Os ataques e perseguições feitas pelo governo militar fascista de Bolsonaro e generais, governo das classes dominantes, não enfraqueceram o movimento quilombola brasileiro nestes últimos 4 anos, como era seu objetivo.
Ao contrário: nestes grupos remanescentes de quilombos seguiu-se honrando com orgulho o líder rebelde Zumbi dos Palmares, cuja memória é celebrada em novembro, mês em que se comemorou, no dia 20, o Dia do Povo Preto.
CAMARGO, O “FEITOR” PUNIDO
Sérgio de Camargo, o arrogante ex-presidente bolsonarista da Fundação Cultural Palmares, o preto que odeia pretos e é servil a brancos (ricos), como os antigos feitores de escravos, está correndo o risco de ir parar na cadeia. Ele não conseguiu o mínimo para se eleger deputado federal. E, sem essa imunidade parlamentar, terá que responder a uma pilha de processos judiciais que poderão levá-lo à prisão ou cobrar-lhe ressarcimentos milionários.
Dizendo coisas como “o Brasil tem um racismo nutella” e “a negrada daqui é vitimista”, tentou fazer o desmonte da Fundação.
Buscou extinguir setores, censurar conteúdos arquivados, perseguir e demitir funcionários, mas foi impedido de continuar por uma ação do Ministério Publico do Trabalho.
Além disso, desde fevereiro ele está sendo processado nas esferas criminal, civil e administrativa por culpar Moïse Kabagambe pela própria morte. O jovem congolês Moïse foi trucidado por quatro homens, no RJ, ao cobrar seu pagamento por serviços num quiosque de praia. Camargo disse que o caso “foi briga de quadrilhas” e que o rapaz foi “um vagabundo morto por vagabundos mais fortes”.
Leia também: Editorial semanal – Escravidão contemporânea
OS PAPÉIS PERDIDOS
A história do Quilombo dos Palmares há alguns anos veio ganhando nova cronologia e nova abordagem com a análise de fontes originais que estavam “perdidas”, informou a Agência Fapesp.
O material original, manuscrito, boa parte inédito, soma cartas, despachos de conselheiros do regente português, crônicas e até rascunhos, que foram encontrados em Portugal pela historiadora Silvia Hunold Lara, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), quando fazia uma pesquisa sobre trabalhadores do Brasil nos séculos XVII a XX.
Lara viu, em tais papéis, uma nova cronologia sobre Palmares: “Em geral, a historiografia periodizou a história palmarina a partir das guerras feitas contra eles. Procuro me concentrar na formação dos mocambos (assentamentos de escravos fugitivos) e entender como eles se organizavam em termos políticos e militares”, disse Lara à Agência.
“A década de 1670 é importante porque marca o reconhecimento por parte das autoridades portuguesas e coloniais desse sobado (estado africano) em Palmares. Os termos do acordo negociado em 1678 constituem a maior evidência disso”, falou.
Lembrou ela que em 1678 “o então rei dos Palmares (Gangazumba ou Ganazumba, tio de Zumbi) firmou um acordo de paz” com o governador português Pedro de Almeida, autoridade sobre um território que incluía os atuais Pernambuco,Paraíba, Alagoas e Rio Grande do Norte.
A CRÔNICA ANÔNIMA
Conforme Lara, um documento-chave para entender Palmares é uma crônica anônima, com data atribuída a 1678, escrita após o acordo de paz, quando Almeida volta a Portugal e mostra seus feitos às autoridades de lá.
“É uma crônica extensa, que faz uma história de Palmares, desde o seu início até 1678. Dá nome aos mocambos, descreve as relações entre os chefes militares (dos fugitivos pretos) e os chefes (civis) dos mocambos, conta as expedições (portuguesas) feitas e equipara a uma conquista militar a vitória (parcial) obtida em 1677 por uma expedição que destrói os mocambos e está na origem do acordo de paz”, disse.
Um ponto-chave, segundo a professora, é que essa crônica sempre havia sido lida pelos estudiosos a partir de uma publicação na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de 1859 – quase 200 anos após ser redigida.
“As pessoas não viram o original, que estava perdido nos arquivos. Quando você olha o original, pode ver que houve transcrições incorretas. Localizei uma quantidade grande de fontes ao redor desses documentos, muitas nunca publicadas.”
MAIS DE 10 MIL EM PALMARES
Os assentamentos de escravos fugitivos eram todos conhecidos na época como palmares, devido ao perfil botânico-ecológico regional. Mas segundo Lara, um deles em especial se consolidou durante o período holandês (1630 a 1654), formando uma rede que se tornou conhecida como Palmares, cujo núcleo ficava em Alagoas.
Diz ela que nove mocambos, conforme algumas fontes, chegaram a abrigar no total cerca de 11 mil pessoas. “Todo mundo diz Quilombo dos Palmares, mas a palavra ‘quilombo’ é empregada deslocadamente e é anacrônica para designar Palmares. A palavra empregada naquele período para designar ‘assentamentos de fugitivos’ é mocambo”, afirmou Lara.
ACAMPAMENTO DE GUERRA
Segundo ela, “kilombo” é uma palavra africana que significa “acampamento de guerra”, usada pelos grupos nômades guerreiros Imbangala, da África Central. A posição de outros estudiosos, porém, é diferente da exposta pela professora. É o caso de historiadores como Stuart Schwartz, da Universidade de Yale (USA). Eles consideram que a formação dos quilombos nas Américas esteve sim relacionada a esses acampamentos guerreiros, daí a origem do termo.
ERA UMA ARMADILHA
Após o tratado de paz, boa parte dos núcleos de Palmares, sob a chefia de Gangazumba, mudou-se para uma aldeia criada (pelos portugueses) especialmente para recebê-los. Lá eles foram considerados livres. O local ficava em Cucaú (hoje região de Rio Formoso, Pernambuco).
No entanto, aquilo não durou mais do que 2 anos.
Gangazumba foi assassinado e Cucaú destruída por tropas coloniais. As pessoas que lá moravam voltaram à humilhante condição de escravos.
ZUMBI REJEITA “PAZ” E SALVA QUILOMBO
Uma parte dos quilombolas, liderada pelo jovem Zumbi, adotou uma postura mais correta. Negou-se a aceitar o acordo e ficou aquartelada em Palmares. Graças a isso o líder salvou a vida de milhares de companheiros e a estrutura militar palmarina.
A decisão vitoriosa de Zumbi mostrou, mais uma vez na história dos povos, que a possibilidade de paz negociada entre opressores e oprimidos é uma ilusão.