Reproduzimos um vídeo publicado pelo Jornal Resistência Camponesa em 12 de agosto, intitulado Companheiro Abel, presente na luta!.

O vídeo divulgado homenageia Seu Abel, um dos camponeses pioneiros de Jacinópolis, em Rondônia, na data em que se completa um ano de seu falecimento, 9 de agosto de 2021. Em conjunto com a matéria divulgada no jornal, é possível constatar que a jornada de Seu Abel se mescla com a história da luta pela terra em Jacinópolis e em Rondônia e que o caminho tomado por ele ainda é perseguido por milhares de camponeses de Rondônia que se levantam pelo direito à terra, justiça e uma Nova Democracia.

Nascido em julho de 1932, o camponês descrito como querido e bravo companheiro, faleceu vítima de uma infecção generalizada, resultado do agravamento de um quadro de pneumonia. 

A Liga dos Camponeses Pobres (LCP) afirma que ele sempre participou ativamente de diversas lutas, cumprindo tarefas variadas, atuando nas Assembleias Populares para resolver os problemas locais ou tomando parte nos duros enfrentamentos contra o latifúndio e seus bando armados. “Por sua experiência, justeza e coragem, sempre foi exemplo para camponeses de todas idades”.

O vídeo inicia-se com a frase: Honra e Glória aos heróis do povo brasileiro!.

Na produção, Seu Abel conta que saiu do Espírito Santo para Rondônia, em 1994-95, e  se instalou na beira do Rio Jaci. O camponês relata que ele e os seus companheiros que moravam naquelas terras travaram diversas batalhas contra os pistoleiros, uma das maiores adversidades enfrentadas ali para a conquista da terra. 

Enquanto ele descreve a conquista da terra, são vistas imagens de camponeses assassinados a mando do latifúndio. Em uma delas estão os corpos de José e Nélio, que são homenageados pelos trabalhadores da região ao fundarem na cidade em 2008, o acampamento batizado com o nome de seus companheiros tombados na luta.

O camponês também denuncia em sua fala as autoridades do Ibama com a polícia civil, que em conluio com o latifúndio atacam os trabalhadores. Ilustram a história contada por Seu Abel imagens de tropas militares em meio a Operação "Rondônia Legal” que ocorreu em 2006 e perseguiu camponeses em Jacinópolis. 

“Eles atacam de um lado e nós faz de outro, enfrentando dificuldade, pode ir preso, eles judiam muito. Se não matar, na hora nós levantamos de lá e tá trabalhando do mesmo jeito”, afirma com vigor o camponês expondo a saga enfrentada e expressando decisão.

A produção traz ainda imagens do Acampamento José e Nelio, do corte popular, entrega de títulos, produção, manifestações.

Por fim, pode ser vista uma arte retratando Seu Abel, feita pelo cartunista Latuff, em 2009.

A produção é assinada pela LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental está disponível para download no link abaixo: Baixar vídeo Companheiro Abel

Jacinópolis, a conquista dos camponeses

De acordo com a LCP, Jacinópolis é uma vila localizada no município de Campo Novo, distante cerca de 370 quilômetros de Porto Velho. Junto de Nova Mamoré, Rio Branco, Rio Pardo, Minas Novas, Jacilândia e Buritis formam uma importante região de luta pela terra em Rondônia. No final dos anos de 1990 iniciou-se uma onda de migração de milhares de famílias camponesas para Jacinópolis, a maioria expulsa de outros lugares, em busca de terra e trabalho.

A área antes devastada, abandonada ou de pastagens, foi transformada por centenas de trabalhadores em uma próspera área com farta produção, casas e comércios. O movimento afirma que “coletivamente os trabalhadores construíram escolas, estradas e pontes, lutaram para conseguir posto de saúde e energia elétrica, fundaram uma Associação de Produtores. Os camponeses organizaram Assembleias Populares onde decidiam sobre tudo o que lhes diz respeito”.

Outra conquista realizada pelas mãos dos camponeses foi a construção coletiva de uma estrada em 2006, estrada esta que possibilita o acesso a Nova Mamoré. A LCP relata que faltavam apenas 5 quilômetros para a conclusão da estrada e que os candidatos prometiam a obra eleição após eleição, mas nunca cumpriam. Segundo o relato, cerca de 1000 camponeses e outros trabalhadores de Jacinópolis se uniram e concluíram o serviço em poucos dias. A decisão, planejamento e construção, tudo foi feito coletivamente.