 11/06, afirmando que desde os acontecimentos na antiga fazenda Nossa Senhora Aparecida - se referindo a grandiosa resistência dos camponeses do Acampamento Manoel Ribeiro - seria iniciada uma nova forma de combater os camponeses em luta pela terra em Rondônia.
Durante suas afirmações, persistiu no discurso de demonização de movimentos populares, taxando-os como organizações criminosas e disse que “diante da impossibilidade de realizar reintegrações de posse”, realizaria ações persecutórias aos que organizam retomadas.
Em meio ao despejo jovem menina ergue a bandeira da Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Foto: Banco de dados AND
Produção e casas das famílias camponesas residentes no Acampamento Valdiro Chagas, em Machadinho do Oeste. Foto: Banco de dados AND