PM tenta apagar as chamas de barricada que bloqueou acesso à comunidade em protesto pelo direito à terra.
Cerca de 180 famílias camponesas que ocupavam uma área localizada na rodovia AM 352 - que liga o município de Manacapuru a Novo Airão, no estado do Amazonas - resistiram a uma ação de reintegração de posse que beneficiou a empresa latifundiária Agropecuária Exata Ltda., citada na ação de fraude dos escândalos da Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia).
O despejo teve início dia 11 de janeiro com um ataque do Batalhão da Polícia Militar contra os camponeses, que responderam erguendo uma barricada de fogo e obstruindo a única ponte de acesso à área.
As famílias que vivem, trabalham e produzem há 15 anos na região haviam construído com muito suor mais de 80 casas, plantações, além de outras benfeitorias como sistema de abastecimento de água e luz. Tudo foi destruído no covarde ataque da polícia, respaldado pelo podre judiciário em prol do latifúndio.
A luta dos camponeses da Comunidade São Francisco pelo direito à terra se intensificou a partir de dezembro de 2017, quando uma vigorosa manifestação organizada pelos moradores obrigou as forças de repressão do velho Estado a suspender uma ação de despejo inicialmente programada para o dia 19 daquele mês.
Manifestação de camponeses impede reintegração de posse em dezembro de 2017
Jornalistas da rádio local que acompanharam a vil ação das forças policiais contra o povo trabalhador da região no dia 12/01 descreveram a situação que presenciaram:“Pais, mães, filhas e filhos pareciam não acreditar que tudo aquilo que foi construído a base de esforço, suor e economia estava sendo levado ao chão”
Os fatos comprovam cada vez mais que somente o caminho da luta camponesa combativa pode garantir ao povo a defesa e conquista dos seus direitos.
Conforme afirmou o professor Fausto Arruda em nossa edição de número 200: "Ao movimento camponês, que enfrentou a sabotagem da luta pela terra nos quase 14 anos de gerenciamento oportunista do PT/pecedobê e agora enfrenta a sanha devoradora de seu ex-aliado e sucessor, destinando as terras públicas ao latifúndio e implementando ações de despejo em massa, já passa da hora de transformar sua resistência defensiva contra a investida do latifúndio com seus capangas e dos órgãos de repressão do velho Estado burguês-latifundiário em resistência ativa em ondas para tomar todas as terras do latifúndio, potencializando a Revolução Agrária."
Escândalos da Sudam e a Exata
O nome da Agropecuária Exata Ltda. - beneficiária desse despejo que custou o lar de centenas de pessoas - é revelado em uma ação penal do Ministério Público do Amazonas que envolve o ex-governador e ex-prefeito Amazonino Mendes/PDT para apuração de fraudes no processo de aquisição do Frigorífico Santa Maria que teria recebido financiamento de R$ 33 milhões aprovado pela Sudam para a empresa Amazonas Ecopeixe S/A, em 1998.
Segundo informações apuradas pela Folha de São Paulo, a Ecopeixe - investigada como beneficiária no esquema de Geraldo Pinto da Silva, acusado de ser um dos maiores fraudadores da Sudam - é controlada pela Agroindustrial Exata.
Além disso, a agropecuária Exata Ltda. é de propriedade de Otavio Raman - dono do Grupo Raman Neves de Comunicação (Jornal Amazonas em Tempo e TV em Tempo) -, atual sócio de Suheil na Construtora Exata, à qual Amazonino associou-se, em 1990, por meio de um contrato de mútuo (empréstimo).