Geisa deixa seu filho de 8 meses órfão depois de morrer ao cozinhar utilizando álcool por não ter dinheiro para comprar gás de cozinha. Foto: Reprodução
No dia 27 de setembro, foi reportada a morte de mais uma pessoa vítima do aumento exponencial dos preços do gás de cozinha, proporcionada pela crise sem precedentes gerenciada e estimulada pelo governo militar. Geisa Sfanini, de 32 anos, teve 90% do seu corpo queimado após usar álcool combustível para cozinhar em sua casa, em Osasco, na Grande São Paulo. O incidente ocorreu dia 2 de setembro.
A morte foi confirmada por sua vizinha, que é também proprietária do imóvel que Geisa alugava, Mônica Teixeira de Oliveira, de 34 anos. Geisa deixa para trás seu filho de 8 meses, Lucas Gabriel, que estava com ela durante o incidente, tendo 18% do seu corpo queimado. O bebê se recuperou.
Geisa estava internada na Unidade de Tratamento para queimaduras do Hospital Geral de Vila Penteado, na Zona Norte de São Paulo.
Mônica, sua vizinha, também relatou que Geisa passava por dificuldades financeiras e que não tinha mais condições de comprar o gás de cozinha. Ainda segundo relatos, Geisa Stanini estava desempregada, sustentando seu filho e a casa em que moravam com apenas 375 reais por mês, que recebia do Bolsa Família. A casa onde morava também era paga pela prefeitura de Osasco através de um programa para famílias em vulnerabilidade social.
Alta nos preços
Com o aumento do preço do botijão de gás, cada vez mais famílias estão utilizando de “alternativas” para substituir o gás de cozinha. Essas alternativas, no entanto, são prejudiciais à saúde, como o fogão à lenha, ou perigosas, como o álcool, o que resultou em uma grande quantidade de acidentes domésticos reportados nos últimos meses.
Entre 2016 e 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento de quase 30% no número de famílias que usam lenha ou carvão para cozinhar. Há dois anos, uma em cada quatro famílias brasileiras usavam lenha em algum momento para fazer seus alimentos. No Sudeste, onde historicamente o uso de lenha é mais raro, o aumento foi ainda maior, mais de 60%.
A questão do alto preço do gás de cozinha também é resultado da nova política de preços da Petrobras, que sob o nome de Preço Paritário de Importação (PPI), vincula o petróleo produzido no Brasil à cotação em dólar e à taxa de câmbio. Essa política estabelece que o preço do barril de petróleo no Brasil não deve corresponder à própria inflação no país, mas sim aos preços internacionais. Isso valoriza a exportação de petróleo cru e desloca o mercado para o combustível importado a despeito do combustível refinado produzido no país. Esta flutuação no preço, que é a dolarização, vem resultando em aumentos de preços do combustível e do gás de cozinha, além de muitas outras mercadorias.