Militantes do JNIM no Mali Central. Foto: Long War Journal/Captura de Tela/al-Zallaqa
No dia 22 de julho, combatentes possivelmente ligados ao Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin, JNIM), uma coalizão de forças de libertação nacional, atacaram o posto militar de Kati, próximo de Bamako, capital do país africano. Os combatentes usaram dois carros carregados de explosivos para realizar a ação. O ataque segue uma sequência de ataques realizados contra as forças coloniais, que já deixaram ao menos oito militares mortos.
Os combatentes chegaram na região em torno de 5 horas da manhã em dois veículos lotados de explosivos. A ação armada envolveu troca de tiros e explosão das bombas. Dois dos combatentes morreram, enquanto o número de soldados mortos ou feridos não foi divulgado.
No dia 21/07, também às 5 horas da manhã, combatentes atacaram um posto da Força Especial Antiterrorista (Forsat) na cidade de Kolokani, a 110 km de Bamako. Foram relatadas explosões, trocas de tiro e danos à infraestrutura do posto. Segundo o portal do grupo Crisis 24, é provável que tenha ocorrido baixas. O mesmo portal afirma é possível que os combatentes tenham tomado controle da cidade temporariamente, mas que a informação ainda está por ser confirmada. Outra ação armada foi realizada entre os dias 14/07 e 15/07, quando combatentes supostamente ligados ao JNIM aniquilaram seis militares reacionários e deixaram dois feridos.
O posto militar de Kati é uma das principais bases militares do país. Foi, a partir dela que, em agosto de 2020, militares reacionários comandados pelo general golpista Assimi Goïta realizaram um golpe de Estado no país.
O imperialismo francês no Mali
Militar reacionário francês patrulha Gao, no Leste do Mali. Foto: Thomas Coex/AFP
O Mali, atualmente, tem seu território dividido entre diferentes zonas com influência das superpotências imperialista USA e Rússia e também o imperialismo francês. Desde o golpe de Estado de 2020, Assimi Goïta, lacaio do imperialismo russo, tem cedido cada vez mais territórios ao imperialismo russo. A Rússia imperialista busca expulsar o imperialismo francês na região para estabelecer sua hegemonia no Mali.
O desenvolvimento da luta anti-imperialista no Mali passou por um salto a partir de 2012, quando, devido à brutal exploração e opressão das massas, esmagadas sob as três montanhas da semifeudalidade, capitalismo burocrático e imperialismo, uma grande rebelião popular se iniciou no país, na qual tomaram parte grupos islâmicos e minorias nacionais organizadas no Movimento Nacional para Libertação do Azawad (MNLA).
Em março daquele ano, militares reacionários comandados por Amadou Sanogo e vinculados à outros setores das classes dominantes do Mali que estavam insatisfeitos com a forma que o então presidente Amadou Touré estava lidando com a rebelião, realizaram um golpe de Estado a fim de aplastar as massas em rebelião. Em maio, Dioncounda Traoré assumiu como presidente interino, cargo que ocuparia até julho de 2013, quando novas eleições foram realizadas e deram lugar a Ibrahim Keita, representante da grande burguesia compradora e lacaio do imperialismo francês. Seu governo deu prosseguimento à opressão e exploração brutal do povo malês.
Em 2013, insatisfeito com o combate às forças de libertação nacional no Mali, o imperialismo francês desatou uma guerra de agressão contra o país sob o pretexto de “combate ao terrorismo”. Foi nesse período que o MNLA capitulou em sua luta armada, assumindo o papel de lacaios do imperialismo e passando a lutar contra a resistência nacional, principalmente grupos islâmicos. A “Operação Serval”, nome dado à guerra de agressão, foi continuada posteriormente sob o nome de “Operação Barkhane”, que está em voga até hoje e se expandiu para englobar, além do Mali, países como Chade, Burkina Faso, Mauritânia e Níger. Desde o início da operação, as forças de libertação nacional desenvolvem-se, aumentando suas fileiras e realizando mais ações armadas.
Assimi Goïta: títere do imperialismo russo
Milicianos do Grupo Wagner, grupo paramilitar do imperialismo russo, são usados no combate às forças de libertação nacional da África. Foto: AP
Em 2020, em meio a imensos protestos contrários ao governo de Ibrahim Keita, marcado por esquemas de corrupção e nepotismo, militares putschistas comandados por Assimi Goïta aproveitaram da crise institucional e política no país e do sentimento anti-Keïta das massas para realizar um golpe de Estado. Desde que assumiu, Goïta tem se afastado do imperialismo francês e se aproximado do imperialismo russo, principalmente por meio de acordos com o Grupo Wagner, organização paramilitar ligada ao Estado russo. A estratégia de Goïta é, em uma manobra oportunista para aparentar-se como nacionalista, se afastar do imperialismo francês, já desprezado pelas massas, mas manter o país como colônia, desta vez do imperialismo russo.
Em 2021, após os massivos protestos de 2020 contra o imperialismo francês e contínua atuação armada dos grupos de libertação nacional, o Estado imperialista francês anunciou que reduziria, a partir de 2022, suas tropas estacionadas no Mali. De fato, desde fevereiro, sob massivos protestos de comemoração, as bases militares do imperialismo francês têm sido desativadas e as tropas reacionárias têm retornado à França. Contudo, Goïta, como fiel bonifrate do imperialismo russo, tem substituído as tropas francesas por tropas da superpotência Rússia. Já em janeiro de 2022, após as tropas francesas abandonarem a base de Timbuktu, tropas russas preencheram o vazio. Até 14 de abril de 2022, o número de tropas russas associadas ao grupo Wagner no Mali estava em torno de 1.000. Entre janeiro e abril de 2022, as tropas russas e malianas foram responsáveis pela morte de aproximadamente 456 civis.
Cabe ao povo do Mali não se deixar enganar pela troca de amos imperialistas, como quer Goïta, e elevar sua luta de libertação nacional, principalmente sob bandeiras verdadeiramente revolucionárias. Como afirma a revista Internacional Comunista, no texto “Imperialismo e Golpe de Estado na África”: “as massas estão, da cabeça aos pés, até os ossos, até o coração, imbuídas de ódio ao imperialismo. Elas estão se lançando ao combate. Elas estão se apressando a colocar as mãos em armas para que possam fazer um inferno flamejante para os imperialistas e seus lacaios. O problema é que [...] assim como foi o caso no Afeganistão, a luta das massas está sendo travada sob bandeiras reacionárias. A justa luta das massas está sendo enganada e elas acabarão sendo traídas pelos reacionários, enquanto não tiver a liderança do Partido Comunista”.