O ultrarreacionário candidato Republicano à presidência ianque, Donald Trump, foi alvo de uma suposta tentativa de assassinato no dia 15 de setembro enquanto jogava uma partida de golfe em um de seus próprios campos na Florida. Com o episódio, segundo deste tipo contra o candidato, a crise política no Estados Unidos se agrava, e aponta ao aumento da violência política no país.
Dessa vez, o atirador era um ex-apoiador de Trump. Ele conseguiu, de algum jeito misterioso e suspeito, entrar com um rifle de tipo AK no campo em que o candidato protegido pelo Serviço Secreto jogava golfe, se posicionar em um arbusto e disparar.
Os tiros não pegaram em Trump. O Serviço Secreto conseguiu encontrar o suspeito e atirou de volta. O atirador conseguiu se levantar, correr até um carro e fugir do local, mas acabou preso pela polícia. Ele foi identificado como Ryan Wesley Routh.
O xerife do condado de Palm Beach disse que o episódio provou que “o sistema pode funcionar”, porque o suspeito “não chegou a disparar” e “não tinha linha de visão para Trump”. Contudo, outras informações oficiais dão conta de que tiros foram sim disparados. E apesar da falta de visão, o suspeito estava próximo o suficiente de Trump para oferecer risco, configurando uma falha no serviço de segurança.
Serviço Secreto na mira
A extrema-direita tentou capitalizar quase imediatamente após o acontecimento. O presidente da Câmara dos Deputados do EUA, Mike Johnson (Republicano), criticou o Serviço Secreto e exigiu mais segurança a Trump. “Hoje, o presidente Trump precisa da maior cobertura de segurança de todos. Ele é o mais atacado”, declarou. “Nenhum líder na história americana suportou mais ataques e permaneceu tão forte e resiliente. Ele é imparável”, concluiu.
O Serviço Secreto já havia sido muito criticado em julho, quando Trump foi alvo da primeira suposta tentativa de assassinato. Depois do episódio, a organização aumentou a proteção a Trump e trocou a diretoria, substituindo a então diretora Kimberly Cheatle por Ronald Rowe.
A deputada nova-iorquina Elise Stefanik disse que Trump foi salvo por providência divina.
O próprio Trump enviou um e-mail para seus apoiadores com um link para arrecadação de fundos e a mensagem: “Nada vai me atrasa. Eu NUNCA VOU ME RENDER!”.
‘Democratas’ na defensiva
O cenário colocou Joseph Biden e Kamala Harris mais uma vez na defensiva. O presidente precisou admitir as falhas no próprio Serviço Secreto, que, segundo ele, “precisa de mais ajuda”.
Harris disse que ficou “profundamente perturbada pela possível tentativa de assassinato do ex-presidente Trump” e que condena a “violência política”.
Violenta crise política
Assim como no primeiro atentado (verdadeira patranha), a tendência é que a crise política aumente, tendo a violência política reacionária em seu núcleo.
Esse fenômeno está em espiral crescente no EUA há anos, fomentada pela própria crise da democracia burguesa. Trump é, ao mesmo tempo, um elemento sintomático e catalisador desse processo.
Nas últimas eleições de meio mandato, em 2022, juízes, candidatos e outros funcionários públicos foram ameaçados por todo o país. Em setembro daquele ano, uma juíza que investigava o caso de arquivos confidenciais encontrados na casa de Trump foi ameaçada por mensagens na caixa postal. No mês seguinte, um homem com um martelo invadiu a casa da reacionária Nancy Pelosi e agrediu o marido da política com o objeto.
Na época, 62% dos norte-americanos achavam que a violência política aumentaria nos próximos anos, segundo pesquisa do YouGov. E isso de fato aconteceu, de forma que não ocorria desde a Guerra Fria. Um resultado direto do próprio desenvolvimento da crise do imperialismo a nível internacional e da crise política interna no EUA.
O aumento dessa crise e da violência política, portanto, é uma das únicas certezas para os próximos dias e semanas no EUA, admitido até mesmo por analistas dos jornais monopolistas. Na CNN, o articulista Stephen Collison martelou que a “nova tentativa de assassinato de Trump tem consequências imprevisíveis”.
O New York Times reservou um espaço na primeira capa digital a um artigo intitulado Trump, ultraje e a face moderna da violência política. Nele, Trump é classificado simultaneamente como um alvo e uma inspiração da violência política no EUA.
À agência RFI, o historiador André Kaspi declarou que o cenário ficará “mais preocupante após o resultado das eleições”.