No dia 19 de novembro, cerca de 50 indígenas Kayapó ocuparam o edifício da Fundação Nacional do Índio (Funai), localizado no município de Colíder, no norte do estado do Mato Grosso (MT). Os indígenas sequestraram o coordenador regional Gustavo Freire Borges e exigiram sua exoneração. O povo Kayapó denunciou que o coordenador, assim como a própria fundação, não atendiam as necessidades da aldeia.
Povo Kayapó ocupa Funai MT, sequestram coordenador regional e exigem sua exoneração. Foto: Casa Ninja Amazônia
Parte do povo Kayapó ocupou o prédio da Funai por volta das 8h. No mesmo horário tinha início o expediente do coordenador Borges, que assumiu o cargo desde 2019 após a demissão do indígena Patxon Metuktire. Os indígenas apresentaram suas demandas e exigiam que ele assinasse sua exoneração.
Segundo denúncias da comunidade, o coordenador que ocupava o cargo há dois anos, não buscava recursos para subsistência da comunidade nem realizava ações para atender as demandas dos indígenas como apoio para atividades produtivas e reforma de casas tradicionais. De acordo com as denúncias, a situação piorou em meio a pandemia da Covid-19.
“Desde que ele foi empossado, pedimos ajuda. Na pandemia, por exemplo, não tivemos apoio para a instalação de barreiras sanitárias. Quando foi feita uma barreira voluntária, fomos atacados por tiros”, afirmou Mayalu Waurá Txucarramãe em entrevista ao portal Casa Ninja Amazônia.
A Polícia Civil tentou pôr fim à manifestação, porém os indígenas não aceitaram e impediram a entrada dos policiais. Por volta das 19h40, Borges utilizou um spray para atacar um jovem indígena. O ataque causou a fúria dos demais presentes. O ex-coordenador tentou neste momento fugir e entrou em uma viatura de um guarda de trânsito, mas foi retirado pelos Kayapós sendo liberado somente após assinar a carta de demissão do cargo de coordenador, às 22h30.
Em uma declaração emitida após o evento, o povo Kaiapó afirmou: “A atuação da Funai, no atual cenário, vem gerando conflitos, mortes e destruição das nossas terras”.
A unidade antes coordenada por Gustavo Borges, tem atuação nos municípios de Apiacás (MT), Peixoto de Azevedo (MT), Matupá (MT), Guarantã do Norte (MT), Santa Cruz do Xingu (MT), São Félix do Xingu (PA), Jacareacanga (PA) e Altamira (PA), onde vivem aproximadamente 4,5 mil indígenas.
Ex-coordenador tenta fugir, mas é levado de volta ao prédio até que a exoneração fosse assinada. Foto: Reprodução
Funai: letra-morta
Em 2019, foi nomeado como presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier da Silva, delegado da Polícia Federal, apoiado por parlamentares ligados ao latifúndio. Logo após assumir o cargo, ordenou a demissão de ao menos 15 coordenadores. Alguns só foram avisados na véspera da exoneração da coordenação da área, outros ficaram sabendo de suas demissões somente após publicação no Diário Oficial da União.
Durante uma reunião que ocorreu em 23 de junho, o tenente de reserva do exército, Henry Charlles Lima da Silva, que é também o atual coordenador da Funai no Vale do Javari (AM), ameaçou ameaçou “meter fogo” nos povos isolados.