Moradores erguem barricada em protesto contra despejo em Ribeirão das Neves. Foto: Banco de Dados AND
No último dia 23 de novembro, moradores realizaram um combativo protesto contra a destruição de suas casas, no bairro de Cidade de Neviana, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. O despejo aconteceu a mando da prefeitura da cidade, comandada por Junynho Martins do Partido “Democratas” (DEM) que, após uma forte tempestade de granizo que destruiu parte das casas no dia 27/10, utilizou os justificados temores e comoção criados pela tragédia para expulsar as famílias que vivem às margens de um córrego na localidade há mais de 20 anos.
No protesto, os moradores fecharam com barricadas de pneus e galhos em chamas, por quase duas horas, a estrada que liga a BR-040 - na altura do bairro Veneza - ao centro da cidade. A Polícia Militar (PM) chegou ao local para tentar acabar com o protesto, contudo, os moradores resistiram de forma altiva e organizada a tentativa da PM de reprimir o justo protesto e só saíram do local após a chegada do corpo de bombeiros, que apagaram as chamas das barricadas.
Mesmo após o fim da manifestação viaturas da PM seguiram os manifestantes até a entrada do bairro e ficaram à distância vigiando os moradores. Uma senhora que passou pelos policiais relatou ao AND que ouviu os PMs repassando informações sobre a movimentação dos moradores quando estes já haviam encerrado a manifestação. Outros moradores relataram que há um comentário no bairro de que os policiais estão à procura de “lideranças” para “conversar”. Tudo indica que essas ações, no mínimo, suspeitas, por parte da PM sejam motivadas pela atuação de membros da corporação ligados ao prefeito de Ribeirão das Neves, Junynho Martins/DEM.
Moradores denunciam o despejo comandado pelo prefeito de Ribeirão da Neves, Junynho Martins/DEM. Foto: Banco de Dados AND
Os pretextos para expulsão das famílias seriam a “defesa do meio ambiente”, leia-se: proteção de um córrego que corre a céu aberto e no qual é despejado todo o esgoto e lixo de toda região e a “segurança das famílias”, diuturnamente pressionadas e mesmo ameaçadas para sair de suas casas que, segundo a Prefeitura e a Defesa Civil, devem ser destruídas para “o próprio bem dos moradores”. Três casas já foram interditadas e esses moradores que foram compulsoriamente alojados numa escola próxima são coagidos a aceitarem o “aluguel social” de seis meses, sob pena de perder o direito a indenizações, qualquer auxílio do serviço social da prefeitura ou mesmo a inclusão de seus nomes em futuros projetos habitacionais no município.
A situação é para lá de absurda, pois os moradores estão cansados de ouvir promessas ao longo desses mais de 20 anos. Embora já tenham participado de inúmeros cadastros em projetos como o Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC) e Minha Casa Minha Vida, nunca foram contemplados. Diga-se de passagem, que mesmo a indecente proposta de “aluguel social” por seis meses se mostra, na prática, inviável, uma vez que é comum a prefeitura local não honrar seus compromissos com os pequenos e não existem muitas pessoas dispostas arcar com um presumível calote da administração municipal.
O Comitê de Apoio - Belo Horizonte/MG conversou com as famílias em suas casas e constatou que o clima é de muita revolta e indignação. Os moradores da avenida Bandeirantes, no bairro Cidade de Neviana, denunciam o cotidiano de penúria e opressão a que são submetidos os pobres de Ribeirão das Neves, uma das maiores cidades da região metropolitana de Belo Horizonte e que se tornou um grande bolsão de miséria. Os trabalhadores relataram que é comum na cidade córregos a céu aberto, bairros sem saneamento básico e ruas sem asfalto e que, pelo menos, 40% da cidade é composta por ocupações. Segundo os moradores, não existem políticas de habitação para população de baixa renda e os empreendimentos imobiliários na região (loteamentos e conjuntos habitacionais) não são acessíveis a maior parte dos trabalhadores. Em Ribeirão das Neves quase não existem indústrias ou fábricas de qualquer espécie e a maioria das pessoas trabalha em Belo Horizonte, Sete Lagoas ou outras cidades próximas. Os moradores afirmam também que a taxa de desemprego é alarmante, embora não haja dados oficiais confiáveis a esse respeito e nos contaram ainda que os moradores da cidade são discriminados devido à grande quantidade de presídios, que acabam associando o nome da cidade à delinquência.