Os ataques e perseguições feitas pelo governo militar fascista de Bolsonaro e generais, governo das classes dominantes, não enfraqueceram o movimento quilombola brasileiro nestes últimos 4 anos, como era seu objetivo. Ao contrário: nestes grupos remanescentes de quilombolas seguiu-se honrando com orgulho o líder rebelde Zumbi dos Palmares, cuja memória é celebrada em novembro, mês recém terminado em que se comemora, no dia 20, o Dia do Povo Preto.
Leia também: Novembro Rebelde Negro (Parte 1): Quilombos se fortaleceram enfrentando o governo genocida de Bolsonaro e generais
Apesar de haver aproximadamente 5,9 mil “localidades quilombolas” no Brasil, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o ano de 2019 (este número deve subir no Censo 2022), apenas 404 são oficialmente reconhecidas pelo velho Estado de grandes burgueses e latifundiários.
No ano de 2020 só um território foi reconhecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o Quilombo Rio dos Macacos, no norte da Bahia.
Leia também: Os valentes quilombolas de Rio dos Macacos
A morosidade nos processos agrários do velho Estado beneficia diretamente a grilagem do latifúndio e permanência de áreas nas mãos destes chamados “senhores de terras”.
NEGROS ‘DAS ARROBAS’ DÃO O TROCO
Bolsonaro indignou o povo preto do Brasil ao dizer, em palestra no Clube Hebraica, pouco antes de virar presidente da República, que visitou um Quilombo na sua cidade, Eldorado (SP, Vale do Ribeira), e viu gente pesando “ 7 arrobas… não fazem nada, acho que nem para procriador serve mais”. Foi uma declaração classista-racista agressiva, pois como se sabe, a arroba é medida usada para pesar animais.
Ocorre que Bolsonaro mentiu. Os 88 quilombos presentes na região do Ribeira trabalham arduamente na produção camponesa e durante a pandemia de Covid, dando o troco às acusações fascistas, os remanescentes de quilombolas fizeram mais pelos moradores do Vale e do estado paulista do que o governo federal genocida.
Isso porque, segundo o portal O Eco, as roças daqueles quilombolas contribuíram para matar a fome nas periferias e favelas de São Paulo. Pois como houve o fechamento de tudo, as verduras, legumes e frutas produzidas na região ficaram sem destino e passaram a ser doados pelos quilombos às comunidades vulneráveis. Toneladas de alimentos beneficiaram cerca de 43 mil pessoas.
MATA ATLÂNTICA E SOBERANIA ALIMENTAR
A região ocupada pelos quilombolas do Ribeira abriga o maior remanescente preservado de Mata Atlântica do país, informa O Eco.
Conforme a agrônoma Fabiana Fagundes, assessora da Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira (Cooperquivale), “eles realizam práticas agrícolas ancestrais, mantendo a floresta conservada e garantindo a soberania alimentar”.
Essas práticas formaram o Sistema Agrícola Tradicional Quilombola do Vale do Ribeira, que foi reconhecido como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Pesquisas do Instituto Socioambiental (ISA) encontraram mais de 240 variedades de plantas manejadas nas roças e quintais destes quilombolas. A maioria é destinada à alimentação, mas também há espécies usadas para fins medicinais, construção de casas e confecção de artesanato.
Imagem em destaque: Quilombolas do Rio dos Macacos em 2020, quando conquistaram a titulação de suas terras com luta. Fonte: Banco de Dados AND