Massas erguem barricadas em chamas contra regime militar e péssimas condições de vida no país. Foto: AFP
Manifestantes foram às ruas e ergueram barricadas em chamas em Conakry, capital de Guiné, no dia 28 de julho, para protestar contra o regime militar de Mamady Doumbouya e as miseráveis condições de vida no país. O protesto ocorreu mesmo com a proibição, imposta pelo velho Estado guineense, de qualquer tipo de manifestação popular. 12 policiais ficaram feridos como parte da resposta das massas à repressão desencadeada pelo velho Estado. Um manifestante foi assassinado pelas forças de repressão e dezenas ficaram feridos.
As ruas da cidade amanheceram com centenas de massas em rebelião e barricadas de pneus em chamas erguidas contra o regime militar de Doumbouya. As forças de repressão do velho Estado reprimiram os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de armas de fogo. Em resposta as massas arremessaram pedras, jogaram de volta as bombas de gás arremessadas pela polícia e ergueram novas barricadas com latas de lixo, paus e pedras.
Crise do capitalismo burocrático impõe miséria às massas
O protesto do dia 28/07 faz parte de uma crescente rebelião popular no país africano. A Guiné, país de condição semi-colonial, é um dos países mais pobres do mundo. Em 2018, em torno de 43,7% da população do país estava em condição miserável, abaixo da chamada linha da pobreza. Apesar disso, o país possui uma das maiores reservas de bauxita do mundo – mineral essencial para a produção de alumínio –, além de grandes reservas de ouro e de ferro.
Essas grandes reservas minerais do país foram secularmente saqueadas pelo imperialismo francês e, mais recentemente, pelo imperialismo chinês, que através do velho Estado burguês-latifundiário guineense, exporta as matérias-primas do país, impede o desenvolvimento da indústria nacional e endivida a nação a partir de empréstimos bilionários. Em 2017, a China concedeu um empréstimo de 20 bilhões de dólares em troca de concessões para exploração de bauxita. Em 2020, um consórcio de investidores chineses, singapurenses e franceses obteve uma concessão de 25 anos para exploração do mesmo mineral. Em torno de 14 empresas monopolistas chinesas, privadas e estatais, estão envolvidas em investimentos de bauxita na região. A única refinaria de bauxita no país também é de capital estrangeiro: é a Rusal, empresa monopolista russa.
Essa condição de semi-colônia impõe a mais profunda miséria às massas populares e beneficia o enriquecimento dos grandes monopólios imperialistas e da grande burguesia nativa. Contra essa miséria, as massas guineenses continuamente se levantam: em 2018, durante uma onda de protestos por aumento salarial para os professores, um policial foi aniquilado com uma pedrada na cabeça e diversas barricadas foram erguidas pela capital Conakry e diversas outras cidades importantes. O velho Estado guineense mobilizou milhares de tropas e tanques para reprimir as massas, deixando um rastro sanguinário de 11 manifestantes assassinados.
Em outubro de 2019, se iniciou uma nova onda de protestos contra a fome, a miséria e após o então presidente, Alpha Condé, anunciar uma mudança constitucional que o permitiria tentar um novo mandato presidencial. A incansável mobilização e combatividade das massas durou por mais de um ano, mesmo com a brutal repressão desencadeada pelo velho Estado (entre outubro de 2019 e julho de 2020, ao menos 50 pessoas foram assassinadas em protestos pelas forças de repressão).
Golpe militar aprofunda semi-colonialidade e repressão contra o povo
Em abril de 2021, aproveitando a instabilidade política no país e o profundo ódio das massas populares por Condé, o coronel Mamady Doumbouya liderou um golpe de Estado no país com o objetivo de reestruturar o velho Estado guineense, reimpulsionar o capitalismo burocrático e aplastrar a rebelião popular no país.
Tendo assumido com mansas e falsas promessas de combater a corrupção, diminuir a pobreza e acabar com a repressão contra as massas, Doumbouya já mostrou diversas vezes seu verdadeiro caráter: corrupto, lacaio do imperialismo e inimigo do povo.
Antes de realizar o golpe, Doumbouya havia trabalhado como mercenário para o imperialismo francês, tendo realizado missões imperialistas no Afeganistão, Costa do Marfim, Djibouti e República da África Central. O coronel reacionário voltou à Guiné em 2018, quando assumiu controle do Grupo de Forças Especiais, força de repressão que teve papel proeminente na repressão das massas durante os protestos contra o governo de Condé.
Após assumir, Doumbouya foi enfático ao afirmar que os negócios imperialistas no país não seriam afetados. O coronel afirmou que os portos seriam abertos para que as exportações de minérios pudessem continuar. O caráter subserviente de Doumbouya foi confirmado por um gerente da empresa monopolista russa Rusal, que afirmou à AFP que “tudo está estável, os negócios estão bem”.
O coronel reacionário tem, contudo, falhado na tarefa de aplastrar a rebelião popular no país. Apesar da covarde repressão desencadeada pelo velho Estado, com frequentes assassinatos de manifestantes durante protestos e proibição de manifestações, as massas seguem mobilizadas, frustrando cada plano reacionário de Mamady Doumbouya.
Em junho, após uma alta de 20% no preço dos combustíveis, protestos tomaram as ruas de Conakry contra a piora nas condições de vida das massas. O protesto foi considerado o maior desde que o coronel reacionário Mamady Doumbouya assumiu o velho Estado a partir de um golpe militar. Um manifestante foi morto pelas forças repressivas do velho Estado, desencadeando a fúria popular das massas, que respondeu à repressão com arremessos de pedras.
Já no dia 05/07, 17 policiais ficaram feridos após uma manifestação que ocorreu em Conakry. Além dos confrontos com as assassinas forças de repressão do país, as massas ergueram barricadas com latas de lixo e pneus em chamas.