A Rede de Blogs Comunistas, portal inglês, a fim de contribuir para a divulgação da Guerra Popular na Índia, traduziu um artigo reportado pelo Comitê de Apoio à Guerra Popular da Índia, descrevendo a estrutura de um acampamento maoista, localizado nas florestas de Jharkhand. A notícia foi veiculada em 10 de dezembro, pelo blog internacionalista Dazibao Rojo.
Cada vez mais intelectuais e acadêmicos indianos vêm tomando conhecimento sobre a guerra popular em curso no país. O gerenciamento de Modi, entretanto, têm revelado seu lado mais reacionário, perseguindo politicamente toda manifestação de oposição política e de denúncia aos ataques perpetrados por ele aos direitos democráticos do povo.
Um professor de Antropologia chamado Alpa Shar, acompanhado de membros do Exército Guerrilheiro Popular de Libertação (EGPL), hospedou-se por sete noites, há mais de 250 quilômetros de Bihar e Jharkhand, para acompanhar de perto o que há em um acampamento maoista.
Na sua chegada, seis combatentes maoistas foram recepcioná-lo, segundo ele relata no livro Nightmarch: Uma viagem às Terras do Coração da Índia. Todos os revolucionários estavam vestindo uniforme verde oliva, padrão do EGPL, com um fuzil no ombro, em alinhamento militar e extremamente disciplinados.
Eles partiram por uma estrada, que formadas por arbustos, vai estabelecendo uma conexão entre as diversas tendas maoistas que existiam. Cada tenda existente abriga distintos departamentos do Exército guerrilheiro: há tenda médica, de alfaiataria e uma sala de informática, de estrutura simples, cujos computadores são ligados a uma bateria de trator.
Existe também a sala para as reuniões centrais, ornamentada com cortina vermelha e amarela com um telhado verde. O local tem capacidade para 100 pessoas. Como parte da ornamentação, são ostentados ao alto cinco fotografias dos titãs do proletariado internacional em preto e branco, emolduradas: Marx, Engels, Lenin, Stalin e Mao Tsetung. Abaixo deles, há também as fotos de Charu Majumdar e Kanhai Chatterjee, dois líderes maoistas da década de 1960.
O EGPL também conta com um amplo espaço para a realização diária de suas atividades físicas e militares.
A cozinha é organizada de modo exemplar, relata Alpa Shar. Os sacos de arroz e lentilha são empilhados um sobre o outro, formando paredes de demarcação. A água potável é fornecida através de um poço cavado pelos próprios guerrilheiros. Homens e mulheres participam ativamente no provimento da alimentação.
A cada cinco anos é realizada a reunião da Conferência do Comitê Estadual a nível maoista, que reúne guerrilheiros dos distritos de Uttar Pradesh e Bihar. Segundo o professor, cerca de 400 membros do EGPL estavam reunidos. As reuniões são realizadas simultaneamente em todo o país em regiões como Jharkhand, florestas centrais da Índia, em Chhattisgarh, Bengala Ocidental, Andhra Pradesh e Orissa. Nesse evento é realizado um balanço das atividades políticas realizadas nos anos anteriores, além de debater soluções para problemas encontrados e perspectivas para a luta, sob o uso da votação e do centralismo democrático.
Na conferência é realizada a crítica e autocrítica, confissões públicas e denúncias de erros cometidos por cada combatente, como uma forma de aprendizagem. Nestes momentos, os maoistas buscam fortalecer a coesão e a disciplina do Exército. Além disso, no espaço é promovido quadros maoistas que recebem treinamento político e militar. A conferência é um local de reconstrução do senso coletivo e compromisso com a causa revolucionária.
Em comunidade, os guerrilheiros não adotam os nomes das castas, como parte da velha cultura semifeudal indiana. Em resistência à sociedade indiana tradicionalmente dividida, cada indivíduo se torna um companheiro, nascido com um novo nome, despido das diferenças materiais existentes entre as castas.
As pessoas, em geral camponeses pobres ou membros dos povos tribais, adentram à guerrilha sem nada e recebem o necessário para a sua existência para servir à revolução: um uniforme do EGPL e uma série de roupas simples, um cobertor, um lençol, uma mochila e uma barra de sabão. Até mesmo a divisão do trabalho de acordo com as hierarquias de casta, classe e gênero existentes no mundo externo foi, entre eles, erradicada.