Novos fatos do caso Marielle reforçam indícios de envolvimento da extrema-direita

Na manhã desta segunda-feira, 24 de julho, o ex-bombeiro Maxwell Simões foi preso durante uma operação da Polícia Federal no curso das investigações do covarde assassinato da ex-veredora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018.

Novos fatos do caso Marielle reforçam indícios de envolvimento da extrema-direita

Na manhã desta segunda-feira, 24 de julho, o ex-bombeiro Maxwell Simões foi preso durante uma operação da Polícia Federal no curso das investigações do covarde assassinato da ex-veredora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018.

Na manhã desta segunda-feira, 24 de julho, o ex-bombeiro Maxwell Simões foi preso durante uma operação da Polícia Federal no curso das investigações do covarde assassinato da veredora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018. A prisão de Maxwell ocorreu após a delação premiada do ex-sargento da PM Élcio de Queiroz, preso desde março de 2019. Essas novas revelações comprovam que os generais não se interessaram pela investigação do caso, ocorrido durante intervenção militar que teve Braga Netto à frente.

Maxwell Simões, segundo as investigações, teria monitorado e vigiado a vereadora Marielle Franco ainda em 2017, meses antes de seu assassinato, além de fornecer apoio logístico. Após a prisão de Queiroz e Ronnie Lessa, em 13 de março de 2019, Simões teria ajudado a ocultar as armas de fogo utilizadas na execução que estavam em um apartamento no bairro de Pechincha, zona oeste do Rio de Janeiro. Além disso, ele é apontado como responsável por eliminar rastros do carro utilizado por Lessa e Queiroz. Maxwell Simões já havia sido detido em 2020 acusado de ocultar provas e obstruir propositalmente as investigações sobre a morte de Marielle e Anderson. A priori, Maxwell teria sido escalado para ser o motorista, no lugar de Élcio de Queiroz, no dia do assassinato. 

Em sua delação premiada, Élcio de Queiroz admitiu o crime e deu detalhes sobre a participação de Ronnie Lessa e outros integrantes do sinistro plano de execução da vereadora. Dentre as coisas que revelou, Queiroz admitiu que a arma utilizada por Ronnie Lessa na noite do crime foi desviada do Bope após um incêndio e que foi realizada uma tentativa de executar Marielle ainda no final de 2017.

A execução de Marielle Franco ocorreu num momento particular em que o Rio de Janeiro passava por uma intervenção militar (“Garantia de Lei e da Ordem”) comandada pelo general Braga Netto. Passemos brevemente em revista o histórico dos principais envolvidos – sabidos até então. Ronnie Lessa, membro da Scuderie Le Cocq (grupo de extermínio anticomunista fundado nos anos 1960 no RJ), ex-vizinho de Jair Bolsonaro e ex-parceiro do paramilitar Adriano da Nóbrega, apontado como chefe do grupo de extermínio do “Escritório do Crime”, também apontado como participante do crime contra a vereadora, morto em fevereiro de 2020. Ronnie Lessa, por sua vez, era chefe de bandos paramilitares de Rio das Pedras, zona oeste do Rio de Janeiro, onde o amigo pessoal e ex-assessor da família Bolsonaro Fabrício de Queiroz ficou foragido em 2018. Além disso, em 2019, foram encontrados 117 fuzis na casa de Ronnie Lessa. Élcio de Queiroz, segundo as investigações, interfonou para Bolsonaro e se encontrou com Ronnie Lessa ao mesmo tempo no dia da execução de Marielle. Além de todas essas evidências, há flagrantes casos de queima de arquivo com assassinatos de possíveis participantes do caso. 

O crime, ocorrido durante a intervenção militar, foi a comprovação da crise geral do sistema político, pois a execução, por motivo político, está há anos impune e não solucionado. Os generais, a propósito, têm responsabilidade nisso. Afinal, se fosse do interesse destes, o próprio Braga Netto faria pressão para a investigação célere e punição dos envolvidos, não só quando estava à frente da intervenção, mas também no período em que foi ministro-chefe da Casa Civil e ministro da Defesa do governo genocida de Jair Bolsonaro.

Chamou a atenção dos que acompanham o caso, o fato do ex-capitão do Exército reacionário, Ailton de Barros, preso no curso da Operação “Venire” da Polícia Federal que investiga fraudes nos dados de vacinação do Ministério da Saúde, ter afirmado em mensagens trocadas com o coronel da reserva Élcio Franco Filho, ex-braço direito de Pazuello e Mauro Cid, sobre a possibilidade do ex-comandante do exército, general Freire Gomes, assumir a liderança do golpe de estado que orquestraram. Barros – apresentado publicamente, em campanha eleitoral para deputado estadual, como o “01 de Bolsonaro” solicitou a Mauro Cid um visto para Marcelo Siciliano, ex-vereador acusado de chefiar “milícias” de extrema-direita e também investigado pela morte de Marielle Franco. Além disso, Ailton Barros afirmou “saber tudo” sobre quem mandou matar Marielle. Em depoimento, no entanto, Ailton não disse uma palavra sequer sobre quem seria o mandante do crime. Quem estaria ele tentando proteger? 

O curso das investigações e a delação premiada de Queiroz confirmam aquilo que já temos analisado sobre a execução covarde de Marielle Franco e a quem ela serve. A crescente atuação de grupos paramilitares de extrema-direita encontra respaldo ideológico e político no anticomunismo desenfreado estimulado pelas Forças Armadas reacionárias e nas estruturas deste velho Estado que permite que atuem por dentro e por fora, se utilizando da violência reacionária para se impor. O assassinato de Marielle se soma às ações brutais que tais grupos engendram e como parte da política reacionária do velho Estado de extermínio massas por vias “não-oficiais” e que corrobora para a manutenção desta velha ordem de opressão e repressão.

Após tantos anos do caso, fica claro não somente quais eram os interesses por trás do assassinato brutal da ex-vereadora, mas também os limites e a falência do caminho parlamentar. Após a execução de Marielle, dezenas de políticos de partidos da “esquerda” oportunista foram eleitos para cargos parlamentares; o que mudou no País? Segue crescendo o assassinato de jovens pretos: agentes de segurança mataram 358 jovens entre 12 e 17 anos em 2022 – equivalente a um jovem por dia. A falência deste caminho é patente e nada pode alterá-lo.

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