Três trabalhadores de empreiteira chinesa são assassinados pela Polícia Nacional de Angola. Foto: VOA Português
Três trabalhadores da empreiteira chinesa China Ghezouba Group Company Limited (CGGC) foram assassinados pela Polícia Nacional de Angola (PNA) em um protesto por melhores condições de trabalho e aumento salarial, no dia 26 de maio, na província de Kwanza Norte.
Os operários que trabalham na construção da Hidrelétrica Caculo Cabaça denunciaram que estão há anos lutando por diversos direitos negados pelos monopolistas chineses, como reajuste salarial, seguros de saúde, férias anuais, folgas bimensais, subsídios de risco, de isolamento e de transporte e melhorias nas condições de trabalho, como alimentação digna, melhores alojamentos e áreas de lazer.
Em 2019, os trabalhadores de Caculo Cabaça entregaram diversas dessas exigências à grande empresa chinesa, mas nenhuma foi atendida. Em abril deste ano, os operários fizeram uma paralisação de suas atividades, mas novamente foram ignorados pelos grandes magnatas.
No dia 25/05, em fúria contra suas condições de trabalho, deram início a um protesto combativo no qual destruíram instalações e equipamentos da empresa, como escritórios, oito carros e geradores de energia. Os protestos continuaram no dia 26/05, quando a Polícia Nacional de Angola reprimiu os trabalhadores à queima-roupa com o uso de arma de fogo. Como resultado da brutal repressão, três foram assassinados e um número ainda não conhecido de trabalhadores foram feridos. “Nós apenas estamos a lutar para melhorias, condições básicas. A polícia nos recebeu em 200 metros, nós nem tivemos confronto direto com a polícia, eu logo que vi que os disparos à queima-roupa chegavam. Depois vi nosso colega morto, alvejaram outros quatro pela perna, outro pelas costas”, relatou um trabalhador ao monopólio dos meios de comunicação Rádio Nacional de Angola (RNA). Um outro trabalhador, sob condição de anonimato, ressalta a justeza da rebelião, em entrevista à VOA Português: “Os trabalhadores estão mesmo descontentes, os chineses nunca cumpriram com a lei. Pelo que dizem, já remeteram o caderno (reivindicativo) há um bom tempo, mas eles nunca fizeram nada, agora deu no que deu”.
Semicolonialidade em Angola
O projeto de Caculo Cabaça reflete e aprofunda a situação da semicolonialidade na Angola. Desenvolvido pelo Ministério de Energia e Águas de Angola, o projeto é financiado por empréstimos bilionários pelo social-imperialismo chinês. A construção da usina, que foi iniciada em 2017, é gerida pela CGGC, empresa que faz parte do conglomerado estatal chinês China Energy Engineering Corporation e financiada pelo capital financeiro chinês por meio do Banco Industrial e Comercial da China, Banco da China, Banco de Construção da China, China Minsheng Bank e Ping An Bank, responsáveis por um empréstimo de 4,1 bilhões de dólares ao velho Estado angolano
Após a conclusão das obras, a CGGC atuará como concessionária e gestora das operações da usina durante um período de quatro anos. Somente após esse período, a estatal angolana Empresa Pública de Produção de Eletricidade (PRODEL-EP) poderá assumir a gestão da hidrelétrica.
Todo esse processo reflete a condição de capitalismo burocrático que impera na Angola, tipo de capitalismo introduzido em países coloniais e semicoloniais pelo capital financeiro estrangeiro e erguido sobre relações econômicas semifeudais. No caso específico do social-imperialismo chinês na Angola, como já denunciado pelo AND, a opressão e a exploração se dão, principalmente, pelo envolvimento de empresas e bancos chineses em obras desenvolvidas pelo velho Estado angolano (caso de Caculo Cabaça) ou pelo conluio de monopólios chineses com empreendimentos de grandes empresários angolanos.